ARTESFODA Especial – Jed Henry, o herói de tinta

  19/04/2013 - 14:56   ARTESFODABR, ukiyo-e,  
 

Ano passado, vagando pelas interwebs, descobri um projeto muito promissor: um cara estava juntando forças com um tiozinho para fazer uma série de releituras de ícones videogamísticos em estilo ukiyo-e, arte antiga do Japão feudal, que se tornou pop art na época do seu apogeu. Um kickstarter que atingiu muito além das metas mostrou ao mundo (ou pelo menos à internet) a renovação da mistura de pop art antiga e contemporânea.

No dia 4 de março, o espertão que criou tudo isso, Jed Henry, deu um pulinho aqui no Brasil convidado pela Fundação Japão São Paulo (a mesma que trouxe Yoshitaka Amano para o Gameworld ano passado) para dar uma palestra sobre seu trabalho e expô-lo também, juntamente com o artista plástico brasileiro Fernando Saiki, que pesquisa e desenvolve trabalhos de xilogravura japonesa, e explicou direitinho todo o processo para fazer a print de maneira tradicional, fazendo aplicações ao vivo.

Com alguns poucos convidados, Jed falou sobre a trajetória do ukiyo-e e de como os jogos são influenciados pela arte japonesa antiga, a diferença entre os jogos japoneses e ocidentais, além de mostrar seu trabalho e o de David Bull (que, infelizmente, estava muito ocupado – e também muito longe, já que mora do Japão – e não pôde comparecer) e como a coisa toda surgiu.

Tivemos a chance de trocar uma palavrinha (ou duas, ou três) com ele numa entrevista bem ~maneira~. Boa praça, atencioso e sorridente, só faltou mesmo uma cervejinha para completar a cereja do bolo.

Tá sério demais nessa foto aqui

Jed Henry tem 29 anos, é ilustrador formado em animação numa universidade em Utah – EUA. Sua vida de artista começou por influência de sua mãe, que também é artista e utiliza aquarela nos trabalhos. Jed achava que todos os adultos sabiam desenhar, por isso começou a treinar desde pequeno para que crescesse já com todas as manhas.

A maior influência para seu trabalho é a internet, onde encontra vários trabalhos e artistas incríveis que o inspiram. Como acaba sendo influenciado pelo que o diverte, seu objetivo é exatamente esse: entreter as pessoas.

“Se um trabalho consegue me fazer sentir algo, seja felicidade ou tristeza ou me tocar emocionalmente, então é um trabalho bom. Se não me fizer sentir nada, descarto na hora.”

Tanto o melhor quanto o pior sentimento que teve em relação ao seu próprio trabalho vêm ao mesmo tempo: vendo tantos admiradores não tem como não ficar feliz, mas junto com isso, muitas pessoas estão vendo o trabalho e querendo cada vez mais, e a preocupação com a satisfação de mostrar um bom trabalho acaba pesando.

Diz que uma das partes mais difíceis é se apegar ao trabalho até o fim. Às vezes, quando tem uma ideia, no começo ela parece muito boa, mas quando está no meio do projeto e ela começa a ficar maçante ou dar muito trabalho, ele diz que é importante lembrar-se do sentimento que a ideia provocou no começo para poder continuar com o projeto sem perder a diversão e superar as dificuldades mais facilmente. Para ele, as pessoas que põe a mão na massa vão muito mais longe do que as que só têm ideias boas.

Stiti fáiti!

Começou a jogar videogames quando pequeno, começando com um Atari, depois NES e SNES; depois do PSX já não jogava tanto por causa de falta de dinheiro, então acabava frequentando a casa de amigos. Em sua opinião, isso foi bom, pois, enquanto os amigos jogavam, ficava olhando e analisando a arte do jogo, às vezes por sábados inteiros sem pescar.

A escolha para seu trabalho em estilo Ukiyo-e foi porque era um estilo pop na sua época, e ultimamente há pessoas que aplicam o ukiyo-e mas produzem peças com temas antigos; veio então a ideia de aplicar o que é popular agora que remeta ao Japão: videogames.

Durante a palestra ele foi enfusivo em algumas demonstrações, relacionando a cultura japonesa diretamente com os jogos produzidos lá (por exemplo, diz que Shadow of the Colossus é algo bem “japonês”, tendo relação direta com pinturas antigas e crenças características, como, por exemplo, não existir “mal x bem”, e o inimigo ser a natureza, ou mesmo em questão aos bosses, cujo tamanho não representava a realidade e sim sua importância), que, segundo sua opinião, ocidentais não conseguiriam alcançar o mesmo resultado. Por outro lado, cita estratégia e aventura como especialidade da galera ocidental.

Para ele, a grande diferença cultural oriental e ocidental aplicada nos jogos é o estilo de arte. Jogos orientais tendem a utilizar formas mais estilizadas enquanto os ocidentais estão mais focados no realismo; e essa diferença desde sempre existiu, dando como exemplo as estátuas gregas, que eram o mais próximos da realidade possível, enquanto as estátuas de Buda sempre foram mais simbólicas.

Aqui ele estava comparando esta arte do século XVIII/XIX com um jogo de plataforma. E tá tudo certo mesmo!

Para finalizar, com muita tensão e preocupação em dar uma resposta bem analisada, Jed concluiu que Super Smash Bros é um jogo para se divertir, mas que tem luta (mais ou menos o que o Harada falou pra gente). Também respondeu que seu inicial da primeira geração foi o Bulbasaur, sendo mais uma prova de que manjões mesmo escolhem inicial de grama.

A novidade principal nisso tudo, na verdade, é que Jed disse que estão trabalhando em um jogo, que afirma que será distribuído gratuitamente. Será um jogo mobile estilo ukiyo-e de luta, onde o personagem principal é um macaco que quer ser o mais famoso herói no japão, e pra isso ele vai de evento em evento tentando impressionar as pessoas, lutando contra os malvadinhos. Utiliza o touchscreen, onde o movimento ou toque com dedo define tanto se vai tanto atacar ou defender quanto o golpe em si e onde o golpe vai ser aplicado no vilão. É bem provável que role um kickstarter em breve (e certamente divulgaremos aqui quando abrir).

Além do jogo, outro projeto que está sendo estudado é um artbook em estilo antigo, com várias ilustrações em prints originais de ukiyo-e (com a tinta e tudo), mas está previsto só lá pra 2014. As prints atuais já podem ser adquiridas pelo site.

Essa era uma das duas peças originais produzidas em ukiyo-e pelo Dave que estavam lá. O resto era print digital, mas era tudo igualmente muito lindo

Jed e Dave vieram como um suspiro criativo para a cultura pop, pegando um estilo quase morto para expressar seus gostos (nerds) e o de tantas outras pessoas que vivem da nostalgia atualmente. Mostrando que há muito mais na influência dos jogos pela arte japonesa do que se imagina, o estilo abre portas para esse novo antigo mundo para as pessoas não esquecerem da origem de tudo isso.

Aliás, me deu uma vontade de jogar Mario Kart agora…

 

Não deixem de visitar o site e também o facebook do Ukiyo-e Heroes que tá sempre cheio de novidades por lá! Aí abaixo tá a galeria de fotos e outros trabalhos mais recentes.

Até a próxima!

Shana

Sobre

Shana é a ARTESFODA oficial do site. Fã de rhythm games, Neil Gaiman e caldo de cana com pastel, recebe anualmente cerca de 10kg de pinhão enviados por sua mãe.

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