Sobre amizades, ética e corrupção do jornalismo de jogos (de novo)

  28/08/2014 - 15:59   polemica,  
 

Quem costuma prestar atenção na tretas da internet deve ter acompanhado os acontecimentos das últimas semanas. Pra quem tem mais o que fazer, aí vai um resumo: uma desenvolvedora, Zoe Quinn, foi acusada de ter feito sexo com jornalistas com o intuito de ganhar exposição na mídia, o que trouxe novamente à tona o debate sobre ética e corrupção no jornalismo de jogos. Como ficou claro que tem gente aí que não tem nenhuma noção de como funciona a indústria, acreditando que todo mundo é comprado e corrupto, acho que essa é uma boa hora para esclarecer algumas coisas.

Houve pedidos pra gente fazer aqui um post sobre o caso específico da Quinn. Este texto não é sobre isso. Inclusive, tal post  nunca vai existir por uma razão bem simples: isso aqui não é site de fofoca. Vocês devem ter notado que nenhum site grande se pronunciou sobre o assunto, porque eles também não são tabloides. A única fonte da notícia é um texto escrito pelo ex-namorado da garota que supostamente foi traído. Não é uma fonte confiável e, mesmo se fosse, foda-se, ninguém tem nada a ver com a vida sexual deles.

Corrupção no jornalismo de jogos com certeza existe, assim como existe em qualquer outra área do jornalismo – qualquer outra área profissional, arrisco dizer – mas não é qualquer relação besta entre um desenvolvedor e um jornalista que indica isso. Quando você entra nesse meio, eventualmente acaba conhecendo e se rodeando de pessoas que trabalham com jogos. Através do GAMESFODA nós conhecemos e acabamos fazendo amizade com muita gente da área. Isso é normal. Você precisa falar com essas pessoas frequentemente, especialmente desenvolvedores, se quiser reunir um material interessante pra postar. Balancear essas relações é uma coisa difícil e até hoje o pessoal ainda não sabe exatamente qual a melhor maneira de lidar, inclusive a gente.

Aliás, especialmente a gente. Ninguém aqui tem formação de jornalista ou experiência prévia. O GAMESFODA começou de forma bem espontânea, quase como uma piada, e as pessoas que escrevem aqui o fazem só porque gostam muito de video games e de se expressar em relação ao assunto. Eu, em particular, que sou um dos fundadores do site, venho do desenvolvimento de jogos, trabalhei em várias empresas e até hoje ainda trabalho nesse ramo.

Dito isso, acho que alguns posts do site poderiam ter sido mais transparentes. Não acho que eu tenha sido injusto em nenhum artigo ou review, porque eventualmente conhecer as pessoas que fizeram o jogo nunca nos influenciou (se teve post sobre ele é porque achamos que merecia mesmo), e em caso de reviews especificamente, sempre procuramos ser imparciais. Mas é legal vocês saberem que eu e algumas pessoas do site temos sim “laços de amizade” com o pessoal da Joymasher, Miniboss, Aduge, entre outros estúdios brasileiros. Nunca tentamos esconder e na verdade nem tem nem como, já que meu nome está nos agradecimentos especiais do Qasir e o GAMESFODA nos do Oniken. Ajudei a testar ambos os jogos e o Odallus também. Oras, o Hynx é até um personagem jogável no Knights of Pen & Paper.

Vamos começar a deixar essas coisas mais esclarecidas nos posts sobre jogos nos quais tivermos algum tipo de participação (não que sejam muitos), só porque achamos importante essa transparência mesmo. Como sempre foi feito, continuaremos mantendo o foco para separar ao máximo as duas coisas, mas se mesmo assim alguém quiser deixar de confiar na nossa opinião sobre esses jogos por causa disso, bom, é um direito de cada um.

Se há corrupção no meio do jornalismo de jogos, o apoio a um desenvolvedor indie fodido, seja por amizade e/ou consideração ao esforço, é a menor delas. Tem publisher grande, com dinheiro e motivos bem menos “nobres”, fazendo merda muito maior e todo mundo achando lindo. Essa é uma boa oportunidade para refletir e rever essas prioridades aí.

PS: Sobre o caso do Patreon que o Kotaku proibiu os funcionários de apoiar e o fato do Polygon agora exigir que todo escritor avise quando estiver apoiando algum jogo: é tão besta achar que alguém é “vendido” porque apoia um Patreon/Kickstarter quanto achar que alguém é vendido porque comprou um jogo na pré-venda. Dar 20 reais num Kickstarter não faz de você um investidor. De qualquer forma, ao meu ver, se você acha que um jogo é interessante o suficiente pra você estar apoiando o projeto no crowdfunding, tem mais é que falar do jogo no site mesmo. Uma das coisas que eu tento trazer pro site são jogos que eu acho interessantes e dos quais não tem ninguém falando.

Tuba

Sobre

Arthur “Tuba” Zeferino é co-criador do site, programador e brother indie.

Visit the best review site wbetting.co.uk for William Hill site.