Knack, Ryse, e a síndrome de Estocolmo

  5/12/2013 - 23:07   comunidade, rant,  
 

A síndrome de Estocolmo é um termo comumente usado para definir pessoas que entram em um estado de simpatia ou compaixão diante de quem os acua. Mais especificamente, foi nomeado a partir de um episódio de sequestro que ocorreu em Estocolmo (dã), onde as vítimas ficaram seis dias em cárcere e, ao serem liberadas, apresentaram um comportamento de tentar defender os seus carcereiros.

Um comportamento similar acaba acontecendo no lançamento de novos consoles. A gente já discutiu isso aqui no site em um podcast: lançamentos de consoles geralmente são meio cilada. Hardware defeituoso, jogos meia-boca que tiveram pouco tempo no forno, e nada que justifique muito o pulo. Exceções existem, lógico (Super Mario 64 e Soul Calibur sendo duas consideráveis), mas quase sempre o catálogo se resume a uns jogos meio miados que a galera joga pois não tem mais nada disponível.

O mal é que sempre tem aqueles tipos que gostam um pouco demais não de jogos, mas de empresas. Os típicos “paladinos” de consoles que buscam defender todo o mundo da falta de informação através de sua ótica ultra apurada que ninguém mais foi sagaz o suficiente pra perceber. Essa síndrome é tão mais bizarra que a de Estocolmo que tem gente que discorda de opinião até do que não jogou. Faz sentido uma porra dessas?

Os recém-lançados PS4 e XONE, obviamente, não ficaram de fora dessa. Considerando o mundo conectado de hoje, aliás, talvez tenham tido a pior dessas rinhas em muito tempo. Do lado da Sony temos Knack, um jogo de plataforma repetitivo com um bicho feito de pedaços pra caralho de qualquer coisa, feito para poder mostrar o poder do sistema em renderizar pedaços pra caralho de qualquer coisa. Do outro, temos Ryse, um jogo da Crytek sobre um soldado romano que lidera uma rebelião, e segundo os comentários de quem jogou, é bem pra poder mostrar o poder do sistema em renderizar soldados romanos mesmo, tendo uma jogabilidade bastante repetitiva.

Os dois jogos foram criticados por… uh, serem bastante repetitivos e não servirem pra muita coisa além de mostrar o poder do sistema. Tem um padrão aqui. Você tá vendo ele?

Jogos não se fazem da noite pro dia: levam (MUITO) tempo, dedicação e bufunfa, e mesmo com todos esses fatores, não há uma garantia de que o jogo vá sair bom. Jogos feitos para o lançamento de um console, obviamente, são bancados pelas empresas que manufaturam o hardware tem um objetivo bem claro: convencer o consumidor de que a compra do console vale a pena. O problema é que não há tempo hábil de se conhecer a arquitetura de um sistema o suficiente para fazer algo fodão ao mesmo tempo que você faz um jogo completo em um espaço de tempo curtíssimo. Concessões vão ter que ser feitas. E isso quer dizer lançar um jogo que até mesmo os produtores tem total ciência de que não é grande coisa; mas alcançando o seu objetivo de convencer o consumidor, é uma tarefa cumprida.

O estranho, mesmo, é que muita gente que não compreende isso tenta “justificar” a mediocridade de certos jogos. É inconcebível que tal jogo não seja bom; tipo a criança que joga aquele joguinho beeem merda e acha que a culpa é dela, que ainda não aprendeu a jogar direito. Em qualquer fórum que você vá, vai ter alguma gente defendendo os tais Knack e Ryse, dizendo que “não é tão ruim quanto dizem, é um jogo ””nota 6,5””, o que em fórum lingo, é o equivalente a dizer que se o mesmo jogo fosse lançado daqui a uns três anos não ia ter absolutamente ninguém dando a mínima pra ele. Mas como é um jogo de lançamento, e é atrelado a marca da empresa desenvolvedora, então ele claramente deve significar algo, e não apenas ser um produto meio “feito nas coxas” para sair ao mesmo tempo que o hardware.

A real é que eu nem joguei Knack ou Ryse, então nem posso falar se são tão ruins ou nem-tão-ruins quanto todo mundo tá falando. Pela minha ótica, eles nunca mostraram nada que parecesse digno de atenção, e com isso os considerei um tanto irrelevantes, e ao que tudo indica, é bem capaz que sejam mesmo. Isso aqui não é sobre os dois jogos que julguei irrelevantes. É sobre quem vive em um estado de negação tão forte que não consegue encarar que, desprovidos de seu contexto atual, eles provavelmente seriam tão irrelevantes quanto realmente são. Que pra uma publisher, faz mais sentido eles lançarem um jogo que não é lá grandes coisa do que não lançar jogo algum. Acho que nenhum desenvolvedor que se preze vai querer fazer algo de fato ruim quando trabalha em um jogo. É um desamor desnecessário. Mas a maioria compreende que nem sempre dá pra fazer tudo tão bem quanto eles próprios gostariam. É uma aceitação – algo que quem produz certamente entende melhor do que quem só critica.

Então, não vejo muito sentido em querer defender algo que, em si, não exige defesa. Se a pessoa verdadeiramente se divertiu com tal jogo, seja como ele for, porra, ótimo! Só não tem pra quê tentar empurrar coisa goela abaixo de quem não compartilha dessa opinião. Talvez quem não goste desses jogos não o faça por motivos de ser “hater” ou essa bobagem toda que a galera inventa – talvez ele curta tanto videogames que sabe que não vale a pena ficar brigando por isso. Talvez ele curta tanto, que acha uma bobagem essa guerrinha de faz-de-conta entre consumidores. Talvez ele curta tanto, mas tanto videogames, que não vê motivo pelo qual ficar se debatendo tanto sobre jogos que não apresentam nada de verdadeiramente revolucionário ou especial para a mídia, e que em um ou dois anos, provavelmente serão tratados com uma completa irrelevância – que talvez até mereçam.

Sobre

Rodrigo "Rod" é de Salvador, Bahia. Estuda psicologia, finge ser escritor, e acha que entende alguma coisa sobre game design.

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