ARTESFODA BR #7 – Douglas Feer, o defensor dos incomparáveis

05/04/2012 – 17:36

por Shana

Não é difícil achar que a grama do vizinho é mais verde, que o céu de outro país é mais azul ou que Burger King é melhor que Subway. É natural haver comparações… ainda mais quando o assunto é você mesmo.

O que acaba sendo negligenciado muitas vezes é que tudo depende do quão motivado você está para batalhar pelo que quer, sem querer ser melhor do que ninguém, apenas você mesmo – e sendo bom nisso.

E é com essa puxada de orelha que apresento o convidado da semana: Douglas Feer.

Douglas juntamente do amor de sua vida

Douglas tem 21 anos, mora na capital de São Paulo e está no último ano de graduação em Design Digital. Trabalha como ilustrador freelancer e colorista.

Começou a desenhar quando bem novo, mesmo antes de saber escrever, por isso gostava de copiar as figuras que via. Sendo mais um órfão da Manchete, foi muito influenciado por ela e pelos Super Sentais, época em que sua criatividade aflorou e acabou upando para o level 2: com isso vieram os amiguinhos na escola pedindo para desenhar o Goku no caderno.

Foi nessa mesma época que descobriu que era esse o caminho que queria seguir. Ganhava todos os concursos da categoria desenho no Festival de Artes que ocorria em sua escola; também recebeu um ovo de páscoa de 6kg (!!!) por ganhar um concurso de ilustração de um mascote para um supermercado. A partir daí, achou que poderia ganhar alguma coisa se seguisse na ilustração. Por haver uma certa carência tecnológica (o fato de não ter computador e ter apenas um SNES), acabava preenchendo os dias lendo e desenhando.

Seu primeiro contato com videogame foi ainda muito novo, quando o fliper ainda bombava, mas como não tinha condições de ter um console em casa, acabou ficando só no desenho por um bom tempo. Até ganhar um Super Nintendo, já na época do PSOne, onde tinha apenas 2 fitas, Super Mario World e Ghoul Patrol (continuação de Zombies Ate my Neighbors). Ainda bem que o tio também acabou ficando fã, porque ele foi o responsável por levar fitas novas sempre que o visitava. As melhores, em sua opinião, foram Top Gear e International Superstar Soccer (Alleeeeeeeejo!!).

Sua franquia preferida (já que não dá pra escolher só um jogo em especial) é Donkey Kong. Começou com DKC2 e, como a fita não tinha bateria interna, se alongava para fazer maratonas com sua irmã e um amigo e zerar em um dia. Apesar de que às vezes a luz acabava e precisavam começar tudo de novo. Também é muito fã de Final Fantasy III, que foi como começou a aprender inglês, já que jogava com um dicionário do lado. E vocês aí reclamando que Rayman Origins é difícil!

sua linda

Ficou com seu SNES até 2008, quando conseguiu comprar um PS2 com seu próprio dinheiro… também já uma geração atrasado. Por causa da impossibilidade de acompanhar os lançamentos de console novos, acabou se apegando aos retrôs, principalmente ao seu querido Super Nintendo, sem se importar muito em se atualizar com as novas gerações.

Por volta dos 15 anos era lei chegar em casa e desenhar enquanto assistia As Aventuras de Tintin, que se tornou uma de suas principais influências. Assim como Yoshihiro Togashi (Yu Yu Hakusho), por passar as tardes juntinho com a Manchete. Além dele, ainda cita, na mesma linha oriental, Akira Toriyama (Dragon Ball e Dragon Quest), CLAMP (Rayearth, Tokyo Babylon e Chobits) e Yoshitaka Amano. Já na linha cartoon/comics, Hergé (Tintin), como já citado, John Buscema, Jim Lee e Mike Mignola.

Os jogos acabam influenciando em seu processo criativo ao ler sobre eles ou jogar: como Super Mario World com seu mundo colorido; ou Shadow of the Colossus e seu clima épico; ou então Final Fantasy e suas armas e roupas estilizadas.

Ou Portal com suas inteligências artificiais sádicas e sarcásticas

Mas o que acha mais interessante é ir atrás dos concept e artbooks, o que nos leva a uma velha conhecida discussão já citada (e muito) nessa coluna: o fato de haver um grande processo criativo e artístico por trás dos jogos.

“Muitas pessoas reparam apenas na jogabilidade ou nos gráficos de um jogo, mas por trás de tudo isso, existem verdadeiros artistas: ilustradores, roteiristas e compositores, e isso é uma inspiração que vai além da tela, e acaba chegando ao papel na hora de desenhar.”

Douglas ainda não trabalhou em nenhum jogo, mas pretende fazer alguma especialização em character e concept design. Apesar disso, começou um projeto de beat’em up (bate neles pra cima) chamado Nerds vs Zombies, que acabou sendo engavetado por conta da falta de tempo. Apesar disso, a idéia acabou dando nome ao seu blog.

Uma peleja travada

Para ele, o mais importante é gostar de desenhar. E muito. Independente de “dom”, se não houver a vontade de trabalhar com isso, não haverá evolução. Querer aprender também é outra coisa muito importante.

“Ninguém é bom em desenhar de tudo, sempre há um pouco de dificuldade em algo, então o ideal é trabalhar em cima disso e buscar aprender, fazer um curso, pedir dicas de quem sabe mais, estudar, enfim, sair da zona de conforto. É difícil sim, tudo é, mas se você gosta, nem vai parecer tão difícil assim.

O ilustrador Hiro Kawahara disse uma vez algo que eu tenho levado muito em conta: ‘Você não precisa ser um grande ilustrador/desenhista para ser um ilustrador/desenhista’. E realmente. Muita gente quando está começando a desenhar vê alguma arte incrivelmente perfeita em uma galeria do DeviantArt e pensa ‘nossa, eu nunca vou conseguir chegar nesse nível’, aí acabam desistindo e partindo pra outra área. Você não precisa ser igual àquele artista asiático que desenha um rosto perfeitamente igual ao original em apenas 5 minutos, e nem precisa ser o rei da pintura digital também.

O mais importante é se respeitar, reconhecer os próprios limites e querer ser melhor, mas não igual aos outros.Um artista que desenha tirinhas para um jornal, e outro que faz ilustrações super realistas em uma mesa digitalizadora são ambos artistas, um não é melhor que o outro, acho importante lembrar sempre disso.”

Além disso, também acha que a criatividade anda sendo pouco estimulada nas escolas. A fase da infância é onde a criatividade é melhor desenvolvida, e, na pré-escola, dão um lápis e uma folha em branco. Mas, ao chegar na escola de fato, o professor dá um desenho pronto onde só precisa ser pintado, e isso acaba afetando em muito o estímulo à criatividade da criança, que acaba amadurecendo e encontrando maiores dificuldades em desenvolvê-la.

Mesmo assim todo mundo quer ser piloto quando criança

Sua maior dificuldade foi encontrar algum incentivo direto. Seus pais nunca foram contra, mas, quando o assunto acabou se tornando sério a ponto de querer trabalhar com ilustração, os olhares mudaram. Gostaria de ter feito cursos de ilustração, mas acabou fazendo administração, manutenção de hardware, e agora, faculdade de Design Digital, pois teoricamente isso dá alguma profissão de futuro (ou seja, com emprego garantido). Escolheu esse ramo pois achava que estaria indiretamente ligado com o desenho, porém o tempo que tinha para desenhar acabou quase sumindo.

Apesar de não se arrepender de ter começado a faculdade (foi por causa dela que adquiriu uma pen tablet e voltou a desenhar mesmo que pouco), o design ficará como plano B, pois, assim que terminá-la, quer se dedicar de corpo e alma ao que ele mais gosta e provar que desenho é realmente algo a ser levado a sério.

E procura passar uma mensagem importante para quem vê seus desenhos:

“No geral, gosto que as pessoas olhem meus desenhos e não fiquem chocadas com o quão perfeito ele é, mas de quão agradável ele é para os olhos, e quanto sentimento ele pode passar. Acho que é tudo uma questão de estilo: Esse é o meu, e espero que todos gostem, e também espero melhorar nos pontos que sou mais fraco, sempre aceitando as críticas de quem sabe mais e tem mais experiência, e tentando passar o que sei pra quem está começando também, afinal, muitas vezes desenho não é uma questão de quem conhece mais e quem conhece menos, e sim de conhecimentos diferentes.”

Tipo o Magneto que é ultra fodão na única coisa que ele faz

Então, sabemos que a competitividade é inerente, principalmente quando queremos deixar uma marca no mundo; porém não adianta ficar se comparando com algo que não é o seu forte. Faça valer seu esforço, e, principalmente, a sua personalidade.

E é isso aí, galera. Pra achar o Douglas é só floodar a timeline dele no twitter, ou dar uma olhada no portfolio ou blog pessoal. Ah! E não esqueçam do Nerds Vs Zombies!

 

Shana Ximenes começou a desenhar ainda nos tempos da Rede Manchete, mas trabalha com design pra não morrer de fome. Está por trás de praticamente todos os pixelarts desse site. É uma grande fã de rhythm games, Neil Gaiman e caldo de cana com pastel.

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