Tretas de Hong Kong – Nanashi no Game e o terror pela ambientação

  8/05/2012 - 15:53   Tretas de Hong Kong,  
 

Aaah, jogos de terror, como andam raros hoje em dia. Parece que a ideia de “assustador” mudou muito de uns tempos para cá. Poucos jogos são realmente assustadores e parece que agora é só matar a maior quantidade de zumbis em menor tempo. Aproveitando o gancho do último artigo GAMESFODA sobre esse assunto,  vou falar de um jogo que aborda o terror de uma forma bem peculiar: Nanashi no Game (Jogo sem nome e/ou Jogo das Sete Mortes, trocadilho esperto), lançado em 2008 para DS.

“Peraí, DS?!”, podem dizer alguns. Sim, meu amigo, DS! Isso é um tapa na cara da sociedade de todas as produtoras que acham que seus jogos têm que ter gráficos fodas para serem assustadores. Mais impressionante quando você notar que, pela premissa do jogo, ele mal utiliza os gráficos para ser assustador.

A história é a seguinte: existe um jogo de vídeo game maldito e qualquer um que jogar ele precisa terminá-lo antes de 7 dias, ou morrerá. Como todo bom protagonista de história, você foi babaca o suficiente pra cair na conversa do seu amigo e jogou o jogo, descobrindo seu amigo morto algum tempo depois. “Que cópia do caralho, é igual ao “O Chamado” (Ou Ring/Ringu pros mais entendidos)”, já deve ter passado na sua cabeça. Bom, é sim, a premissa é bem parecida, mas itens demoníacos que causam a morte de quem os possui não são algo muito original em primeiro lugar. Bom, de qualquer forma, isso é a deixa pra eu falar sobre um dos aspectos mais divertidos do jogo: o jogo amaldiçoado em si.

Apesar dele não ter quase nada de gameplay, dá pra ver que ele é baseado nos RPGs da geração 8-bit, o que é engraçado, visto que a produtora desse jogo é a própria Square-Enix. O objetivo do jogo nada mais é do que te deixar perturbado e inseguro. A única coisa que se pode fazer nele é conversar com os NPCs. Não dá para ganhar level, matar bichos, nada. Você joga ele a partir de um sistema tipo DS (completo com menu e tudo) e é em intervalos aleatórios, que muitas vezes se conectam com a trama do jogo. Se você já leu alguns desses “Creepypasta” (histórias bizarras com jogos) como “Pokemon Black” (não essa versão novinha que saiu aí) ou a do Majora’s Mask, o jogo é bem isso. Cada dia que passa ele vai ficando mais bizarro, corrompido e tendo relação com acontecimentos reais.

Mas e a parte “real”? Bom, o jogo é controlado usando o DS em posição “livro” (a parte do RPG e da interface do DS do jogo é com ele em posição normal), como visto em Hotel Dusk, tendo inclusive a visão em primeira pessoa também. Você anda por aí, abre portas, acha alguns itens, resolve puzzles e… é isso. Há partes de fugir de “fantasmas zumbis” onde você deve driblá-los ou coisas semelhantes, pois não tem nenhuma arma e o seu personagem sequer pode correr. O jogo é meio curto e o gameplay não é a coisa mais interessante do mundo, mas o que vale é a história e a experiência, e foi tão bem recebido (surpreendendo a própria Square) que ganhou uma continuação em 2009: Nanashi no Game: Me (Jogo sem nome: Olhos).

Fora a história, pouca coisa muda de um jogo para outro. Melhoraram as partes em primeira pessoa, adicionaram minigames e um novo jogo amaldiçoado (além do RPG que está presente no jogo e ainda é o principal) em estilo plataforma. Além disso, a sequência o tem mais clima e é mais assustadora do que o primeiro. Embora tenha sido bem recebido, os próximos jogos a sair no mesmo ano, chamados de Noroi no Game (Jogo maldito) foram apenas spin-offs para DSiWare baseados no jogo de plataforma, com fases bastante difíceis, lembrando um pouco Super Meat Boy.

O último jogo da série saiu esse ano para iPhone (e Android aparentemente). Com o nome de Nanashi no Appli (Aplicativo sem nome), traz uma premissa basicamente igual: um jogo de smartphone amaldiçoado que você resolveu baixar sabe-se lá porque. Aparentemente sem as partes 3D em primeira pessoa, mas ele vem completo com uma interface de iPhone falsa e amaldiçoada, então parece no mínimo divertido. Os 2 jogos amaldiçoados ainda são um RPG e um plataforma 2D, mas parecem ter sido melhorados. Além disso, a Square lançou o joguinho de plataforma chamado 774 Deaths como um aplicativo separado,  que por sinal acabou saindo no ocidente também.

Bem que os desenvolvedores poderiam pegar esse exemplo aqui, junto com os que foram dados no outro artigo, e voltar a fazer jogos de terror completamente assustadores. Uma horda de zumbis enquanto você tem lança-mísseis pra explodir todos de uma vez só não é terror. Ninguém liga se o seu jogo renderiza 1000 zumbis por tela. No momento que um jogo 8-bits consegue me deixar mais desconfortável que os seus gráficos super realistas, significa que o mais importante está sendo deixado de lado: clima e ambientação.

Sobre

Luiggi "Afro" Ligocky é um pseudo-artista que estuda a área de jogos digitais. É um adorador de jogos japoneses e bizarros desde a época em que ganhou seu Super Nintendo. Grande fã da Nintendo, Konami e Sega.
  • http://twitter.com/hynx @hynx

    Eu sou um dos que sente, e muito, a falta de jogos de terror que realmente lhe faziam ficar com medo. O último que eu joguei assim foi Amnésia, e mesmo esse não pode ser comparado com alguns de antigamente que marcaram completamente o gênero.

    Nanashi no Game é simplesmente fantástico por usar o conceito de creepy pastas (que eu sou fanático) trazendo para um jogo, mas ainda dá pra melhorar E MUITO esse conceito de terror atual. E, claro, precisa de algum desenvolvedor indie Ocidental com culhões pra fazer algo do tipo. Tem o Lone Survivor, sim, eu sei… mas dá pra inovar ainda mais.

    Belo texto. E eu ainda tenho fé!

  • Pingback: Esta semana em GAMESFODA – Dia das Mães Edition | GAMESFODA

  • eltonbm

    Foi uma boa escolha. Temos vivido na época em que empresas da América do Norte e da Europa tentam mostrar que gráficos são a única solução para o futuro dos jogos, mas a Nintendo tem se dado muito bem com máquinas pouco possantes e mais interessantes. Outro problema e o fanatismo dos produtores e diretores em querer usar os filmes como os moldes para os jogos, quando esse não deveria ser o caso. Certo, este jogo tem a premissa semelhante ao que vimos no Chamado, mas ele funciona como aqueles "jogos amaldiçoados": Ele transmite emoção da maneira que um jogo deve fazer. Temos que saber usar filmes e livros como fontes, mas não se esquecer de que esta mídia é outra coisa.

  • Pingback: RETROSPECTIVA GAMESFODA DE 2012: Foi uma longa caminhada até aqui | GAMESFODA

Visit the best review site wbetting.co.uk for William Hill site.