Num mundo constantemente ameaçado pelo lens flare se passa a história de Call of Duty: Ghosts (Vem pro Trampo: Fantasmas). Os protagonistas dessa história são o Cachorro, o Pai, os Dois Filhos, o Ajax (mas esse aparece rapidinho e é só pra morrer – SPOILER) e eles se metem em diversas enrascadas em lugares diversos onde explodiram bombas (e explodem mais ainda enquanto a gente passa por eles) e portanto estão em ruínas, dando um charminho visual que não tinha nos CoD antigos.
Também tem duas missões com tiroteio no espaço.
Explode muita coisa nesse jogo! Alguns reclamaram que explodiu o próprio saco por notarem que o jogo é trancado só pra quem tem mais de 6GB de RAM instalados no PC, mesmo rodando normalmente pelo steam backup independente de quanta RAM tu tenha e nunca usando mais de 2GB enquanto roda, se tu for dar alt-tab e olhar. Mas é bem bonito mesmo não usando todos esses 6 gigas, nada que se diga NOOOOSSA, no entanto é perceptível que é algo da “próxima geração”, principalmente pelo dinamismo e número de coisas acontecendo na tela.
Em lugares remotos da internet – tipo sites chamados “GAMESFODA” – existe gente que admite que sim, joga Call of Duty pela sua campanha e mal toca no multiplayer, e que aprecia o que tem de bom pra se apreciar nessas. Eu mesmo já escrevi como a campanha do primeiro Modern Warfare é uma das minhas favoritas pelo seu primor por ritmo e sobre como a do Black Ops 2 é mais “completa” mas isso acaba prejudicando mais o jogo do que ajudando – você pode ler essa baboseira toda aqui e eu recomendo pra entender sobre o que eu vou falar nos próximos parágrafos.
Eu não vou chegar aqui e dizer que o Ghosts é o novo CoD4 pois a gente já tem CoD4 e ele ainda tá lá com seu valor e nunca vai sair. Mas posso dizer que o Ghosts é o melhor Call of Duty desde o Modern Warfare 2 – que também não era CoD4 mas tinha seus momentos de brilhantismo – e não sei o quanto isso vai significar pra qualquer um que não seja eu, mas me faz muito feliz, visto que eu estava com medo de que ele fosse seguir a linha Black Ops 2 e botar um monte de “táticas” e “sidequests” e “escolhas” e “história” num jogo que deveria ser sobre atirar e andar pra frente e ficar maravilhado com o número de coisas acontecendo ao mesmo tempo. Não me refiro só a explosões, mas é tão natural você olhar pro canto mais remoto possível da sua tela e notar que algo tá rolando lá: um guardinha correndo pra se esconder, um engenheiro tentando salvar sua obra, alguém se preparando pra te flanquear. Enfim, não importa pra onde a sua câmera está apontando pois VAI TER algo lá.
E é isso que é Call of Duty: te encher de detalhes mas saber que você não liga pra eles pois é mais legal ser constantemente empurrado pra próxima onda de inimigos, então ele não esfrega esses detalhes na sua cara. No entanto se você para e olha em um dos momentos mais tranquilos do jogo (que juntos não devem dar nem dois minutos) algo vai estar acontecendo. Ghosts tenta sempre te entreter independente de onde você esteja olhando – esteja no espaço, no Rio de Janeiro, numa floresta onde houve uma queda de avião, sempre vai ter um pedaço do processamento do jogo se certificando de que algo vai estar se mexendo quando você virar rapidinho pro lado.
Essa ideia de “mundo em um corredor” serve pra dar uma sensação quase que rotineira pra tudo o que está acontecendo. Te mostra que embora você seja o organismo estranho naquele corredor – o cara doido que vai atirar no engenheiro que, ao ver seu batalhão se aproximar, tenta se esconder atrás da mesa – tudo aquilo ia acontecer de qualquer maneira pois você é exatamente isso: um cara num esquadrão. E realmente não importa se você é um dos Dois Filhos do lendário Pai ou um dos integrantes dos Fantasmas que deixou O Cara Mau pra trás em uma missão de flashback (e é isso que causa toda a merda que está acontecendo no mundo).
Call of Duty é o BLAST PROCESSING moderno.
O jogo te cansa e te dá fome enquanto você joga porque é sempre muito intenso nos seus melhores momentos e te faz rir do texto abismal nos piores. A campanha de Ghosts é mais ou menos o que aconteceria se o Michael Bay dirigisse as cenas de ação de um filme que teve seu roteiro escrito pelo Shinji Mikami – é tão ruim que dá a volta duas vezes até você esquecer que tem uma história rolando ao fundo e só aproveitar o quão meticulosas são as técnicas pra te fazer sempre andar pra frente e atirar sem colocar nenhum marcador de missão na maior parte do tempo, parecendo até alien quando esse marcador aparece e você pensa “ué, não tinha antes?” e nota que não, não tinha, durante as últimas três horas você prosseguiu metade do jogo sem nem notar que foi levado por ele ao invés de levá-lo.
Max Payne disse no seu segundo jogo homônimo que quando você está olhando pelo barril de uma arma o tempo parece estar em câmera lenta. Quando você recebe aquela descarga de adrenalina ao estar descendo um prédio por uma corda do lado de fora atirando em quem tá dentro parece realmente que o jogo entra em câmera lenta – e talvez entre, eventualmente eu rejogarei pra me certificar – e todo o sangue e vidro sai voando como se estivesse dançando ao som da valsa mais METAL que existe. Então você se lembra que é uma missão stealth, dá um risinho e aceita o quão ridículo é tudo. Então você nota que a maioria dos videogames são ridículos e que esse só não tenta esconder isso.
Call of Duty é ridículo. Antes, quando ele retratava a segunda guerra mundial, não era ridículo. Não era tão bom, também. Não tinha um cachorro.
O Cachorro não é tão presente quanto os trailers fizeram parecer, ele está lá e tem uma missão que você controla ele e aparece escrito “PRESS F TO BARK”, mas não é um ponto vital e também não está lá só pra manipular você emocionalmente em momentos tensos, ele também é só mais um membro do esquadrão, só acontece de ser um pouco mais peludo que os outros. O nome dele oficial é “Riley”, mas é O Cachorro.
O que eu quero dizer com tudo isso é que se você se decepcionou com Sonic Lost Worlds você deve jogar Rayman Legends. Se não está com vontade de Rayman, jogue Ghosts. É praticamente a mesma coisa, mas tem mais caveiras e os bonecos parecem de verdade.
Ghosts é de novo um jogo sobre nunca parar e sobre ter algo pra fazer mesmo se estiver parado. Infelizmente tem o nome “Call of Duty” então todo mundo vai julgar de cara, mas é a coisa mais retardada e sensacional que você pode fazer sem compromisso algum com o que vai acontecer lá ou vai deixar de acontecer.
Enquanto eu jogava, me lembrei daquela paródia de Bulletstorm, a “Duty Calls”, que retratava um FPS militar e que cada vez que você atirava o barulho da arma era alguém gritando “BORING” pra mostrar que Bulletstorm era zoeira, não se levava a sério, ia ter uns bichos gigantes e ia botar esses outros FPS no chinelo com o quão legal ele seria. Bulletstorm nunca chegou no nível de Call of Duty de zoeira, é só que é tudo tão sépia que parece que não é zoeira, mas é sim. E se não for, não faz diferença.
Call of Duty: Ghosts conta uma história, mas eu não lembro direito dela. Call of Duty: Ghosts tem multiplayer, mas eu joguei pouco dele. Call of Duty: Ghosts tem um cachorro. Tem explosões, armas, homens suados, sangue. Tem uma esteira invisível que te faz sempre ir pra frente sem você perceber.
Depois disso tudo tem um gancho pra continuação, e aí tem os créditos, e aí toca Eminem. Então a plaquinha de fim de fase gira, como não girava há quatro anos.
Call of Duty: Ghosts está disponível pra PS3, Xbox 360, Xbox One, PS4 e PC (versão jogada).
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