– O tribunal entra em seção para o julgamento do caso Ace Attorney: Dual Destinies. – começa serenamente o calvo Juiz, após bater seu martelo contra o apoio na mesa. – A promotoria está pronta para iniciar com o discurso de abertura?

– Claramente, meritíssimo. – diz Edgeworth com um sorriso em seus lábios, se inclinando em uma pose respeitosa. – O jogo em questão foi abandonado por seu criador e roteirista principal, Shu Takumi, e sendo o mesmo uma sequência de um título que já deixou um pouco a desejar, só nos resta crer que o mesmo é um lixo completo.

– Oh, interessante! Me parece mesmo que seu ponto está claro e que não precisamos de nem mais um segundo para dar o veredito. – responde o Juiz, com a mesma cara de tonto de todo começo de julgamento. –A defesa tem algo a dizer depois de algo tão concreto?

– Isso é completamente ridículo! – grita Phoenix, fazendo sua afirmação ecoar em conjunto com uma porrada na mesa. – A promotoria, em toda sua metrossexualidade, se esquece do princípio básico do nosso sistema jurídico: evidência é tudo dentro do tribunal. Possuo aqui uma evidência que já vai quebrar completamente o caso em questão.

Edgeworth sequer se dá ao trabalho de responder, apenas cruza seus braços altivamente em sinal de descrença.

– Possuímos aqui o nome de quem liderou a direção do novo jogo: Takeshi Yamazaki. – continua Phoenix, batendo sua mão contra uma folha de papel que estava a analisar. – O japa em questão é um dos principais nomes por trás da história do quarto jogo, o que significa que Shu Takumi deixou a franquia em boas mãos.

– OBJECTION! – vocifera a promotoria. Seu dedo indicador uma lança apontada para a Defesa. – Acredito que já tinha apontado que o quarto jogo não foi lá essas coisas. Como dizer que um dos principais nomes por trás do mesmo é uma boa escolha para liderar a continuação?

– Mais uma vez eu tenho evidências para me sustentar. – Phoenix sorri, seguro de si. – Apresento aqui o enredo do novo jogo. Se você analisar o mesmo verá que, embora ele possua algumas inconsistências, acaba desenvolvendo alguns dos melhores casos apresentados em toda a série, quebrando paradigmas e tecendo tudo muito bem. O conjunto com certeza pode superar as expectativas até dos fãs mais chatos e conservadores.

– Nossa, que fantástico, agora eu fui convencido! – alega o Juiz, com seus olhos esbugalhados em êxtase, tentando fazer o menor sentido possível. – Fico feio para a promotoria, hein?

– Sinto muito desapontar, meritíssimo, mas gostaria de lembrar que com personagens e bases tão concretas como a da nossa série fica fácil fazer um trabalho desses. – aponta Miles Edgeworth, sarcástico e afiado.

– OBJECTION! – lança a defesa, sem pensar duas vezes. – São poucos os personagens e temas dos jogos anteriores que fazem seu retorno a esse quinto jogo, e, quando o fazem, geram momentos criados apenas para a alegria dos fãs, raramente se tornando ponto focal da história principal. O jogo soa mais como um reinício do que foi seu antecessor, e desempenha esse papel de maneira muito mais interessante.

– Interessante você ter mencionado os personagens. – prossegue Miles Edgeworth, como se o que a defesa tivesse dito fosse parte do seu plano para prosseguir com um gancho. – Tenho aqui evidências da péssima dublagem dos mesmos e, em um jogo com temática e agremiação de fãs tão ligados à cultura japonesa, é inaceitável não termos uma opção para escutar o áudio original. E não vou nem mencionar alguns erros gramaticais encontrados durante o script… opa, já o fiz, perdão!

– Essas evidências aqui me parecem bem concretas, com certeza. – aponta o Juiz só para dizer alguma coisa e não ficar mais em segundo plano do que já está. – A dublagem está um lixão mesmo! E cadê a opção de escutar o áudio original? Nossa, estou muito revoltado!

Os presentes na galeria se tumultuam. Seriam esses os primeiros de muitos pontos fracos do jogo a serem apresentados ali? Na bancada da defesa Phoenix transpira feito um porco no abatedouro, procurando uma evidência que o tirasse daquela posição. Quando tudo parece perdido, uma voz ecoa como trovão dentro das paredes do tribunal:

– HOLD IT! – chega gritando Apollo Justice, braço direito de Phoenix, embalado por uma musiquinha de fundo super empolgante.  – Ele está mentindo, mentor! Quando ele disse sobre a dublagem meu bracelete reagiu com seu argumento, provando que ele sabe mais sobre o assunto. E eu acho que eu sei o que é!

– Vamos ver, novato. – desafia Edgeworth, com olhos de águia. – Me dê o seu melhor!

– Acredito que, apesar de algumas falhas, a promotoria esteja omitindo que a localização do jogo continua tão consistente quanto os outros do passado. – aponta Apollo, massageando com o dedo indicador sua vasta testa. – Os nomes dos personagens dão corpo às suas características e personalidades, e os casos que se baseiam fortemente na cultura japonesa foram trabalhados de maneira bem sutil para facilitar o consumo do povo ocidental. Chupa essa, Edge!

A afirmação pegou a promotoria de surpresa, que acabou fazendo aquela cara sofrida e dando aquela despenteada momentânea no cabelo perfeito de Edgeworth. Mas ele era um homem vivido, um cara que tinha seu próprio spin-off dentro da franquia, alguém que não se abateria pela réplica de um mero novato que mal estrelou seu próprio jogo.

– Então você afirma estar feliz com o jogo? – sorri Miles, enquanto abana seu dedo de maneira negativa em frente aos seus olhos. – Olhe a sua volta, está tudo em 3D agora. Onde foi parar o charme dos sprites 2D?

Apollo e Phoenix olharam em volta. De fato, estava tudo 3D. Eles nem sabiam o que responder naquele momento, deslumbrados por só terem percebido agora a terceira dimensão. A nova descoberta também parecia ter atingido o Juiz e a galeria, que se agitavam num misto de êxtase e terror. No meio de toda confusão soa uma nova voz, feminina, imponente e decidida, ainda bastante jovem:

– OBJECTION! – era Athena Cykes, a mais nova integrante da trupe de advogados, que tem o poder de ouvir o sentimento das pessoas. – Chefe, a promotoria está tentando dissuadir a corte com mentiras. Eu sinto durante a afirmação de Miles uma grande alegria vinda do seu coraçãozinho.

– O que diabos você está falando menina? – o promotor segurava seu próprio peito como se seu coração houvesse sido dissecado ali em público. – Que bruxaria é essa?

– Eu acredito que você na verdade esteja feliz com o fato de tudo estar em 3D. – explicou Athena. – Isso é óbvio, já que essa mudança possibilita criar cenas de investigação mais claras, com ambientes mais precisamente retratados. Sem contar que isso possibilita uma animação muito melhor e mais fluída, agregando às já famosas reações caricatas dos personagens, permitindo uma diversidade muito maior das mesmas. Portanto, tal mudança só foi para melhor, não existe sequer um ponto baixo na mesma!

O tema musical havia mudado, indicando a Athena que ela realmente havia virado o jogo. O truco de Edgeworth na terceira cartada se transformou em um lindo Seis, com a mesa chutada por Athena Cykes. Entretanto, Phoenix viu que o abalo seria momentâneo e que Miles estava pronto para pedir Nove naquele conturbado truco judicial. O julgamento já havia se estendido demais, e ele não o deixaria ir além:

– Gostaria de mostrar aqui também mais um poderzinho que a defesa ganhou durante esse último jogo, para acabar de limpar o chão com o babado do terno da promotoria.

O altivo homem de terno azul se focou dentro de sua própria mente. Seus pensamentos eram entremeados por evidências e pontos chaves levantados durante o julgamento. Ele sabia que ligando todos os pontos conseguiria uma ideia concreta e irrefutável.

Ele primeiro se lembrou do que havia acabado de ser discutido por seus empregados: tanto a localização quanto os gráficos se mantinham no padrão dos últimos jogos, dando importância às características clássicas que a série mantém durante todos esses anos. Depois focou em algo que nem havia sido apresentado em corte, mas que ele tinha como provar: todas as mecânicas, novas e velhas, se uniam e mesclavam para formar um jogo completamente diverso.

Então Phoenix se recordou de algo que havia dito no começo: “O conjunto com certeza pode superar as expectativas até dos fãs mais chatos e conservadores.” – era isso! Aquele era um jogo feito para fãs, usando tudo de melhor que a série vinha juntando ao longo dos anos, como sempre devia ter sido!

-Meritíssimo, eu gostaria de apresentar um depoimento conclusivo sobre o caso. – começou Wright, agora sério e disposto a acabar com aquilo. – O último jogo, do meu caro mentado, não foi um jogo ruim, mas ele se preocupou demais em ser uma sequência para uma trilogia completamente concisa e de padrões muito altos. O jogo em questão, mesmo com a ausência de seu criador, não comete o mesmo erro. Ele simplesmente tenta juntar tudo o que agrada as pessoas que acompanham a série durante todos esses anos, para entregar mais um episódio altamente prazeroso e, conseguindo concluir esse feito de maneira concisa, acaba por superar seu antecessor.

– Então ele ainda não superou o meu jogo? – pergunta Miles Edgeworth, apreensivo.

– Nem o seu, nem o do Godot. Mas é bom pra caralho! – responde Phoenix, batendo o pau na mesa. – Infelizmente não posso dizer ao mesmo para a Franziska e o Gavin.

– Se o meu ainda está no Top 3, pode bater o martelo, senhor Juiz! – concluiu Edgeworth, com seu ego ainda intacto.

No final das contas o juiz bateu o martelo…

Todos ficaram felizes e emocionados com a vitória da defesa e voltaram para o saguão principal, onde todo mundo tirou uma foto bem bonita mostrando que a amizade prevaleceu ou qualquer coisa do gênero. Ninguém esperava que fosse diferente na verdade. Todos apenas queriam se lembrar dos bons momentos, e viver novos momentos tão bons quanto.

Afinal, não é isso que preenche aquele espaço de vontade por mais um Ace Attorney que fica no nosso coração?