Tretas de Hong Kong – Shiren the Wanderer, o Mystery Dungeon com personagens originais

Sempre pontual, está aqui mais um Tretas de Hong Kong exatamente uma semana depois, como prometido (!!!). Seguindo o que começamos no artigo anterior, hoje iremos explorar melhor a trajetória da série Mystery Dungeon (Fushigi no Dungeon) usando as ideias originais da Chunsoft, com Shiren the Wanderer.

O rosto da princesa foi o ponto forte de vendas

Após lançar o primeiro jogo baseado no personagem Torneko, a galerinha da Chunsoft resolveu fazer uma história original sobre o Japão feudal ou algo assim. A trama do primeiro, para SNES, não é nada muito grandioso. Shiren é um garoto simples que sai por ai pelo mundo como um andarilho (ou ronin se preferirem, fãs de Samurai X) para encontrar a Cidade de Ouro no topo de uma montanha, como forma de realizar o desejo de morte de um amigo. Ele viaja com seu amigo doninha falante Koppa e encontra uma galera doida e divertida que não tem medo de nada. Bem simples, não é? São histórias objetivas e bobinhas que qualquer um pode aproveitar. O que cria um contraste muito grande com o gameplay do jogo, que é, como de costume no gênero roguelike, muito difícil.

Os jogos são basicamente iguais ao que relatei no Tretas anterior (se ainda não leu, corre). Movimento e ataque por turno em masmorras aleatoriamente geradas. Mas no caso de Shiren, com raras exceções, os desafios são bem mais cruéis. O jogo te dá a opção de salvar em qualquer ponto da fase, mas se morrer, já era tudo. Tudo? Tudo. Level, dinheiro e todos itens que não estiverem guardados em um depósito. Ou seja, cada morte significa recomeçar o jogo do zero, o que, como já da pra imaginar, pode se tornar algo extremamente irritante e frustrante. O que é interessante notar é que isso é visto como bom dentro do gênero. É essa tensão que cria aquele clima único e aquela dificuldade ridícula, que é o que os fãs querem no final das contas. Outro detalhe curioso é que de tempos em tempos o personagem fica com fome, tornando necessário alimentá-lo.

O que faz um Deus da Cozinha?

Antes da Chunsoft fazer 999, Zero Escape e essas visual novels todas aí, eles trabalharam fazendo os cinco primeiros Dragon Quest e a série Mystery Dungeon, então pode-se dizer que Shiren the Wanderer é uma das primeiras propriedades intelectuais da empresa. E assim, tivemos vários jogos envolvendo Shiren e seus amiguinhos.

O primeiro, para SNES, é onde tudo começou. Nomeado como Fushigi no Dungeon 2: Furai no Shiren, pois o primeiro Fushigi Dungeon é o do Torneko, ele muda o foco do jogo anterior. Ao invez da coleta de dinheiro de Torneko, agora Shiren segue uma história e objetivos ajudando pessoas. Ou seja, existem várias cidades com lojas, side quests e histórias de vários personagens. Volta e meia você vai ter um parceiro em uma masmorra, que é controlado pelo computador. É um jogo interessante para sua época. Se estiver interessado, tem um patch em inglês que traduz o jogo inteiro. Ou, mais fácil ainda, pode conferir o seu remake para DS, que saiu no ocidente.

O segundo jogo não tem nada muito especial, além do fato de ser um dos pouquíssimos RPGs para Nintendo 64Fushigi no Dungeon: Fūrai no Shiren 2: Oni Shūrai! Shiren-jō! trata de uma vila que esta sendo atacada por Onis (o equivalente japonês dos trolls) e pede para Shiren construir uma fortaleza para eles. Embora o jogo seja de 64, ele utiliza sprites em um ambiente 3D. Fizeram modelos 3Ds dos personagens e animaram os frames como desenhos 2D, igual ao que foi feito em Donkey Kong Country, só que bem mais feio.  Aparentemente o jogo envolve um modo de construir a fortaleza, algo que muitos fãs estranharam na época. Os Onis atacam sua fortaleza e a duração dela depende depende de quais materiais foram usados para sustentá-la, fazendo desse um jogo mais baseado na coleta de dinheiro do que em qualquer outra coisa.

Mais ou menos nessa época surgiram alguns títulos para Gameboy e Dreamcast, mas são tão desconhecidos no ocidente que não consegui quase nada de informação sobre eles. Só sei que existem e que o segundo jogo de Gameboy recebeu um remake para DS.

Muitos anos depois, agora com a geração atual a todo vapor, a Chunsoft resolveu lançar o terceiro jogo para Wii. Furai no Shiren 3 é provavelmente o mais controverso da série, pois tudo foi muito facilitado. A punição quando se morre é mínima e você passa a maior parte do jogo com três parceiros no time, em um sistema bem frustrante. Pode-se notar que esses são elementos apresentados usados nas versões de Pokémon da série, mas lá o público-alvo é diferente. Os fãs que esperavam algo mais desafiador de Shiren se decepcionaram. Curiosamente ele chegou a sair por aqui como Shiren the Wanderer (mesmo título do de DS), talvez porque um jogo mais fácil consegue atrair um público ocidental maior. Saiu também um port para PSP.

Depois disso, saíram mais dois jogos para DS (um no ano passado até), mas como eles não apresentam muitas mudanças além da história – e encontrar informação deles é complicado -, fica aqui só a menção e a confirmação de que a série continua bem viva e logo deve ganhar novos títulos para um dos portáteis atuais.

Vendo a lista de jogos da Chunsoft, é engraçado ver que, fora a série Mystery Dungeon, eles não tem mais nada similar aos roguelikes, exceto talvez o trabalho em Dragon Quest. Agora a empresa está bem mais focada em criar visual novels voltadas para o drama psicológico, o que talvez explique por que tão poucas pessoas saibam da existência dessa franquia.

De todo modo, Mystery Dungeon continua sendo a série mais longa e querida da Chunsoft, seja com Shiren ou com Pokémon mesmo. Cada uma das franquias que receberam um Mystery Dungeon tem suas peculiaridades. Não é apenas o mesmo jogo com um estilo de arte e personagens diferentes. As características únicas do universo utilizado são levadas em consideração pra construir o jogo, o que é admirável. Embora possa parece preguiçoso usar o mesmo estilo de gameplay tantas vezes, é legal ver uma empresa que não se prende há um lugar-comum e que consegue experimentar com suas ideias e conceitos.

Sobre

Luiggi "Afro" Ligocky é um pseudo-artista que estuda a área de jogos digitais. É um adorador de jogos japoneses e bizarros desde a época em que ganhou seu Super Nintendo. Grande fã da Nintendo, Konami e Sega.

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