NEW AGE RETRO GAMER #9: Wonder Boy in Monster World

Quando eu recebi o jogo Turma da Mônica na Terra dos Monstros no natal de 1994, não tive muita certeza de como reagir. As histórias de Mauricio de Sousa constituiram uma puta parte da minha infância, mas eu imediamtanete questionei sobre a qualidade deste: “como é que um jogo sobre a Mônica pode fazer ALGUM sentido?” Para a minha sorte, o jogo não era um programa original, e sim uma versão legalmente modificada pela Tectoy de um jogo chamando Wonder Boy in Monster World. E assim foi a minha primeira experiência com um RPG: em português, sem acentos ortográficos, e, sei lá por que raios, com o Cebolinha me ensinando a tocar melodias em uma ocarina.

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O cara sabe tocar flauta, mas não consegue falar um mísero “R”?

Wonder Boy in Monster World (Filho Maravilha no Mundo Monstruoso) é um jogo de Mega Drive desenvolvido pela Westone e publicado em 1991 pela Sega. Nele, Shion resolve salvar o Monster World das ~forças do mal~ do melhor jeito que um herói dos 16-bit consegue pensar: metendo o pau em tudo quanto é monstro que aparece na frente dele, e talvez trazendo metade das espécies do planeta à extinção.

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“Matou, picou e fez estrogonofe”: Magali, a bulímica, conta como usurpou o trono da princesa Purapril

Já a nossa versão tupiniquim, Turma da Mônica na Terra dos Monstros (Monica’s Gang in the Monsters’ Earth), lançado três anos depois, é praticamente a mesma coisa: a diferença é que nele você controla a MÔNICA e no lugar de uma espada você carrega um COELHO e seu objetivo é salvar o (HAHAHA) PAÍS DA FANTASIA. O Cebolinha mora numa vila cheia de FADAS, a Magali é uma porra duma PRINCESA de um CASTELO, ninguém sabe onde o Cascão foi parar e o Bidu tem a desagradável mania de CAGAR MOEDAS de vez em quando. Quanto menos você pensar nisso, melhor.

Muito antes de Castlevania imitar Metroid e inexplicavemente enfiar metade de seu nome em um pseudogênero, a Westone já botava o pé neste inóspito território. A série originou em 1987 com muitos dos aspectos como equipamentos e segredos já presentes, sendo que isso era em um Arcade! (O personagem começava tão nu de poderes – literalmente – que ele não trajava nada além de uma FRALDA.) O terceiro game da série, Wonder Mônica in Monster dos Monstros, é um Action-Adventure-Plataforma-Sidescrolling-Metroidvania-RPG, ou seja: é tudo aquilo que você queria que Zelda 2 fosse. O mundo segue devidamente o design Metroidesco e todas as vilas, locais e calabouços do jogo estão interligados por atalhos e possui estímulos para backtracking.

Esse é o primeiro baú que você vê, mas você só vai poder pegá-lo apos umas boas horas de jogo

Shiônica começa a aventura dentro de sua casinha situada no canto mais absolutamente inútil do mapa, fazendo esquina com a Avenida Porra Nenhuma. Como é de praxe, você não tem um só centavo no bolso e possui apenas uma arma xexelenta; que nem daquela vez que o seu pai te expulsou de casa aos 28 anos por só ficar jogando Pokémon no emulador do PC o dia inteiro. Após aniliquar cruelmente os monstros e extorquir as verdinhas dele, Mônion pode economizar uma graninha pra comprar novas armas, equipamentos que melhorem sua resistência (sabe, quando você coloca por essa perspectiva, o começo de um RPG parece muito com uma emancipação), ou então itens que dão poderes essenciais para a progressão do jogo, como submergir na água ou aguentar o calor do deserto. Explorar os novos cantos do mundo do jogo te permite encontrar baús secretos que aumentam o seu HP, te dão equipamentos raros ou magias devastadoras que atacam todos os inimigos da tela.

Videozin pra galera

Os cenários do mundo são todos interligados, e a cidade principal é o Castelo Purapril (Castelo “Cor-de-Rosa” na versão brazuca…). Vários dos cenários diferentes do jogo, tais como praias, desertos, pãntanos e até o céu estão à curta distância do mundo central, mas todo o design é tão bom que é capaz de você nem perceber isso. Grande parte desses cenários hostis acaba levando a pequenos vilarejos, onde você encontra um povo com algum problema e uma calabouço para explorar. Após dar conta na treta, você vai voltar com um item que vai te dar acesso a uma nova área antes inacessível. O jogo é muito bem planejado e a exploração não torna seu caminho muito linear ou objetivo, problema um tanto mais proeminente em Dragon’s Trap e principalmente Monster World IV.

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FICA A DICA: Para matar o Myconid, bata nele até ele morrer

A apresentação visual do game é muito bonita, estética comum a todos os jogos da série Wonder Boy. Personagens e inimigos são desenhados em um estilo meio “anime japonês” com sprites grandes e coloridos. Uma das coisas mais legais da série é que ela sempre traz de volta vários designs, chefes e até cenários, no mesmo estilo que torna tão icônicas séries mais pimposas como Zelda ou Dragon Quest. É muito legal você ver um mesmo inimigo ser redesenhado a cada nova iteração – isso traz um senso de familiaridade enorme para quem já tinha jogado outros títulos da série, e mostra que mesmo não sendo tão popular, os criadores tinham um apreço por aquele mundo e a arte que haviam criado. Ironicamente, Terra dos Monstros tem um visual 95% idêntico ao do game original, salvo os (poucos) elementos que foram modificados para acomodar a presença da Turma. Toda essa similaridade leva a algumas contradições bem cretinas, como a ausência de distinções entre espadas e lanças (todos viraram coelhos idênticos) e o fato da Mônica comprar BOTAS para andar mais rápido enquanto o seu sprite mostra uma gorducha dentuça eternamente DESCALÇA.

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Baixinha, gorducha, dentuça, e com sprites estourados

Por mais que esse corta e recorta de sprites e personagens pareça um daqueles trambiques bem canarinhos, verdade é que essa não foi a única versão modificada do jogo. Graças a um acordo de Copyrights completamente fumado entra a Sega e Westone, vários dos  jogos que a Westone programava podiam sair para outros sistemas contanto que tivessem nomes ou gráficos modificados. No caso desse aqui, além da Mônica, o jogo também foi lançado com leves modificações para o PC Engine sob o nome de The Dynastic Hero. Se você realmente quiser saber melhor sobre a CONFUSÍSSIMA história das localizações e nomenclaturas da série Wonder Boy, dá uma olhada nesse link.

Em “O Herói Dinástico”, você controla um cara que faz cosplay de Heracross

Turma do Shion no Wonder das Mônica é um action-adventure-et cetera bem competente, com um mundo muito bem designado e vários segredos a se descobrir. Os poderes que abrem novos caminhos renovam áreas que já foram visitadas e recompensam a exploração. O jogo é curtinho, bacanudo, e considerando a dificuldade média do estilo, razoavelmente fácil… ao menos até o último chefe. O desafio final teve sua dificuldade aumentada na versão ocidental – BEM aumentada. Digamos apenas que levou um tempinho desde a primeira vez que cheguei no último chefe até o momento que consegui derrotá-lo… coisa pouca, uma décadazinha, só. Mas não deixe isso te desistimular; o resto do jogo é fácil até demais.

CHEFESFODA. Pense num jogo colorido

Dentre a semana que escrevi esse review e o dia que ele foi publicado, recebi a excelente notícia que a série vai receber uma coletânea para XBLA, o que eu acho excelente nessa época onde revivals e jogos retrô estão com tudo. Com sorte isso pode até vir a trazer um interesse sobre um novo jogo para portáteis ou sistemas de download no futuro. Independente de você resolver esperar pela coletânea ou não, Wonder da Mônica in Monster Boy é uma garantia de bom design e boa diversão, qualquer seja a versão que você escolha. Para um jogo de 21 anos atrás (!), sua estrutura e progressão aguenta surpreendentemente bem – melhor até que alguns jogos do estilo lançados nos últimos anos, eu diria. Até mesmo pra quem não é muito da onda retrô, esse é um game que merece ser jogado.

Se você é um daqueles GAMESFODA que não cansa de terminar os Super Metroid ou Symphony of the Night da vida mas vive se perguntando onde estão os outros jogos do estilo, agora já conhece uma ótima alternativa. Welcome to Monster World!

Inception

– Wonder Boy in Monster World está disponível para o Mega Drive,  Wii Virtual Console, e na futura coletânea Monster World Collection para Xbox Live Arcade.
– The Dynastic Hero, do Turbografx-16, também está no Virtual Console.
– Mônica na Terra dos Monstros nunca foi relançado, nem pro Zeebo. Mancada. ):

Sobre

Rodrigo "Rod" é de Salvador, Bahia. Estuda psicologia, finge ser escritor, e acha que entende alguma coisa sobre game design.

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