ARTESFODA BR #8 – Zecarlos e o mundo dos enlatados eletrônicos

  13/04/2012 - 17:18   ARTESFODABR,  
 

Aquele colarinho apertado, aquele monte de horas vendo números/pessoas/computador. 17h55m e você só pensando em ir para casa se atirar no sofá e jogar aquele joguinho emprestado que o amigo disse que é lindo e você tem que jogar porque é demais.

Toca o gongo e finalmente (depois de duas horas) você chega em casa, joga os sapatos pro lado e começa a jogar. Os olhos enchem na abertura. Porém, em 10 minutos de jogo, você já está bocejando e pensando em ligar o msn ou comer um Doritos. Não porque o jogo é feio, muito pelo contrário. Mas porque ele não tem nada de interessante além do visual até então… assim como tantos outros jogos que já passaram pelo seu console.

Mas tá, vai, de repente é só implicância e você termina o jogo. E a sensação de tempo (já pouco) perdido e o Doritos no armário continuam lá, enquanto você olha com cara de bunda pros créditos na tela.

Zecarlos, o convidado da semana, sabe bem como é a repetitividade e falta de profundidade nos jogos ultimamente.

Olha essa fera!

José Carlos S. P. Jr. tem 33 anos, é curitibano mas há 4 anos saiu de lá pra virar paulista. Trabalha em um estúdio de artes visuais como artista gráfico já há 11 anos.

Começou a desenhar na infância, porém, diferentemente da maioria, mais focado na produção de HQs. Enquanto a galera pedia os bonequinhos de Cavaleiros dos Zodíaco, Zecarlos pedia muitas e muitas revistas em quadrinhos, de super heróis e da Turma da Mônica. Por causa disso, ao invés de querer ser o Indiana Jones ou Hulk (não vou falar Seiya porque ninguém quer ser ele), queria mesmo era criar personagens tão fodas quanto esses. Entre suas infinitas inspirações, podemos citar Takuji Kawano (Soul Calibur), Goro Fujita, Pixar e Capcom. E alguns brasileiros, como Paulo Siqueira, Ivan Reis e Weberson Santiago.

Fez um curso de quadrinização na gibiteca de Curitiba e logo em seguida teve sua primeira publicação em uma revista, e depois de pouco tempo começou a trabalhar no estúdio, onde aprendeu outras áreas relacionadas em que nunca imaginou atuar, como animador 2d/3d, ilustração digital, concept art, cinema, vetor, pintura tradicional, etc.

Get over here!

Sua vida de jogatina começou por influência da família, pois já era algo que estava nela de longa data, desde o Telejogo. Passou por todas as gerações de consoles (apesar de uma breve estacionada na do Super Nintendo), sempre adquirindo o maior número de título de jogos possível até hoje. Porém toda essa mina de ouro fica na casa de seu pai; na sua, apesar de ter um PS2, prefere concentrar tudo em um só local – no caso, o computador. Então agora, o que era um vício se tornou sua hora de relaxar.

Seu gênero preferido (acho que já deu pra sacar) é luta. Torrava todo o dinheiro da condução para a escola no fliperama jogando Street Fighter 2, Samurai Shodown e Mortal Kombat, que até agora são seus jogos preferidos, dada a nostalgia do climão maneiro que só o fliper podia proporcionar. Além desses, ainda gosta de jogos como Tartarugas Ninjas de NES, Resident Evil até o 3, Megaman X, Mario, Pro Evolution Soccer, Marvel x Capcom 2, Gran Turismo 4, Batman: Arkham Asylum, Diablo 2, Rock’n’Roll Racing, DC Universe Online… imagino como ele relaxa com tudo isso.

Os jogos influenciam diretamente no seu trabalho, seja por causa da ação, do concept, do cenário ou personagens. Mas sempre acaba dando seu toque pessoal, para ficar característico. Normalmente faz fanarts quando bate aquela crise criativa nossa de cada dia, então, para não ficar parado, acaba colocando os personagens que gosta em situações diversas enquanto experimenta alguma técnica ou um modo de produção novos. Ou seja, mesmo brincando, sempre tem algum estudo sério por trás; por isso seu objetivo é que o espectador preste atenção numa arte bem trabalhada, fazendo-o se sentir bem vendo a imagem ou até se imaginar na situação em que o protagonista se encontra.

Tipo sendo verde e soltando raio.

Sua maior dificuldade como ilustrador foi (…e lá vamos nós) entrar no mercado e tentar se estabelecer, mesmo no meio de tantos artistas fantásticos.

“Ser ilustrador ou artista de modo geral num país como o Brasil já é uma grande dificuldade por si só (risos). Mas sério mesmo… pois ser artista gráfico, ilustrador, designer de qualquer coisa num país onde não dá o devido valor pra sua própria cultura e espera seus artistas saírem do país para que sejam reconhecidos, é um baita de um problema cultural a meu ver, isso em qualquer área.”

Além disso, saber separar as coisas e sempre ser justo e ético sem perder o bom senso da realidade e saber conversar, se expressar e entender as necessidades do cliente, aquele desgraçado. Mas pelo menos algo veio fácil: fazer amigos e ter professores e parceiros de profissão por perto para ajudá-lo nos momentos de dúvidas.

Pew pew pew

Apesar de ter participado de vários artbooks de tributos da Capcom (Street Fighter, Darkstalkers e Megaman), foi isso o mais próximo que chegou de algo feito oficialmente para jogo. Já recebeu algumas propostas de brother indies, mas devido à falta de tempo (what is tempo?), acabou tendo que recusar. Mas ainda tem esperanças, agora que o mercado de jogos está crescendo e que grandes empresas estão se estabelecendo no país.

E nisso há mensagem importante, não só para os ilustradores, mas também para os produtores de jogos:

“Costumo dar preferência à ideia e essência da coisa, como nos games, pois não basta ser visualmente bonito se não acrescentar em nada como conteúdo, tem muito jogo assim pelas prateleiras ao meu ver ultimamente. Tá certo, tudo começa pelo desenho, o visual o design maneiro, mas de nada adianta isso se não tiver um porquê por trás. Só que no mundo de hoje a impressão que eu tenho é que se preocupam tanto em vender a imagem do jogo que se esquecem da sua essência, e o pior, isso anda funcionando, e daí vira aquela bola de neve, enchendo as prateleiras de títulos enlatados ano a ano.”

Chapuletada na cabeça desses cara!

Então fica a dica pra vida aí. De que adianta a beleza sem conteúdo, não é?

Para encontrar o Zecarlos pelas interwebs, acessem lá o DeviantArt, o portifólio, o blog ou então mandem um email para qualquer um dos três emails que ele tem. Deliciem-se com sua galeria e até semana que vem!

 

Shana

Sobre

Shana é a ARTESFODA oficial do site. Fã de rhythm games, Neil Gaiman e caldo de cana com pastel, recebe anualmente cerca de 10kg de pinhão enviados por sua mãe.

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