Tretas de Hong Kong – Jojo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle

“Gente, mas o que é Jojo?”.

Meu Deus do céu, que bom que perguntou! Aproveito pra dar uma explicada rápida: Jojo’s Bizarre Adventure é uma série de mangá que teve seu início em 1987 e continua sendo publicada até hoje. Ele conta a história da família Joestar por gerações, sua luta contra Dio Brando e as consequências de suas ações. Imagine Final Fantasy, só que com continuidade. Cada parte de Jojo tem um novo pacote de protagonistas e inimigos, mas segue a ordem cronológica dos eventos.

Quando falamos de uma série tão repleta de personagens e com tanto tempo de existência, não é de se espantar que mais cedo ou mais tarde apareceria um jogo que reunisse todas as tribos. Na verdade, o surpreendente é que demorou demais para sair. Existem poucos jogos de Jojo e ele só foi ganhar um anime na sua celebração de 25 anos (mesmo ano do anúncio desse jogo), então pode ter certeza que a expectativa dos fãs era altíssima, mesmo que tenha sido produzido pela CyberConnect2 em conjunto com a Namco Bandai. Isso fica bem claro no fato do jogo ter acumulado mais de 500,000 cópias vendidas antes mesmo de sequer sair.

Mas antes de tudo é importante que eu deixe uma coisa bem clara: sou fanboy demais dessa série, então minha opinião nesse review vai ser dividida em duas partes: a que eu tento ser um pouco mais racional, e o lado mais fanático, que será representado de agora em diante sempre em rosa, porque sim. Ou será que isso é roxo? Enfim…

Mesmo não conhecendo a série, talvez você tenha ouvido falar sobre as controvérsias por trás do jogo, a começar pela nota 40 que ele recebeu da Famitsu. Beleza, hoje em dia esse tipo de nota já perdeu a credibilidade, mas algumas pessoas ficaram putas (com razão, ou não) ao ver um jogo de luta de anime ganhar uma nota perfeita. Pra cavar ainda mais fundo na ferida, a recepção dos jogadores após o lançamento foi bem conturbada, e ele até acabou ficando taxado como “jogo Free to Play dentro de um jogo de 70 dólares”. Todos os elementos estavam lá: barra de tempo, porcentagens ridículas e itens para serem comprados com dinheiro real para facilitar o jogo. 

O que a maioria das pessoas não notou é que o modo basicamente substituía aquele esquema que a Capcom sempre fez de cobrar por roupinha extra de personagem. Aqui o jogo estava te dando basicamente de graça, só pedindo um pouco do seu tempo em troca. O princípio da coisa pode trazer alguns problemas caso você esteja disposto a aceitá-lo, mas entrarei nesses detalhes mais tarde.

Eu não sou de me ater a gráficos, muito menos de ficar exaltando jogos apenas por isso, mas… puta que pariu, que jogo bonito! É incrível como a CyberConnect2 conseguiu deixar os modelos 3D iguais à arte do manga. Jojo, sendo um manga que existe há muito tempo, mudou seu traço e estilo de arte muitas vezes, e isso fica muito claro deixando os personagens lado a lado. Mesmo assim, funcionou perfeitamente no jogo. Todos os personagens são bem diferentes, mas nenhum fica muito deslocado. Além disso, até poses e cenas icônicas de personagens foram adaptadas muito bem quando levadas ao 3D.

Fica difícil falar sobre isso sem parecer fanatismo, mas o negócio é tão detalhado que cada golpe dos personagens e a maioria dos frames deles foram tirados de algum painel do manga, quase que perfeitamente. Ele é completamente cinemático nos golpes especiais, às vezes seguindo à risca até os ângulos de visão utilizados no material original. É um tipo de esforço e dedicação completamente absurdo pra agradar também quem repara nos mínimos detalhes, e é provavelmente aí que está boa parte da razão da nota 40 da Famitsu. Mas claro, um jogo não é só animações, gráficos e música (que não comentei, mas é excelente). Ele tem que ser avaliado pelo pacote completo, o que nos leva ao jogo em si.

O jogo… ele não é ruim, se você não estiver esperando um jogo de luta completamente balanceado. Cada personagem luta com seu estilo: alguns usam um poder que da uma propriedade tipo os EX do Street Fighter para os golpes; alguns usam seus “Stands”, meio que espíritos guardiões; alguns até lutam com armas ou em cima de cavalos.

Isso tudo é divertido e me satisfaz, mas quem está no meio competitivo dos jogos de luta costuma dizer que nesse aspecto ele é bem fraco. Rolou até bastante reclamação e gente cancelando ou revendendo o jogo por causa de bugs de combos infinitos e outros esquemas, mostrando que um certo público acabou sendo alienado. Talvez porque esse pessoal estivesse muito apegado a um outro jogo de luta antigo de Jojo para CPS3,  produzido pela Capcom. Ele só tratava sobre a parte 3 da série, mas é até hoje um dos jogos de luta 2D mais bonitos que já vi, abusando do poder daquele novo hardware e da experiência da Capcom com o gênero. 

Sinceramente, o novo Jojo não é ruim, só faltou as pessoas largarem mão desse sentimento de nostalgia que insiste em compará-lo ao antigo. 

– Mas, cara, é um jogo de luta que roda a 3o fps.
– Grandes merda, é jogável.
– Até é, mas isso é um absurdo! E a CC2 tem experiência nenhuma com jogos de luta mais sérios. Eles deviam ter tentado algo mais zuera.
– Mas eles tentaram, isso é o que importa.
– Não, não é.

Enfim, complicado.

Não se deve esperar muito do modo história de um jogo de lutamas valer dizer que aqui não tem quase nada de conteúdo. O modo se resume a textos e algumas lutas cruciais, sempre no mesmo cenário da obra original, e com a mesma luta às vezes se repetindo várias vezes. Ele está ali só por estar e foi mais uma das grandes reclamações quanto ao jogo, provavelmente porque a CC2 tem no currículo outros modos história bem envolventes, com bastante conteúdo do material original, como na série Naruto. Embora talvez essa fórmula não viesse a funcionar tão bem com Jojo, que tem personagem até demais.

OK, chegou a hora de dedicar um tempinho explicando o modo Campanha do jogo, onde estão concentradas as maiores controvérsias. Como funciona? Basicamente, você tem uma barra de energia (igual à jogos de Facebook) e seu objetivo é procurar e derrotar os chefes. Gasta-se uma barra para procurar por um chefe e cada chefe tem chance de no máximo 5% de aparecer. Há alguns “eventos” nesse modo onde você encontra um personagem e ele te ajuda em algo, como por exemplo escolher algum chefe para aumentar para 100% a chance de encontrá-lo. Se não encontrar o chefe, você luta contra uma “visão”, que é um personagem que algum jogador escolheu (com sua roupa, cor, taunts e frase de vitória) e que foi colocada na rede. Toda vez que sua visão ganhar ou perder de alguém você ganha alguns pontinhos que servem para habilitar outras coisas no jogo. Terminando essa luta, é possível continuar procurando por chefes.

O chefe, quando encontrado, apresenta uma barra de vida única que não tem nada a ver com a que ele tem dentro do jogo. O esquema é o seguinte: se você derrotar ele em uma luta, ele perde X de vida dessa barra universal. Geralmente é um valor muito baixo, mas, se você gastar suas “barras de energia”, adiciona um multiplicador de dano que vai aumentando o quanto da vida do chefe pode ser tirado de uma vez só. É aí que você acaba gastando todas as suas energias. A treta inicial é que cada energia demorava dez minutos pra recarregar, um tempo absurdo que depois foi rebaixado pra cinco minutos, e agora, na versão americana, dois minutos. A malandragem está na opção de comprar itens com dinheiro real para acelerar o processo todo, seja deixando os chefes mais fáceis, encontrar um deles sempre ou recuperar sua energia. Sim, você pode gastar seu dinheiro em troca do seu tempo, e foi isso o que deixou muita gente puta, porque o prêmio por jogar esse modo consiste basicamente em roupas alternativas para os personagens. 

Mas daí fica a dúvida: é pior isso ou ter que pagar cinco dólares por cada roupa? Há quem diga que há um problema no princípio da coisa e não na execução, e não posso discordar muito, mas nesse caso não acho que tenha sido tão ruim. Também surgiram reclamações em relação aos nove personagens de DLC, mas o jogo já começa com 32, um número bem alto pra um jogo de luta em sua primeira iteração. 

Alias, isso é outra coisa que eu quero falar: o jogo tem uma quantidade absurda de conteúdo. Além de roupas alternativas, cada personagem tem cinco taunts, cinco poses de vitória e mais uma caralhada de frases icônicas da série. É o sonho de todo fã. Claro que tudo isso só vale se você realmente curte a série. Pra quem olha de fora esses mimos podem não ter tanto valor. 

Eu falei e falei, mas não cheguei a conclusão nenhuma. Isso porque há uma luta constante entre o meu lado que viu todo o amor colocado no jogo pra quem queria ver muito fanservice da série, e o lado que acha que o jogo, para alguém que não se importa com a série, é apenas OK. Sinceramente, eu acho que o jogo cumpre o que ele propõe. Não é pra qualquer um (como a maioria das adaptações de uma série de outra mídia), mas, considerando o público-alvo para o qual ele foi feito, é excelente. 

Sobre

Luiggi "Afro" Ligocky é um pseudo-artista que estuda a área de jogos digitais. É um adorador de jogos japoneses e bizarros desde a época em que ganhou seu Super Nintendo. Grande fã da Nintendo, Konami e Sega.

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