Qualé a desse tal de… Gran Turismo 6

Apreciar Gran Turismo não é mais para todo mundo. A série que apareceu no velho Playstation com os dois pés no peito e chegou chegando agora comemora seus 15 anos de forma apática, impeditiva e – o mais triste – abaixo de sua própria capacidade. É difícil avaliar Gran Turismo 6 sem traçar paralelos diretos com seu antecessor, não só por ser uma evolução bastante natural em sua boa parte, mas por repetir muitas de suas falhas. É injusto chamá-lo de Gran Turismo 5.5, mas acaba não passando muito longe da verdade.

Os menus estão mais rápidos e bonitos, o que não é exatamente muito mérito.

É necessário ressaltar que o trabalho da Polyphony Digital é soberbo no que diz respeito à engine, entretanto. Dirigir é mais realista e preciso, a suspensão deu um largo passo na direção dos badalados simuladores de PC e os pneus melhoraram um bocado, ainda que em menor escala. Isso, aliado ao modo online que ganhou mais opções e profundidade, torna o jogo bastante desafiador e atrativo pra quem gosta de competir com os amigos, correr em campeonatos de fóruns por aí, ou quem, como eu, é um grande apreciador da arte de correr horas seguidas sozinho tentando bater o próprio tempo.

Em alguns carros é possível assistir todo o movimento da suspensão trabalhando, coisa fina.

Ainda no mérito da conectivida de, a competição com os coleguinhas agora vai muito além de números numa tela. Todos os tempos de seus amigos em testes de Licença e Eventos Sazonais aparecem em seu jogo em tempo real, numa linha demonstrando o traçado tomado por eles. É gratificante chegar em casa cansado e desanimado e ver que o Fabão baixou mais de dois segundos de uma volta que eu já considerava além dos meus limites. É uma ferramenta interessante e uma forma poderosa de instigar a competitividade latente de um jogo que acostumou seu público a ser monótono. Passar o teste de uma Licença não é mais só fazer Ouro, é destruir completamente sua lista de amigos da PSN.

O que é ótimo, já que o jogo em si tornou-se extremamente fácil. Os Desafios extras descabelantes de outrora não existem mais, Sebastian Vettel’s Red Bull Challenge nada mais é que uma tenebrosa sombra de um passado cruel e distante. A inteligência artificial passou por um curioso processo de melhoria que só a deixou mais confusa e bizarra: os oponentes são muitas vezes perfeitos e velozes por quase toda a corrida, apenas para nas duas últimas voltas levantar o pé e entregar a vitória de mão beijada. Ficaram mais agressivos, o que significa que vão enfiar o carro no seu para-choque sem pestanejar. É esquisito, de muitas formas, principalmente porque as corridas continuam não sendo corridas, são desfiles de carros irados seguindo a mesma linha, comportados, um atrás do outro, que ocasionalmente te dão uma fechada escrota, mesmo quando são retardatários em corridas mais longas.

Tinha gente que chorava só de ouvir o nome do piloto alemão.

Falando nelas, os famosos endurances de até 24h de duração que criaram diversos mitos ao redor da franquia também não existem mais, ao menos por enquanto. Parece até birra por parte da produção do jogo, que deve ter ouvido muita merda de gente que não queria passar tantas horas dirigindo, então a prova mais longa de Gran Turismo 6 é a lendária 24 Minutos de Le Mans. Ainda é possível criar suas próprias competições no modo Arcade, mas oficialmente é isso aí.

No geral, ainda existem muitas marcas e categorias licenciadas para o jogo. Carros de turismo, naturalmente, NASCAR, protótipos dos mais variados e os charmosos carros de rally oficiais do WRC – que pode ser resumido como a Formula 1 da terra e da neve, pros menos íntimos. Então onde raios estão os campeonatos de Rally? Como é possível ter três ou quatro carros feitos para a mundialmente conhecida Pikes Peak Hillclimb e não ter a pista? Boatos apontam pra sua inclusão desde o 4º jogo da franquia e a impressão que fica é que está ficando um pouco tarde. Gran Turismo 6 tem menos eventos do tipo que o 5, e a física das corridas na terra e neve melhorou estupidamente mais em relação ao asfalto e é facilmente uma das melhores simulações do gênero a que tive acesso. Tenho o hábito de jogar muita corridinha e, pode confiar, Dirt não chega nem perto, o jogo oficial do WRC (exclusivo do mercado europeu) é uma piada de mau gosto e os simuladores de PC têm muita dificuldade em manter a qualidade fora da pista.

Muitos. Carros.

Há muitas decisões difíceis de compreender contidas num disco tão pequeno. Os carros usados, presentes desde os primórdios e que davam um charme especial ao início da carreira Gran Turismesca, não existem mais. Em contrapartida, os carros Standard e Premium continuam existindo, com a diferença de que todos são vendidos no mesmo menu e é preciso ter cuidado durante a compra pra escolher um dos noventa e dois Nissan GT-R que tenha o interior com painel detalhado. Também não é mais possível emprestar carros para os coleguinhas, o que até não deve fazer tanta falta assim mas deve ser mencionado. O Free Race que costumava ter diversas opções foi rebaixado a um limitado Single Race no Arcade Mode e, na boa:

Imagem: Site dos Menes

Ainda no mérito das decisões duvidosas, uma das grandes queixas em relação ao jogo anterior era a falta de danos visuais nos carros. Pois bem, agora existe um dano patético semelhante ao de outros jogos que mais dá pena do que imersão. Espero que estejam satisfeitos porque a culpa é de vocês. Se é pra incluir um feature no jogo, que seja bem feito ou que não incluam coisa alguma. Esse esquema de para-choque amassar sempre no mesmo lugar me parece uma distração do que realmente importa nesse tipo de jogo: dirigir. Já a sujeira de terra e neve nas corridas de rally é bonita e natural. Acho que estamos identificando um padrão aqui, amigos.

E já que agora estamos metendo o pau na parte que realmente não evoluiu nada, precisamos falar do som dos motores, porque até dá pra dirigir sem bater o carro mas sem ouvir nada não rola. É um pouco frustrante além da conta observar que jogos muito mais puxados pro estilo de arcades e sem nem sombra do comprometimento que Gran Turismo tem com o gênero possuem sons tão melhores. São sons irreais, claro, e muitas vezes não correspondem aos carros dirigidos, mas são melhores do que aspiradores de pó – e é isso que você vai ouvir em quase metade dos carros aqui. É triste, até. Existe toda uma questão psicológica que envolve dirigir um carro a mais de 200km/h e, definitivamente, o som do motor é insubstituível na equação. Novamente, é difícil compreender o que leva uma empresa a dedicar tanto tempo e recurso pra mapear circuitos bem e criar carros que se comportem de forma realista para errar em algo tão primário. Muitos carros possuem sons ótimos, boa parte possui sons aceitáveis, mas um número grande o suficiente pra incomodar possui sons inaceitáveis e não é possível evitá-los.

Esta foto só está aqui pra lembrar que dá pra dirigir na lua nesse jogo e que respeitamos um cara que acha que isso é uma boa ideia, valeu Yamauchi!

É importante mencionar ainda que o alardeado conteúdo do nosso tricampeão mundial Ayrton Senna, também conhecido como o maior piloto de corrida que já viveu neste e em outros universos, não está disponível. O que se tem no momento é o uniforme usado por ele em 1988, na McLaren de seu primeiro campeonato, com capacete e tudo mais. É um simples paliativo pra dar aquela segurada. Mais informações a respeito do conteúdo extra devem surgir perto das comemorações dos 20 anos de seu legado, em Maio. O modo de criação de pistas também ainda não tem data certa pra chegar, mas reza a lenda que andou sendo testado por aí.

(Pausa pro amigo leitor se sentir velho porque já faz 20 anos da morte do ídolo máximo. :’( )

Isso demonstra outra característica recente da franquia, a de se manter atualizada o tempo todo. Pode ser que daqui alguns anos esse review seja um monte de abobrinha sem fundamento porque a Polyphony Digital consertou todas as cagadas do lançamento e eu fique com cara de bunda. Tomara, certo? Foi assim com Gran Turismo 5, o atual e o do lançamento são jogos completamente diferentes. De uma forma ou de outra, demonstra que a produção leva a sério o que faz e que, com sorte, está aprendendo com todos esses erros. Não se pode desmerecer os acertos por conta disso, e eles são muitos.

O lendário Festival de Goodwood também marca presença, numa declaração de amor aos mais aficionados.

Sim, Gran Turismo 6 é bastante bom, apesar de tudo. O problema maior é que ele se encontra numa tênue linha, indeciso sobre ser um videogame ou um simulador, e acaba pecando em ambos os lados por conta disso. Há muito esforço e muita dedicação em toda parte, sejam nas atualizações constantes que fizeram este review ser reescrito três vezes do zero (eu tardo mas não falho, porra!), sejam nos carro-conceito criados por empresas das mais variadas – Air Jordan, por exemplo. O que fica claro, entretanto, é que apreciar Gran Turismo não é mais para todo mundo. Decisões estranhas e proibitivas afastam a massa maior, restando apenas os fãs da franquia ou fãs de automobilismo. Para estes o jogo é um passo na direção correta, resta saber onde raios ela vai dar.

Sobre

André Guerra é membro da resistência carioca do GAMESFODA, mesmo sendo paulista. Largou tudo pra ser professor, é desses que joga simulador de corrida com câmbio manual e sem controle de tração.
  • Leandro alves

    acho GT um excelente jogo de corrida. mas essa parte de correr na Lua…foi demais, não precisava.

  • PauloBarbosa

    controlar o carro precisa de paciencia e tiraram um modo muito bom o B spec grande erro e um jogo razoavel o cinco conforme disse melhorou com o tempo este ainda é mediano

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