ARTESFODA BR #9 – O legado de Rafael Borven

19/04/2012 – 17:29

por Shana

Muitas pessoas das quais admiramos o trabalho já se foram (pra Pasárgada), e mesmo assim continuam muito presentes no nosso dia-a-dia; sejam em filmes, artes, música, ideologia, etc. Somos influenciados por eles até o ponto em que tomamos nosso próprio rumo, para adquirir identidade própria, seja no trabalho ou na vida. Mas, mesmo depois que os caminhos se separam, eles estão lá na nossa memória e jamais esqueceremos do porquê de nos tornarmos quem nos tornamos e toda bagagem que essas pessoas nos ajudaram a ter.

E é com essas emocionantes palavras que trago o convidado da semana: Rafael Borven, que é como eu o conheço no twitter então vai ficar assim mesmo.

kd batata frita

Rafael Ventura tem 29 anos, é oriundo de BH mas está morando em Floripa. Trabalha com ilustração e direção de arte, além de ser pixel artist, e é formado em Cinema de Animação e Pintura pela UFMG.

Começou a se interessar de verdade pela ilustração lá pelos 16 anos, quando alugava cartuchos pra SNES na locadora preferida do bairro. Como o dono da locadora ia com a cara do pequeno Rafa, acabava emprestando os manuais dos jogos – admirava as artes dos livretinhos, principalmente os de luta e RPG. Uma arte em especial o fez seguir pelo caminho da arte – Celes, de FFVI, de Yoshitaka Amano. Mas foi a partir dos 23 anos que começou a levar o esquema a sério.

Suas principais fontes de inspiração são o já citado anteriormente e em algumas outras colunas também, Yoshitaka Amano; também Yoji Shinkawa (Metal Gear) e Claude Monet. O que mais o atrai na arte deles é como as formas são apresentadas apenas sugestivamente; também gosta de como é feita a escolha das cores. Foi muito influenciado por Akihiko Yoshida (Final Fantasy também) e os artistas Kinu Nishimura e Akiman, da Capcom.

Opa, caiu rs

Os joguinhos eletrônicos entraram em sua vida quase no fim da infância; lá pelos 7 anos ganhou um Atari, porém, preferia ficar brincando de Jaspion por aí, principalmente porque jogos de high-score não chamavam sua atenção. A salvação foi um amiguinho que tinha um Master System com Alex Kidd in Miracle World, fazendo-o então começar a gostar. Mesmo assim só foi ter um Master para si aos 9.

Já excluindo os hi-score, Rafael também não curte os jogos tipo mãe, que te conduzem e te levam pela mão pra poder terminar. Prefere os que dão controle sobre a ação. Entre sua lista gigantesca de favoritos, estão lá Super Metroid, Zelda Majora’s Mask (!), Resident Evil 4 (!!!), Demon’s/Dark Souls, Final Fantasy VI, Chrono Trigger e Metal Gear Solid 3.

Já trabalhou em alguns jogos, como Ludo Park, Minihunt, um demo para PC de Chameleon Puzzle Runners; e agora está trabalhando para um jogo de PC e ainda outro que é top-secret e infelizmente não consegui esse furo pra revelar pra vocês.

Mini bichinhos

Algo que chama a atenção dele em qualquer tipo de arte é um bom ritmo, o que é conseguido com camadas e contrastes, tais como os exemplos que ele próprio citou: calmo/intenso, texturizado/suave, cômico/triste, etc. Especificamente em jogos, o que ele mais gosta é do dinamismo e falta de preocupação com o realismo, e cita como exemplos Ninja Gaiden e Bayonetta. Mas o mais importante mesmo para Rafael é a estética. Não importa se seu tema for sobre algo feio, bonito ou sua mãe: ele deve ser esteticamente agradável, pois não faz sentido fazer algo que acabe fazendo com que o observador não olhe para o desenho. E assim, procura fazer com que as pessoas se sintam bem e consigam relacionar seus desenhos a algum momento de suas vidas.

Sua maior dificuldade como ilustrador até hoje foi ter que camelar atrás de trabalho. Já sabemos o quão difícil é arranjar como viver de arte estando em qualquer lugar do Brasil; em Minas Gerais esse cenário é péssimo. Teve de se afastar de sua família, que ainda está lá, e por um tempo de sua namorada (que agora mora com ele). Felizmente pode viajar com certa frequência para vê-los.

Like a boss.

Seu objetivo como ilustrador é algo que requer realmente muito esforço, mas a recompensa é realmente grande:

“Quando criança, era apaixonado por vários tipos de estímulo visual/emocional como tokusatsus, videogames e desenhos animados. Eu cresci e isso ainda faz parte de mim, tudo isso que vivenciei e que pude relacionar com o os produtos de arte que gosto. Sou muito grato a todas as pessoas que conseguiram se comunicar comigo dessa forma, e eu espero algum dia poder fazer o mesmo. Recentemente, tive a oportunidade incrível de mostrar meu portfólio em pessoa para o Yoshitaka Amano, e vê-lo observando meus desenhos e comentando, inclusive soltando um ‘kawaii’ e ‘sugoi’, foi uma experiência sublime. Pude dizer a ele que uma das grandes causas de eu ter me tornado artista foi ele. Acho que se algum dia isso acontecer comigo, uma criança que se inspirou em algo que fiz e, depois de adulto, vier me agradecer, vou saber que estou no caminho certo.”

E você? Que legado pretende deixar?

Quem quiser trocar uma idéia com o Rafael ou ver seus trabalhos, pode achá-lo no twitter, blog, portifólio, Deviantart e ainda no tumblr. Fiquem com a galeriazinha marota dele e até semana que vem!

 

Shana Ximenes começou a desenhar ainda nos tempos da Rede Manchete, mas trabalha com design pra não morrer de fome. Está por trás de praticamente todos os pixelarts desse site. É uma grande fã de rhythm games, Neil Gaiman e caldo de cana com pastel.

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