NEW AGE RETRO GAMER #37: Final Fight

  7/11/2013 - 21:17   Capcom, final fight, NARG,  
 

NEW AGE RETRO GAMER #37
Final Fight
Capcom
1989

Era o final dos anos 80 e a Capcom estava destinada a dar o seu take naquele clássico estilo de “jogo de porrada”, mais comumente lembrado pela população de primos e tios de churrasco em geral pela série Double Dragon, da Technos Soft. Ela resolveu então usar uma série famosa, botar uns personagens grandões, uns golpes especiais, e reinventar o gênero. Você sabe de qual série da Capcom eu estou falando? Mas é claro! Eu estou falando de….. Street Fighter!!!!

Pera, o quê??

Sim. Por mais estranho que isso pareça, Final Fight de fato começou como um jogo da série Street Fighter – Street Fighter ’89 seria a sequência daquele primeiríssimo Street Fighter que ninguém gosta. O que se conta é que, ao fazer os primeiros testes com o público, a galera ficou noiadona dizendo que “Porra mas tem nadavê com o Street Fighter isso aqui mano!!” e a Capcom decidiu na mudança de nome. É legal pra se perceber como o conceito de “um jogo de luta” pra “um jogo de porrada” não fazia tanta diferença assim antes de Street Fighter II vir e revolucionar a porra toda.

A história todo mundo já conhece. Metro City é uma cidade onde a violência corre solta, os vândalos tacam o terror e os governantes parecem estar pouco se lixando pra isso. Infelizmente, lembra um pouco a minha amada Salvador, com a diferença que nem metrô nós temos. 🙁

Haggar é o prefeito dessa budega. Um ex-lutador de rua com bigodinho de Freddie Mercury e moveset de Zangief. Enquanto ele faz um péssimo trabalho de administrar a cidade, os membros da gangue Mad Gear avisam em transmissão pública que raptaram a sua filha, Jessica. Temendo o mal de sua filhinha e muito assustado após ver a cara de HUEHUE de Damnd na televisão, Haggar fica com fogo no zóio, esquece essas paradas diplomáticas, bota sua calça verde com suspensório brega e decide resolver essa parada na base da porrada mesmo. Antes disso, ele passa em um ginásio para avisar Cody, um amigo de infância e queridinho de Jessica, e Guy, um discípulo de ninja que não tinha nada melhor pra fazer e vai ajudar o seu amigo. (Vale citar que Guy fica muito puto no final da história pois ele não tava comendo ninguém – não vou dizer como isso acontece, mas é muito aleatório e engraçado)

AI! MEU CARRO

Final Fight é um beat-em-up: o clássico “porrada de rua“. Ande pra direita, desça o cacete em todo mundo, quebre uns barris, coma comida do lixo; nada que você não conheça de outros jogos, de outras ruas. A diferença de Final Fight pode ser explicada por três únicos quesitos: velocidade, exuberância e design.

Final Fight é assustadoramente frenético e variado se comparado a outros jogos do gênero. Os inimigos são velozes e vêm aos montes, e constantemente estarão tentando te cercar. Começa com 4 ou 5 capangas e chega a uns 9 ou 10 (!!!) lá pelas últimas fases. Tudo ao mesmo tempo! Isso cria um sistema de urgência onde você está sempre batendo em alguém (ou alguma coisa), usando o golpe especial pra sair de um combo inimigo ou apenas arremessando um capanga pra um lado e vendo um verdadeiro mar de inimigos voar pro outro canto da tela. Os barris com itens e armas especiais estão espalhados aos montes pelas fases – e descer o pau na galera com um cano na mão é uma oportunidade que nunca se deve deixar passar.

São apenas dois botões, mas a quantidade de coisas diferentes que se pode – e deve – fazer com eles impressiona, pois o jogo te força a tal. A maioria de jogos do gênero te dá alguns golpes, não muitos, e você faz o que quiser com eles. Final Fight te dá esses artifícios e te pressiona a utilizá-los de acordo com a situação. Aí você tem um grande variedade de inimigos, cada um atacando de um modo diferente do outro, vindo pra você ao mesmo tempo e te forçando e repensar a sua estratégia. Uma voadora não tira muito dano, mas vai derrubar grande parte dos oponentes e talvez seja o mais seguro naquele momento. Soma com o tanto de barris e armas, os cenários que mudam constantemente, a quantidade de músicas e os clássicos mini-games, e é difícil ficar entediado durante o jogo. Lembrando agora dos outros jogos do gênero, onde você às vezes fica no canto da tela socando o ar e esperando uma porra dum inimigo vir na direção do seu punho, eles quase parecem lentos e monótonos.

Um dos meus toques favoritos da jogabilidade é como o EX JOY (aquela porra daquele especial que tu dá um giro e derruba todo mundo, mas consome um pouco da sua energia) é absolutamente essencial. Em jogos de ação ou SHMUPS, a ideia por trás desse conceito é te dar um “botão do pânico” – algo que tu não vai querer apertar sempre, mas só quando estritamente necessário pra não acabar morrendo. Final Fight não tem um botão de defesa, ou seja, se um inimigo te pegar num golpe e começar um combo, é muito mais lógico você recorrer a esse especial e gastar um pouco da energia do que continuar levando sopapos e perder metade dela. Isso cria um balanço bizarro, no qual você tenta manter a sua energia até o próximo “frango assado a là latão” e a melhor defesa é sempre o ataque. O EX JOY é tão fundamental que serve até mesmo pra você rebater facas, coquetéis molotov e mesmo tiros lançados em sua direção. Não tem coisa mais badass que o último chefe atirando flechas com uma balestra na sua direção e você simplesmente DÁ UM GIRO NO AR E SAI REBATENDO TUDO COM O PÉ.

Na sua transição de arcades para consoles, o jogo acabou sofrendo bastante, seja pelas limitações de hardware ou pela censura (como o já famoso caso Poison, que era uma transsexual e acabou virando um cara na versão ocidental). A versão do Super Nintendo é uma das mais famosas – e ironicamente, a mais capenga. Guy foi cortado completamente da seleção de personagens, falta uma fase, não tem modo de dois jogadores, e são pouquíssimos inimigos na tela. Evite ela completamente. A versão do Sega CD, programada alguns anos depois pela própria Sega, conserta muitos destes problemas, mas é mais lenta que a original e tem uma paleta de cores nada agradável.

Originalmente esse NARG ia ser apenas da versão do Game Boy Advance do jogo, intitulada Final Fight One, mas achei melhor ir um pouco mais a fundo pra não restringir tanto a análise. Apesar de ter sido lançado logo no primeiro ano do GBA, ele foi durante muitos anos a melhor conversão do título para um console ou portátil. Ele é praticamente a mesma coisa do original, mas diminuído pra pequena tela do Advance. As poucas diferenças são algumas mudanças visuais e a censura mantida, além de também não ter taaantos inimigos na tela quanto a versão de arcade, apesar de ainda ser um bom número.As cores são bonitas e o aúdio é bom, e ele ainda adiciona alguns extras interessantes, como um diálogo cafona antes da batalha contra os chefes e a opção de jogar com Guy e Cody em suas versões Street Fighter Alpha, com novos gráficos e um moveset revisado. O melhor de tudo é certamente a combinação destes dois – enfrentar um chefe usando a versão Alpha de um dos heróis vai resultar em um diálogo tipo “Mas eu já não derrotei você anos antes? Que porra tá acontecendo?”, um toque de humor bobo mas bem-vindo.

A versão definitiva continua sendo a original dos Arcades, então, se você quer experienciar o jogo como ele realmente era, talvez sua melhor opção seja o Final Fight Double Impact para PS3/360, uma conversão perfeita do jogo e que ainda vem com o arcade Magic Sword e mais outras mamatas.

Pra uma franquia que tinha tanto potencial (e nome; e valor histórico; e ligação com Street Fighter) é estranho ver a forma que a Capcom decidiu por tomar conta dela. Houveram apenas duas sequências diretas, lançadas para o Super Nintendo, e que infelizmente não chegam aos pés do original (eu vou falar do FF2 no próximo NARG, mas já adianto que vai ser bem diferente desse aqui).

Teve um spin-off de luta para o Saturn chamado Final Fight Revenge, e o controverso Final Fight Streetwise, um reboot todo serião e marrom, lançado para PS2 e Xbox – um jogo feito por uma equipe ocidental da Capcom, a mesma responsável pelo fantástico Maximo vs. the Army of Zin. Reza a lenda que o time de desenvolvimento queria fazer algo mais descontraído, na onda do original, mas os chefões da empresa no Japão insistiram que o jogo fosse mais ~sombrio e sério~. Pior que o sistema de luta do Streetwise nem é ruim, mas os constantes loadings e perambulações trazem uma quebra de ritmo que mais atrapalha do que ajuda.

O “futuro” da série se resumiu, enfim, à participação de numerosos de seus personagens e vilões na série Street Fighter Alpha e em Street Fighter x Tekken. O que leva a Capcom a deixar um legado desses pegando poeira ao invés de adaptar para uma nova série de ação através de mãos habilidosas (tipo as da PlatinumGames) é um mistério.

Final Fight é legal porque ele é dinâmico. Não é sobre dar porrada em um carinha, e depois no próximo, e repetir – a graça dele é você conseguir manusear a enxurrada de inimigos que vêm na tua direção o tempo todo. Ele não inventou ou reinventou o gênero, mas eu diria que ele o refinou. Ele é glorioso, exuberante, expressivo e memorável – ou seja, tem bem aquela cara de Capcom. Toda a criatividade presente no design dá a ele uma sensação de ser muito além de um beat-em-up – o feeling que ele passa é de ser um título completo de ação, mesmo. Pra um jogo de 24 anos, eu diria que ele envelheceu melhor do que a primeira impressão passa, e eu me vejo frequentemente revisitando-o só pra matar uma horinha ou outra.

Aliás, quer saber? Foda-se: eu gosto mais desse jogo que Streets of Rage 2. Falo mermo!

THANK YOU FOR YOUR ENGRISH

– Disponível em um monte de lugares, mas as versões Arcade, PS3/360 e GBA são as mais recomendáveis. As imagens da versão arcade aqui presentes vem do excelente artigo sobre a série no Hardcore Gaming 101.

Sobre

Rodrigo "Rod" é de Salvador, Bahia. Estuda psicologia, finge ser escritor, e acha que entende alguma coisa sobre game design.

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