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CAFÉ NO BULLY

Rapidinha: Quando a polêmica importa mais que a tragédia

  7/08/2013 - 00:05    
 

Um garoto de 13 anos, filho de PMs, pegou a arma em casa e assassinou mãe, pai, avó e tia na noite passada, e no dia seguinte, após ir para o colégio e retornar à casa, tirou a própria vida. Uma verdadeira fatalidade, e um problema talvez mais familiar do que social. Mas o que isso tem a ver com videogames, afinal?

Acontece que hoje cedo, antes do perfil de Facebook do garoto ser excluído, descobriram que ele usava uma imagem do protagonista de Assassin’s Creed. O que aconteceu – brevemente, até o momento – foi o esperado:

Foto: G1

Eu já falei anteriormente sobre o assunto aqui, então vou ser breve dessa vez, até porque a minha esperança é que a mídia não volte a bater com tanta intensidade nessa mesma tecla (e se bater, já falamos aqui).

Convivemos com o poder de influência diariamente, nos mais variados contextos. Somos constantemente bombardeados com sugestões que refletem os valores da nossa sociedade, e o seu cérebro inconscientemente faz o trabalho de dissipar a maior parte do barulho por você. É um processo automático. O poder de influência e persuasão não é um interruptor que se liga e desliga com um clique, e acreditar em algo semelhante é diminuir o próprio ser humano.

O que se ignora neste caso – bem como se ignora em todos tais casos, pelo bem da polêmica midiática – é o contexto pessoal. Não pode-se dizer com autoridade, mas observando sua conduta (matar os familiares à noite e ir à escola na manhã seguinte, articular detalhes para despistar atenção dos colegas) é especulável que o garoto possuísse um transtorno de personalidade. A famosa psicopatia (bastante distorcida no popular) é um exemplo de transtorno que pode ser caracterizado pelo embotamento afetivo e facilidade em cometer atos de “sangue frio”, pois a pessoa possui uma insensibilidade crônica.

A mídia tentar culpabilizar um objeto externo é um truque antigo, que busca causar polêmicas e atrair mais atenção. Lucra acima da superexposição de tragédias e desumaniza o ser humano, pois jamais propôe ou auxilia soluções. Propostas que poderiam ser de fato relevantes – como um melhor acompanhamento dos nossos jovens em idade escolar para o diagnóstico de possíveis enfermidades (transtornos de personalidade podem ser detectados ainda durante a infância, e existem tratamentos, nem sempre medicamentosos) – são varridos pra baixo do tapete em prol de opiniões arcaicas e infundadas que parecem acreditar que o ser humano é uma tabula rasa completamente ausente de opinião própria. Videogames só acontecem de ser o bode expiatório do momento.

O papel do bom jornalismo é noticiar, mas infelizmente, a busca por lucros à custa de desastres sociais e controle de opinião pública de grandes corporações pode levar até os melhores profissionais a serem obrigados a assumirem tendenciosidades. A perspectiva humana, nestes canais de informação, é ausente. À essa mídia tendenciosa, meu único conselho: ignore-a, e se possível, eduque outros a fazerem o mesmo.

Minhas profundas condolências aos familiares e amigos das vítimas.

Sobre

Rodrigo "Rod" é de Salvador, Bahia. Estuda psicologia, finge ser escritor, e acha que entende alguma coisa sobre game design.

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