Qualé a desse tal de… Pikmin 3

Por Luiggi | 22/08/2013 – 18:30

Este review foi atrasado em exatos 17 dias porque minha cópia do jogo demorou pra chegar. Mas considerando que vocês já esperaram nove anos por esse momento, alguns dias a mais não machucam, né? Pikmin 3 é um dos jogos da Nintendo mais esperados dos últimos tempos (seguindo a tendência de jogos com número três que não saem nunca) e com justiça, porque os outros 2 são sensacionais, mas também porque a galera queria ver como o tio Miyamoto poderia melhorar a franquia depois do segundo jogo.

Caralho!!!!!!!

Primeiro, vale ressaltar o fato de que o jogo, antes prometido para o Wii, pulou uma geração inteira de video games. Jogando o 1 e o 2 de Gamecube recentemente, dá pra ver que eles eram bonitos para a época, mas o efeito do tempo não lhes fez bem (principalmente o 1). Dito isso, qualquer fã que der uma olhada no 3 em movimento vai babar. É ridiculamente bonito.  Tão bonito que o jogo tem uma função de tirar foto embutida, na qual você controla a câmera com o Gamepad e captura imagens de qualquer coisa pra postar no Miiverse. Diferente do que apresentava NintendoLand e New Super Mario Bros. U, esse sim é um jogo que pode atestar toda a capacidade do console de impressionar criando um mundo imersivo e cheio de vida. Mas agora chega de gráficos e vamos ao que interessa: o jogo em si.

Inclusive fotos in-game são de autoria de quem vos fala

As diferenças entre o novo Pikmin e seus antecessores começam no exato momento em que você inicia o jogo. Como em um jogo antigo e mal acabado de NES, ele não tem title screen da primeira vez que você liga. Isso é um pouco amenizado pois todos os jogos de Wii U têm uma mini “apresentação” do jogo (NintendoLand também faz isso), só que Pikmin 3 parece fazer isso como quem quer te apresentar algo realmente estranho e diferente. Pra completar a estranheza, ele já te joga na cutscene inicial do jogo, que é totalmente dublada em inglês! Isso pode não parecer especial em comparação com outros jogos por aí, mas é a última coisa que eu esperaria em um Pikmin.

O narrador te explica toda a trama do jogo, desde a crise de alimentos no planeta dos protagonistas até a quebra da nave na órbita da Terra, ou PNF-404, apelido que deram ao planeta que é a única esperança de salvação de seu povo. Se achou a história um pouco mais tensa do que a dos outros, é porque ela realmente é. Enquanto o primeiro te mostrava a sobrevivência do Olimar e sua sequência seguia um estilo mais zuera sobre a dívida da empresa onde ele trabalhava, Pikmin 3  joga todo o destino de um planeta em suas mãos. Aliás, já de cara você nota que o tom do jogo é bem diferente dos anteriores. Os personagens são um pouco menos caricatos, dando espaço para falas em que eles contam como sentem falta de casa e que querem muito salvar a vida dos entes queridos com essa missão. Claro que não chega a ser pesado assim e a zuera ainda está bem presente, mas não deixa de ser uma evolução curiosa dos conceitos da série.

Esses são os 3 protagonistas dessa joça, cada um com sua cor

Diferente dos outros dois, o jogo é completamente focado na história e nos objetivos que surgem ao longo dela. Enquanto antes você coletava partes ou objetos e ia abrindo novas fases ocasionalmente a partir disso, no 3 você sempre vai ver algo da história e lutar contra um chefe para progredir. E isso é muito bom. Embora a sensação de “liberdade” fosse divertida, ter um motivo para seguir em frente chega a ser refrescante, você sempre vai entrar um mapa com a ideia de onde você quer chegar. Mesmo assim, os objetivos arbitrários dos outros jogos como coletar coisinhas continuam aí com força total.

Como a história é sobre salvar seu planeta faminto, o jogo inteiro gira em torno de conseguir várias frutas diferentes, levando-as pra sua nave para serem analisadas, cada uma com um nome bizarro e descrições escritas pela Brittany. Quando fiquei sabendo do conceito, achei que seria bem sem graça, ao menos diante da quantidade absurda de objetos inusitados que temos no 2, mas no final das contas é tão divertido quanto. As frutas são usadas e transformadas em suco no final de cada dia para que sua tripulação possa se alimentar.

Sim, o limite de tempo do Pikmin 1 voltou, mas CALMA LÁ!!!!!! Não é nem de longe tão estressante, até porque se você pegar todas as frutas direitinho, é muito difícil ficar perto do Game Over. Basta ter o mínimo de estratégia e planejamento, duas palavras-chave do jogo inteiro que são incorporadas no gameplay com naturalidade, tudo graças à facilidade e intuitividade que o Gamepad trouxe para o jogo. Agora você tem um mapa da área inteira em sua mão, que pode ser inteiramente visualizado só mexendo na tela, levando em conta que você já visitou aquela área antes, é claro. Isso torna muito mais fácil de manter os olhos nos 3 capitães (mais sobre isso logo mais) e planejar sua rota do dia, vendo quais frutas vai pegar e quais Pikmins serão necessários. Se eu quisesse exagerar muito, diria que o Wii U foi feito pra se adequar a esse jogo e não o contrario. Não consigo ver evolução mais natural para a série do que a que ocorreu aqui, mostrando que o Miyamoto realmente não perdeu o jeito.

Image

MENOS ESSA, essa foto não fui eu

Vamos falar de mais diferenças do jogo, começando pelos três capitães: Alph, Brittany e Charlie. No início do jogo, exceto pelo prólogo curto com o Charlie, você controla só o Alph e vai aprendendo aos poucos como é usar os Pikmins e administrar um esquadrão. Coisa simples para quem jogou o primeiro. Logo você encontra alguns caminhos que não tem como chegar de forma alguma e um pouco mais pra frente, a Brittany te esperando, fazendo você se adaptar agora com dois capitães e suas formas de interação. Barbada até pra quem se aventurou em usar o Olimar e o Louie no 2, exceto pelo fato que agora é possível atirar o segundo personagem para alguma área antes inacessível. Algumas áreas e chefes à frente finalmente encontramos Charlie, seu terceiro companheiro, e aí sim o jogo toma uma direção totalmente única. Se controlar dois parecia complicado, com três o jogo realmente pode bater no peito e se chamar de RTS, pois passa a exigir todas suas habilidades no gênero, ao menos se realmente quiser controlar cada personagem para uma tarefa diferente.

De fato, pareceria impossível… se não fosse o maldito Gamepad de novo. Acho que me apaixonei por essa porcaria. O jogo não funcionaria direito com três capitães sem ele, que facilita sua vida e te mostra todas as informações que precisa saber pra administrar tudo com efetividade. Inclusive, você pode colocar os capitães em modo “automático”, que consiste basicamente criar uma trilha na tela usando um cursor que fica sobre o mapa. É possível fazer com que o capitão selecionado e todos os Pikmins com ele se movam automaticamente pelo caminho que foi criado, com uma precisão assustadora. Ou seja, enquanto você está lá matando um inimigo, um capitão pode estar puxando Pikmins do chão automaticamente, enquanto o terceiro pode estar andando sozinho com uma trupe de Pikmins até o local onde está uma fruta. Tudo isso acontecendo sem que você precise tirar os olhos do inimigo que está prestes a comer todos os seus planta-bicho. É o co-op mais single player que já joguei.

Tava testando a função da câmera, então fiquem com essa foto que intitulei de “de boas”

Mas e os Pikmins? Como sempre, Vermelho, Azul e Amarelo ainda tão aí e não sofreram nenhuma mudança significativa em relação aos outros jogos. Vermelhos são fortes e imunes a fogo, azuis nadam e amarelos pulam alto e não levam choque. A bola da vez agora está com os novos tipos Rock (pedra) e Winged (alado), que quebram a nomenclatura de cores, provavelmente porque confundiriam muita gente se fossem chamados só de Cinza e Rosa. O tipos roxos e brancos, destaques do segundo jogo, ficaram de fora e só aparecem no modo missão.

Logo no início você tem acesso ao de pedra, pouco depois de pegar os vermelhos, pra já sacar o quão diferente é. Ele funciona basicamente como uma pedra (veja só): quando arremessado contra os inimigos ele quica de volta em vez de grudar neles e ficar dando cabeçadas. É bastante forte, mas requer uma estratégia completamente diferente. Além disso, existem obstáculos de vidro e de cristal que só ele consegue quebrar. Os alados também envolvem elementos inéditos. Já que voam, pode passar pela água com eles sem que todos morram (acontece com todo joador uma vez ou outra). Também são capazes de transportar voando, o que às vezes resulta em caminhos bem menores. Eles são fraquinhos pra lutar, então só são recomendados em batalhas contra inimigos que voam mesmo.

Tudo isso é explicado in-game, obviamente, mas de uma forma bastante criativa: você vai coletando diários e notas de exploração que um outro capitão misterioso (opa) deixou cair por aí. Todos eles vêm com desenhos muito fofos e são bem divertidos, conseguindo te explicar o jogo sem que personagem X tenha que parar tudo pra falar e te deixar entediado. É difícil expressar o quanto achei todo esse sistema genial, porque ele é muito intuitivo e não traz aquele sentimento escroto de “hand-holding” que alguns jogos, especialmente da Nintendo, tendem a deixar.

Maioria das explicações tem desenhos assim

Não consegui meter isso em nenhuma outra parte do texto, mas o jogo agora tem chuva! E o que isso muda? Absolutamente porra nenhuma, só adiciona ao ambiente que o jogo já tinha antes e te deixa mais imerso ainda. A chuva é aleatória, e pode durar mais de um dia (já durou uns 3 ~ 4 dias em uma fase pra mim). Outro detalhe interessante é que os personagens têm seus próprios Gamepads, chamados de KopPad, e tudo o que eles vêm no deles aparece no seu próprio. Tudo o que for “digital” é visto por ali, ou seja, o mapa, quantos Pikmins estão por aí, transmissões de conversas entre personagens (ou sua nave) e 90% dos tutorias do jogo que são distribuídos como notas. Inclusive a câmera in-game é embutida nesse Gamepad deles, então todas as fotos tiradas com essa função são do ponto de vista do personagem. O jogo se preocupa com imersão de uma forma até assustadora.

O jogo acordou o espirito fotógrafo dentro de mim, só faltou o filtro do Instagram

Agora, se você espera uma experiência de 20 horas…sinto muito. Levei 6 ~ 8h para terminar a história normalmente, e umas 10 pra pegar tudo. Nem é pouca coisa para os padrões de hoje, mas mesmo assim a sensação que fica é que acabou muito rápido mesmo. Nesse aspecto, Pikmin 3 de fato teria funcionado bem melhor como um dos títulos de lançamento, como planejado. Teria dado o mesmo impacto que o primeiro jogo deu, além de servir como amostra de tudo que o Wii U tinha para oferecer, tarefa que NintendoLand não conseguiu cumprir sozinho. Mas tudo acontece por algum motivo, e não creio que teríamos um produto final tão bom assim sem esse atraso.

Para compensar, o jogo tem um multiplayer (que eu não testei) e um modo missão bastante sólido. As missões podem ser jogadas sozinho ou em co-op e se resumem a coletar tesouros (frutas), matar inimigos ou quebrar recordes de tempo contra os chefes. É um modo missão muito mais bem incorporado que o do 2 e é bastante difícil, sendo uma extensão bastante válida do jogo. Existe um ranking online para as missões e dá até pra saber quantos terminaram o jogo em número X de dias pegando todas as frutas, mas tudo ainda é bastante rústico. Não há nomes e nem detalhes de outros jogadores fora você, então temos basicamente um gráfico de barras que só diz quantos dias a maioria dos jogadores levou, mas de certa forma é divertido.

Quem jogou Pikmin 2, sabe que ele é a evolução natural do 1 no momento que toca nos comandos. Eu me senti assim com o 3 no momento que liguei o jogo, e mais ainda quando comecei a me mover pelo mapa. Não consigo pensar em nenhum atributo sequer que ele tenha piorado. É definitivamente obrigatório para qualquer uma das poucas almas que possuem um Wii U e querem ter uma experiência única no console. Digo mais: mesmo que o Wii U estivesse lotado de ótimos jogos, acredito que Pikmin 3 ainda conseguia se destacar no meio deles. É realmente uma obra de muita qualidade e eu diria que os fãs que esperaram nove longos anos não vão se desapontar.

Luiggi Ligocky é um pseudo-artista que estuda a área de jogos digitais. É um adorador de jogos japoneses e bizarros desde a época em que ganhou seu Super Nintendo, além de cursar o idioma já há uns 5 anos para entender o que se passa. Grande fã da Nintendo, Konami e Sega.

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