Quem aí já se pegou olhando admirado um desenho, pela internet afora mesmo, e ficou deveras entusiasmado quando descobriu que era um brasileiro por trás de todas aquelas linhas coloridas?…
(meia hora depois)
…É, bom, quando pensamos em ‘arte de jogos’, é muito provável que instantaneamente venha nomes como Ayami Kojima (Castlevania) ou até Akira Toriyama (Dragon Quest/Chrono Trigger) na cabeça, mas normalmente não estamos tão preocupados em saber quem desenvolveu aqueles desenhos que aparecem nos bônus em Uncharted e que deram origem a todas as fases. Sequer passa pela cabeça que algumas das pessoas envolvidas no processo são brasileiras.
Sabemos que há muitos artistas fodas por aí, mas normalmente estamos mais interessados em apenas olhar a arte e passar para a próxima. E nisso perdemos a chance de reconhecer o trabalho de muita gente daqui, nossos conterrâneos, com todo aquele gingado e malemolência que só os brasileiros têm, e que só estão esperando um pouquinho de atenção para que o dia deles seja muito mais feliz.
Mas nada temam, meu trabalho é justamente esse: mostrar que a galera daqui manja. E muito.
Então, meus amigos, meu nome é Shana e estarei, semanalmente, introduzindo a vocês alguns dos nossos da Vincis degustadores de caipirinha e coxinhas aqui, na minha mais nova coluna: a ARTESFODA BR! (aplausos)
E é com muita satisfação que eu introduzo nosso primeiro convidado, que é nada mais, nada menos, que uma das grandes artistas do Studio MiniBoss: Raquel Oliveira (quem?), mais conhecida como Amora (ahhh!).
Amora está atualmente com 24 anos, e, além de trabalhar no MiniBoss, é desenhista freelancer. Largou a faculdade de Design em 2007 e hoje se dedica à ilustração.
Começou a desenhar ainda pequena, e, com o incentivo dos pais, que também são artistas (músicos), começou a levar mais a sério. Nós ilustradores sabemos o quão importante é esse incentivo!
Fora desenhar, o que mais gostava de fazer na infância era jogar Super Nintendo com seu irmão, e começou a jogar por causa de seu pai, que curtia um Master System e Prince of Persia de SNES. Resolveu se aventurar no controle aos 6 anos, estreando com Super Mario World e Aladdin, e, como toda boa criança, alugava diversos jogos diferentes toda semana, ficando como preferido o famigerado e divisor de águas Ocarina Of Time.
A idéia de começar um estúdio veio de uma brincadeira, com contribuição massiva de seu noivo, Santo, e a descoberta do programa Construct em um evento de Curitiba. Com isso, começaram a rascunhar seu primeiro jogo, o Six Feet Over, e, como queriam sair mostrando pra galera mais próxima, criaram um blog e jogaram tudo lá, e se autodenominaram MiniBoss. Olha no que deu.
O estúdio acabou de finalizar seu projeto mais novo, o Out There Somewhere (que eu atrapalhei a produção mandando essas perguntas idiotas pra ela, malz ae galera), e já ganhou prêmios com o jogo Talbot’s Odyssey – primeiro lugar no concurso de e-Games do Senac-SP em 2010 e primeiro lugar no Festival de Jogos Independentes da SBGames (juri técnico na categoria PC) e melhor jogo indie no Game Music Brasil em 2011.
Amora é uma brother indie e sabe bem como é difícil a vida de um, mas diz que a melhor sensação que isso trouxe até hoje foi de realização pessoal.
“A gente é ferrado, tenta sobreviver de freela, nunca ganha dinheiro pelos nossos jogos, mas a felicidade de finalmente fazer o que eu sempre quis é maior que tudo. O apoio que a gente recebe também traz uma sensação muito boa, o fato das pessoas gostarem do nosso trabalho é uma das coisas que mais fazem a gente querer continuar.”
Mas e a galera que tá começando agora? Como faz?
“É difícil mesmo, viu? Pode ser que um emprego muito legal na área de jogos caia no seu colo e, ainda assim, você não se sinta realizado. O lance é fazer em casa mesmo, com quem você confia, fazer o que você curte. Se você se ouvir dando desculpas do tipo ‘mas leva muito tempo’ ou ‘eu preciso de mais disciplina pra conseguir fazer isso’ então muito provavelmente não gosta de verdade do que você diz que quer fazer. Se você chega cansado em casa e vai desenhar/programar/tocar um instrumento (afinal isso serve pra qualquer área, não só jogos) sem nem lembrar que isso é uma coisa que pessoas normais não fazem, você tá no caminho certo.”
É, galera. Vida de brother indie é tensa. Ainda mais quando sabemos que são mais reconhecidos lá fora do que aqui. Claro que é necessário mais divulgação, mas pense bem: normalmente os artistas menos conhecidos continuam desconhecidos porque ninguém se importa com o artista em si, apenas com o trabalho final dele, e normalmente nem é com o trabalho todo. Pense em quantos Bioshocks ou Mario Galaxies sairiam se não existissem os concept artists que ninguém lembra o nome. Quem sabe não podemos mudar essa realidade pelo menos aqui no Brasil, dando mais valor para os talentos que temos?
Se você não sabe por onde começar, pode deixar que nós iremos atrás de todos aqui no ARTESFODA BR. Curtam aí a galeria com os outros desenhos da Amora e até a semana que vem!
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