Bom dia, boa tarde e boa noite galerinha gamer pessoal! A edição de hoje do Tretas é muito especial, pelo menos para mim. Seguindo as análises de Mother e Mother 2 feitas pelo meu grande amigo Rod, resolvi que estava na hora de escrever sobre o meu jogo favorito de todos os tempos: Mother 3 (Gameboy Advance, 2006).
Meu amigo, esse jogo tem uma história longa por trás dele, devemos ir por partes. Irei me abster de comentar sobre Shigesato Itoi (criador do jogo) e o quão foda ele é, pois isso já foi feito no primeiro NARG (se você não leu, corre!). Com isso fora do caminho, posso focar totalmente em Mother 3, começando pelo fato mais interessante de todos, ele originalmente era um jogo para 64DD (na verdade, ele começou sendo pra SNES, mas já tava muito em cima). Sim, 64DD, aquele periférico da Nintendo que só não falhou mais forte que o Virtual Boy porque isso era impossível.
O jogo era todo em 3D, que tava até legal pra época, mas tinha bem menos aquela cara de “Earthbound”; porém a bizarrice típica da série estava lá, bem reconhecível. Chegou até a sair um trailer que, por sinal, a galera da época amou, com uma música bem icônica:
O jogo era ambicioso, bem mais cinemático e dinâmico que uma penca de jogos de 64 da época, além de ser um dos poucos RPGs a serem lançados para o console. A história também estava bem sólida. O que realmente avacalhou com o jogo foi o fato de que o time não tinha experiência nenhuma com jogos 3D, fora o fato de que o 64DD era um aparelho complicado pra caralho na época, tinha relógio interno e tudo mais, que iria funcionar junto com os jogos. Além disso o Itoi pirou um pouco na batatinha e queria adicionar umas mil funções extras.
Depois de um tempo (e do óbvio fracasso que foi o 64DD), o jogo passou para o 64 normal, onde a primeira demo do jogo foi lançada, na Spaceworld de 99 (que é de onde saiu o trailer acima). Mesmo a galera toda amando o jogo e tudo mais, o time ainda passava por mais problemas ainda com a engine do 64 e infelizmente o jogo foi cancelado.
Isso foi em agosto de 2000. Época triste para a galera, Gamecube tava quase aí e o jogo com certeza não saía mais, só restava desistir desse sonho. E foi isso mesmo por mais uns 2 – 3 anos, quando foi anunciado Mother 1 + 2 para GBA, uma coletânea dos dois primeiros jogos. E foi anunciado do nada com esse simples comercial:
Simples assim. Nada grandioso, nada de gameplay, só algumas palavras e pronto. Stalkers de plantão começaram a vigiar o blog pessoal do Itoi com muito fervor, pra ver se conseguiam qualquer informação que fosse sobre o jogo. E nesses outros 3 anos que seguiram, a única coisa que ficaram sabendo que é a Brownie Brown estava fazendo o jogo. Chegando perto do lançamento, ele ficou mais de 1 mês no topo da lista da Famitsu de jogos mais esperados pelos fãs, e no dia 20 de Abril de 2006, ele finalmente foi lançado.
“Estranho, engraçado e de partir o coração” é a frase usada para descrever o jogo em um de seus vários comerciais. Sim, de partir o coração, não é nenhum exagero. Você deve estar se perguntando como isso acontece nesse amontoado de pixels, sem o seu CG bonito de meia hora de duração. Sei lá. Só acontece. Se fode aí e vai jogar a porra do jogo.
Cara, vocês não tem ideia do quanto eu tô segurando meu lado fanboy pra falar de toda a atenção a detalhes que deram nesse jogo. Tudo parece vivo e real, NPCs que aparecem apenas uma vez ou não tem muita relevância tem suas próprias animações, que os caracterizam muito bem. Os diálogos são ótimos e inteligentes e a progressão do jogo é muito natural. Esse é um daqueles RPGs sem “overworld”, então se quiser ir para outros lugares, tem que explorar e andar tudo a pé.
Acho que a história é, de longe, o principal ponto do jogo, talvez mais que seus antecessores. Antes de tudo mais, Itoi é um escritor e é trabalho dele fazer algo de valor. Desde a época do projeto de 64, ele queria fazer uma história onde houvesse vários protagonistas e ela se passasse num período de 10 anos. Infelizmente, a última parte não foi possível, mas a primeira é onde entra o sistema de capítulos do jogo. Embora o protagonista seja, de fato, o nosso queridinho Lucas, logo depois do prólogo você começa jogando com o pai do garoto, Flint, um cowboy durão que não tem medo de nada. Logo depois do capítulo 4, a história fica mais centrada na galerinha da pesada que continua a mesma até o final do jogo: Lucas, o gêmeo covarde, Kumatora, a princesa que age feito menino, Duster, o ladrão manco e Boney, o cachorro de Lucas que sai por aí atacando geral. Aliás, Lucas é um puta nome comum pra um protagonista.
O foda de comentar sobre a história do jogo é que qualquer detalhe que eu der aqui, mesmo que seja do início, pode dar um spoiler e estragar o impacto de muita coisa, então o que posso dizer é que embora ele seja engraçado, ele também é bem trágico e que existe uma hora em que o jogo pula alguns anos, mas não tantos quanto o Itoi queria no início. Pensando de forma simples, o tema da história seria “Natureza contra Tecnologia”, como é retratado no logo. Ou talvez não seja tecnologia e sim “avanço”. É difícil classificar, pois é muito mais que isso. Interessante notar que o protagonista do momento é sempre silencioso, indiferente de ele ter falado algo em capítulos anteriores ou não.
O gameplay não é lá a coisa mais inovadora do mundo, mas ele pegou um elemento bem conhecido da série e transformou em algo prático. Se você jogou qualquer Mother, sabe que, na maioria das vezes, vai ser difícil você encontrar 2 inimigos com o mesmo tema de batalha tão seguidos um do outro e isso continua sendo verdade em Mother 3, só que em escala muito maior. Chuto que há no mínimo entre 20 ou 50 músicas diferentes dedicadas SÓ para batalhas, porque são muitas mesmo, e dos mais variados estilos, pode ser uma musica meio rock, algum remix de várias musicas clássicas ou o tema do Batman.
E do que tudo isso importa pra um RPG? Bom, tipicamente, fora ser algo muito legal, não importaria nada, mas no caso desse jogo as músicas são utilizadas nas batalhas num sistema de ritmo que é baseado nas batidas e no BPM da musica. Se o personagem utilizar um ataque normal, além de ele dar o dano inicial (que sempre será o mais alto), ele pode continuar batendo no inimigo, seguindo o ritmo de sua música, podendo acumular até um total de 16 golpes. Quando usado de forma correta, pode duplicar o dano causado e salvar muitas batalhas perdidas, mas só funciona com ataques normais, se uma magia ou item for usado, não rola. O legal é que cada personagem tem um “instrumento” próprio que toca a cada batida, o que deixa a coisa toda bem interessante. O vídeo abaixo tem exemplos disso.
Fãs de RPGs mais tradicionais e que não manjam dos ritmos podem ficar meio putos, mas isso é algo no jogo que é bem pouco explicado e nenhuma batalha é dependente disso, é apenas uma adição que deixa as coisas mais interessantes. Como o seu antecessor, as batalhas não são aleatórias e sim iniciadas por inimigos no mapa. Se você pegar o inimigo por trás (ui), você terá uma vantagem no inicio, da mesma forma que se ele te pegar por trás (heh) você se fode (!). A diferença é que cada inimigo tem um sprite dele “de costas”, que dá pra ser checado depois no catálogo de inimigos do jogo.
Embora Mother 3 não tenha um mundo tão diverso cheio de cidades igual aos outros dois jogos, muitos outros fatores compensam isso e, no final das contas, o jogador acaba concordando que essa foi a melhor escolha para esse jogo. São pequenos detalhes de um mundo completamente diferente, porém reconhecível, que criam uma magia tão grande. Sejam os personagens filosóficos, o humor bizarro e diferente, as 250 musicas que fazem parte da trilha sonora ou até o fato de um jogo de GBA ter saído em pleno 2006, no auge do DS (que foi lançado em 2004!!!) e ainda ser uma obra de arte, sempre tem algo que vai conseguir te prender.
Dando um pouco de espaço para o meu lado fanboy, eu ainda fico surpreso pela quantidade de conteúdo da versão de 64 que passou para a versão de GBA. Seja a música do primeiro trailer ou vários outros elementos (tem alguns spoilers, para quem se importa). É incrível como quase 10 anos depois as idéias ainda continuaram firmes e fortes na cabeça do Itoi.
Infelizmente, Mother 3 foi um daqueles jogos que ficaram pra sempre na distante terra chamada Japão, talvez porque o próprio Earthbound não tenha feito muito sucesso no Ocidente, ou o primeiro Mother nunca ter sido lançado, embora estivesse traduzido. Porém, felizmente, existe uma tradução de nível profissional que saiu lá por 2008, feito pelo pessoal do Starmen.net, e pode ser encontrada aqui. Não vou dar a ROM pra vocês, se virem.
Para haver fãs tão entusiasmados pela série ao redor do mundo, é porque ela realmente tem algo de especial. Pode ser que nem todo mundo capte o jogo da mesma forma que eu, mas eu sinceramente espero que consigam, porque na minha opinião, é uma experiência que poucos jogos passam e que dura por muito tempo. Nada mais próprio do que terminar essa coluna com o tema principal do jogo e sugiro a todos que o jogarem e terminarem escutem essa música mais uma vez e visualizem a diferença.
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