Nesse último final de semana ocorreu o evento GameWorld, que teve a ilustríssima presença de Yoshitaka Amano, mais conhecido pelos frequentadores do site por ser o character designer da franquia Final Fantasy.
Mas a importância da presença dele aqui não se restringe apenas a FF; Amano tem uma vasta participação em vários tipos de mídia: de jogos a livros, mangás e animes e até teatro.
Além de FF, muitos o conhecem por ter ilustrado a novel de Hideyuki Kikuchi, Vampire Hunter D, assim como o longa metragem de 1985, um dos primeiros longas de anime a serem divulgados no exterior. Ou então alguns mais hipsters diriam que o conhecem por causa de sua participação no character design de Gatchaman. Já outros, pelo seu trabalho com Neil Gaiman, The Dream Hunters, que se trata de uma fábula japonesa recontada pelo autor e ilustrada por ele.
Eu fui uma das que o conheceram por causa do dampire, e sempre achei a arte da novel sensacional. Porém meu interesse aprofundou quando conheci The Dream Hunters, já que Neil Gaiman é meu autor preferido. Foi então que minha admiração cresceu a ponto de ele se tornar um dos meus ilustradores preferidos, justamente por ver que ele não se restringia a uma mídia apenas e mesmo assim era perfeitamente adequado.
E, mesmo entre tantos artistas, Amano chama atenção por causa de seu estilo; algo sempre mais etéreo, suave, ao ponto de ser quase onírico. Mesmo assim, a personalidade e a força dos personagens é sempre evidente, e a quantidade de detalhes em cada obra é impressionante.
Amano utiliza-se de referências de art noveau (artch novô), e pesquisou e estudou bastante sobre pop art, mas diz que uma das coisas que mais o impressionam são as obras como as de Michelangelo, que, mesmo tendo 500 anos, ainda o arrepiam.
Numa exposição de 31 de suas obras originais, apesar da barraquinha muito mal iluminada que não ajudava a visualização das obras, foi possível ver bem de perto (perto mesmo, quase grudando a cara no desenho) os detalhes que não podemos ver em imagens de internet ou artbooks; por mais que sejamos fãs e digamos “eu conheço esse artista!”, nada se compara a ver o trabalho ao vivo – sempre tem algo além para observar e descobrir. E é emocionante.
Tive a oportunidade de ir à coletiva de imprensa na sexta-feira, estranhamente muito nervosa para fazer qualquer pergunta, mesmo ele sendo um japonês tímido – apesar da camisa florida – e, como ele mesmo falou, estando um pouco acuado por não estar acostumado a sair do estúdio e encarar tanta gente de uma vez só.
Mesmo assim, ele se mostrou muito prestativo e incrivelmente falante quando a pergunta era sobre algo pessoal, fosse sobre suas origens na arte ou seu trabalho. Dificilmente ele era realmente claro e objetivo quando falava sobre si; a paixão e o brilho nos olhos eram óbvios.
Uma dessas situações foi quando falou sobre o próprio mundo: o que mergulha ao fazer suas ilustrações. Ele diz que dentro de sua cabeça há uma mitologia própria, uma “mitologia Amano” onde explora as possibilidades da sua imaginação. Isso enquanto escuta uma musiquinha, já que “apenas seus olhos e mãos trabalham, mas seus ouvidos ficam livres”.
Outra, foi ao falar sobre o que quer passar para seus apreciadores através de sua arte. Ele diz que apenas desenha, que transpõe o que se passa pela sua cabeça no papel, e que a interpretação do que sai dali vai de cada pessoa. E realmente dá pra viajar em cima de suas obras.
Contou de seu trabalho com Neil Gaiman; o roteiro ainda não estava pronto quando começaram a trabalhar, e Gaiman mandava o que havia escrito aos poucos. Nisso, ele acabava se inspirando e mandando várias artes, e, ao recebê-las, Gaiman também se inspirava e ia escrevendo mais e novamente mandava uma parte, e isso aconteceu sucessivamente, resultando que os dois acabaram inspirando a obra um do outro. E, com isso, veio o prêmio Bram Stocker de melhor narrativa ilustrada.
Sendo o único membro remanescente do trio de ouro da franquia FF, o que não faltaram foram perguntas sobre o tema. “Final Fantasy = Yoshitaka Amano”, foi uma das primeiras coisas que disse. E ninguém pode negar isso. Mesmo tendo trabalhado diretamente apenas até o sexto título e agora tendo apenas cerca de um décimo do trabalho artístico dos jogos, até hoje, comenta, tudo o que é produzido visualmente é uma evolução do que ele mesmo criou, há 25 anos atrás.
Também comentou que, no começo, a idealização do personagem vinha apenas como palavras. “É um personagem com quatro patas e um chifre no focinho. É tipo um rinoceronte, mas não é.”, e era com isso que trabalhava. Cita também que a tecnologia ajudou a reproduzir seus personagens com mais fidelidade, pois no começo eles eram adaptados aos minúsculos pixels, e agora, com o 3D, são reproduzidos quase que em sua totalidade. Além de ajudar nos briefings, claro.
Em relação à sua extinta parceria com Nobuo Uematsu e Hironobu Sakaguchi, afirma que ainda mantém contato com eles e – FURO – está trabalhando em um projeto para um novo jogo com Uematsu. O nome? “Certamente vai mudar até a conclusão do projeto, mas a verdade é que eu não me lembro.”
Mesmo sendo algo inédito e realmente muito emocionante, infelizmente achei a estada de Amano aqui relativamente mal aproveitada. Eu, como jogadora, entendo que é realmente bacana saber sobre os jogos e como ele cria o universo, mas, como ilustradora, um leque muito maior de perguntas relativas ao artista universal Amano acabou tendo que ser deixado para trás.
Acho que mesmo quem gosta de jogos acabou levando um certo prejuízo. Porque muita gente gosta das ilustrações e admira, mas ok, pára por aí. A maioria das pessoas não está realmente ligada na importância da figura do artista… como artista. Tanto que Amano passou pela fila de espera no primeiro dia e apenas um restrito grupo comentou empolgado sobre ele (e de repente era só por causa da camisa). Mas não sei se seria a mesma coisa se o próprio Sakaguchi tivesse passado.
Em um evento de jogos seria muito mais interessante e proveitoso se alguém diretamente ligado a esse mundo fosse chamado. As perguntas que foram feitas para o Amano – e que, sinceramente, tomaram lugar de perguntas muito mais pertinentes tendo em vista quem era o convidado – teriam sido mais cabíveis.
De qualquer modo, sua passagem aqui pelo GameWorld é algo para ser lembrado, e um acontecimento histórico, principalmente para quem teve a oportunidade de acompanhar a evolução dos videogames e seus momentos marcantes, como a criação e evolução de uma série que tem um dos maiores (e mais chatos) fandoms de que já se ouviu falar. Muito obrigada, e espero podermos recebê-lo novamente, senhor Yoshitaka Amano.
P.S. Se vocês ainda estão se perguntando… seu personagem preferido da série é a Terra (FFVI). Malz ae Sephiroth.
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