Qualé a desse tal de… Destiny

  16/09/2014 - 13:51   destiny, review,  
 

A melhor coisa de trabalhar no GAMESFODA é a festa de fim de ano da firma, sem dúvida. A segunda melhor são vocês, leitores. Não somos lidos por um número monstruoso de pessoas, entretanto aquele velho papo de qualidade ser melhor que quantidade se faz reconhecer a cada contato que fazemos, seja pelo podcast ou redes sociais. Seu raciocínio e compreensão estão além do jogador de videogames médio brasileiro – o que é fundamental para que a gente fale desta que é a experiência mais ambígua que tive na última década.

Pois bem, LEITORESFODA. Não tenho certeza do que me faz continuar a jogar Destiny. Não gosto muito nem sou habilidoso em jogos de tiro, especialmente em primeira pessoa. Também não sou um grande fã de MMOs. Definitivamente não morro de amores pela Bungie. Se ainda houvesse a justificativa de que é uma obra-prima e o melhor jogo do gênero de todos os tempos, tudo bem, mas também não é o caso. Só que, por algum motivo, quero jogar Destiny o tempo todo. Quero jogar Destiny agora ao invés de escrever isso aqui. Quero jogar Destiny quando estou na rua, durante minhas refeições; quero substituir as horas de sono por horas de um jogo repetitivo que não me oferece nada que eu já não tenha visto em outro lugar. Sentimentos conflitantes em toda parte, bacharéis.

Este é minha LENDA. O chamamos de Mega Man.

Não vou falar de todos os problemas mundanos de Destiny. Vocês são bons demais pra isso. Vocês entendem que o que hoje é crucificado por uma massa enorme de jogadores obtusos, não estará mais lá amanhã. Mas vale a pena comentar alguns deles, ainda que vocês já tenham lido tudo em outro site.

Dos problemas da plebe, a reutilização dos inimigos é de fato o mais decepcionante até agora. Se você enfrentou um chefe ao fim de uma missão, certeza que já o viu em tamanho menor pelo cenário ou ainda o verá num momento próximo. As lutas contra estes chefes também não são muito diferentes de combater os inimigos comuns, só que causando mais dano e precisando de mais tiros para morrer – com raríssimas exceções. O design dos inimigos é bastante bom, mas vemos tantas vezes os mesmos personagens que enjoamos rápido. Destiny também é competente em repetir as missões do jogo. Invariavelmente o jogador deve ir de ponto A até o ponto B enfrentando alguns alienígenas, lutar contra três ou quatro ondas de inimigos, enquanto o Ghost destranca uma porta ou colhe informações e seguir para o próximo ponto – repita o processo até terminar. É isso. Todas as missões de Destiny seguem esse script, inclusive os Strikes, missões mais difíceis e longas que devem ser feitas com três jogadores. E quer saber? Quero jogar mais disso tudo imediatamente, porque não importa se é tão repetitivo quando é uma delícia crocante.

É importante saber o momento certo para dançar neste games: todo momento.

Existem ainda alguns problemas que não se encaixam exatamente em gameplay. Destes, o que mais me perturba é que passaram-se muitos séculos do período atual, a humanidade explorou o universo, tornou viável a imortalidade para seus guerreiros, lutou contra um mal indestrutível e ainda usa rifles automáticos e escopetas. Não é possível sequer pegar armas dos inimigos, com tiros que perseguem o alvo e os mais variados avanços tecnológicos. É compreensível, naturalmente, que estas escolhas tenham sido feitas para manter toda a familiaridade com o gênero e evitar problemas maiores em modos competitivos, mas é uma pena. Há muito para melhorar em Destiny, e meu ponto para ver o jogo com bons olhos é basicamente este.

Os jogos que mais joguei nos últimos tempos foram Gran Turismo e Final Fantasy XIV. Para mim, portanto, parece natural que alguns ludoeletrônicos evoluam durante sua vida útil. Fica claro que, assim como a equipe por trás de Gran Turismo é apaixonada por carros e automobilismo, a Bungie ama loucamente o que faz. Seus membros são apaixonados por jogos de tiro e isso transborda na tela a todo momento que não estamos reparando em defeitos e, é justamente aí que está o conflito interno de jogar Destiny. Há uma alternância quase frenética de coisas maravilhosas com problemas estapafúrdios. Subir de nível é rápido, terminar o jogo é tristemente rápido, mas a ação é divertidíssima, então não existe a sensação de se estar apressando as coisas, mesmo chegando ao nível máximo em dois ou três dias. O multiplayer competitivo é repleto de falhas no equilíbrio de armas e habilidades entre as classes, mas é fácil perder a noção do tempo ao jogá-lo. O level design e os modos de jogo são excelentes, o combate é animado e ágil, há formas criativas de abordar a mesma situação e, não sei se vocês se lembram do que eu disse ali em cima, sou um péssimo jogador do gênero. Só o que quero agora é ligar meu joguinho e capturar umas bases com os bróders.

“Você é o líder do time, escolhe aí o que fazer”. “Eu sou o líder?” “Sim”. “Então eu escolho… Dançar”.

Vale dizer também que a mitologia própria criada pela Bungie não é tão ruim quanto dizem. Myth: Busted. Na verdade é até bastante legal e eu adoraria ler mais a respeito. Sim, ler. A história desbravada pelo jogador é reduzida ao mínimo possível, todo o resto está em cards no Grimoire, parte do site do jogo que pode ser acessado pelo navegador ou por aplicativos próprios de celular e tablet. Não entendo a decisão. Sempre tive a impressão de que o público maior de jogos de tiro não era muito chegado numa trama com, hã, digamos, diálogos mas… Bom, fazer o quê? A mão que dá é a mesma mão que tira. Fica aqui um pouco da teoria da conspiração que já está surgindo pela internet: há traços de um plot twist interessante em diversos lugares, tanto dentro do jogo quanto no site. Busquem conhecimento. Outra teoria se baseia no fato de o time ter três jogadores, sempre enfrentarmos três ondas de inimigos, carregarmos três armas… Acho que essa vocês sabem o que confirma.

Também não entendi muito as críticas de que o jogo está feio. Os cara deve ter um trabalho imenso pra arrumar namorada, nesse ritmo.

O futuro de Destiny é promissor. Talvez não seja um bom negócio comprá-lo hoje se estiver buscando um prazer imediato e caro. Use drogas, neste caso. Eu vou acompanhar o desenrolar dessa empreitada da Bungie e, no aniversário de um ano do lançamento, espero olhar para trás com lágrimas nos olhos e lembrar com os companheiros de time, sorrindo, de tempos em que um Hunter podia matar um time inteiro sozinho no modo competitivo, num intervalo de cinco segundos, usando seu especial. Para quem decidir comprar, aproveite pra avaliar como está a receptividade do público de video games, hoje. O GAMER é vítima fácil de uma publicidade simples e sempre estará decepcionado. Ainda bem que vocês estão acima disso. Saibam, apenas, que vão gostar e não gostar da experiência ao mesmo tempo, uma experiência imperfeita porém divertida como a própria vida; como saborear aquela coxinha deliciosa que sabemos que é feita de ingredientes duvidosos e nos fará passar mal mais tarde; como gastar duzentos reais num jogo que claramente ainda não está terminado, mas se permitir aproveitar o passeio assim mesmo.

O que o Traveler reserva para o futuro de Destiny? Suponho que envolva metralhadoras e escopetas.

Faz sete dias que Destiny foi lançado. Agora chega de escrever, vou jogar um pouco e ficar mais confuso.

Sobre

André Guerra é membro da resistência carioca do GAMESFODA, mesmo sendo paulista. Largou tudo pra ser professor, é desses que joga simulador de corrida com câmbio manual e sem controle de tração.
  • http://www.retinadesgastada.com.br/ C. Aquino

    É basicamente o review da VG 247, só que muito melhor elaborado. Pelo o que eu entendi, Destiny é um jogo ambíguo mesmo: tem gente que vai amar e tem gente que vai odiar.

  • Thiago Sepúlvida

    uma lagrima escorreu pelo meu rosto agora.. o guerra conseguiu explicar meu sentimento por esse jogo, valeu cara t.t

  • Caio Porto Ramos

    A coisa que mais me marcou nesse review foi o Guerra dizendo “use drogas”.

    Never Forget.

  • Marcus

    Gamesfoda gamesfodeando. Também me identifico com esse dilema. Baita texto!

  • Mateus Alexandre

    Caras, me dá vontade de comer o monitor lendo os textos de vocês. Ótima review, estou no aguardo do meu chegar para dar tela azul no cérebro com esse sentimento de confusão.

  • artur

    masa mas prefiro helo

  • Diretor Coulson, O Filho Legal

    Em qual outro site de gaems do Brasil o redator te fala pra usar drogas? NENHUM! Por isso vocês são foda.
    Sobre o jogo, admito que eu estava esperando uma história boa, mas a maior parcela de quem tá criticando são os “gamers” mesmo que acreditaram que essa seria a “experiência definitiva” como o marketing dizia.

  • http://balaodechumbo.tumblr.com Douglas Giovanini

    Drogas ou joguinhos? É games ou arte? É bolacha ou biscoito? O site está levantando questões demais.

  • Thyago Bezerra Lima

    E assim que ele terminou o review, ele ligou o videogame, entrou no jogo e… Dançou.

  • Denis Angelim

    Basicamente é meu sentimento expresso em sábias palavras que eu não saberia expor. Destiny é isso aí, as queixas estão logo a frente, inimigos que se repetem, missões bem básicas, história “breve” (breve?), mas…PQP, alguém me tira desse jogo. A.I afinadíssima (do difícil pra cima, obvio), gráficos estonteantes, level design fenomenal, músicas que aquele toque que mistura orquestra e acordes de rock como só a bunguie faz, gameplay divertidíssima e viciante. O jogo transborda esmero por todos os lados, não é difícil perceber porque halo é o que é hoje, os caras amam o que fazem. Debaixo do capô desse jogo ainda tem muita coisa. Agora me deixem voltar pela minha caça aos itens lendários, preciso me equipar para a raid ;*

  • Pedro

    “O futuro de Destiny é promissor. Talvez não seja um bom negócio comprá-lo hoje se estiver buscando um prazer imediato e caro. Use drogas, neste caso”. Primeiramente muito obrigado por essa frase.

    No mais, estava aguardado a resenha do GAMESFODA, comprei em pré-venda e ainda não chegou, mas como gostei do BETA – achei viciante – mesmo vendo vários problemas, tava tranquilo em relação ao jogo. A única coisa impressionante é ver site por aí que lambeu o jogo na época do BETA e agora tá descendo a lenha, sério, o beta já indicava todos os problemas e delicias de destiny ser o jogo que é, e ainda têm “jornalista” que só viu depois os problemas. Mas enfim…

  • André Guerra

    Ó, nada de começar a usar uns negócio aí e colocar a culpa no site de joguinhos. É só um games, galera.

    • Diretor Coulson, O Filho Legal

      E o que eu faço com esses 5kg de Crack que eu comprei?!?

  • João rafael Serrano

    É aqui que estão mandando usar drogas ?? xD
    Estou curtindo muito o jogo, mesmo não aproveitando o melhor dele que é o coop, estou fazendo todas as missões sozinho, mesmo tendo diversos amigos na live jogando esse game, motivo : não sei.

  • Thiago Alves

    Simplesmente você escreveu o que eu estou sentindo por esse jogo agora.
    Ontem a noite desliguei o video-game pensando que o jogo estava repetitivo de mais, e agora no trabalho, tá difícil de tanta vontade de jogar…
    Abraços e fiquem com Deus!!!

  • Caio Oricchio

    “Talvez não seja um bom negócio comprá-lo hoje se estiver buscando um prazer imediato e caro. Use drogas, neste caso.”

    Boa análise. Tá fácil fazer review falando mal do jogo, é fácil ser hater, é fácil comparar cada elemento do jogo separadamente com elementos isolados de diversos outros jogos já feitos de forma melhor e é só isso que tenho visto por aí sobre Destiny. Mas gostei da análise que você fez de Destiny como o todo que ele foi feito pra ser, e concordo bastante, embora não tenha achado esse mesmo prazer jogar e então minha experiência foi bem pior; mas imagino que em outro momento da vida eu aproveitaria e talvez aproveite bem mais – talvez daqui uns meses, talvez daqui um ano.

  • HardLevel

    pera ai, half-life 3 confirmado???

  • Rodrigo =)

    Foda essa review..

  • Nostragamus

    Gostei demais desse review. Em meio a um oceano de opiniões apressadas e algumas até desinformadas ou limitadas, essa análise foi a única que conseguiu expressar de forma clara e direta (ou não) a sensação de jogar Destiny. Eu tenho plena ciência de todos os seus defeitos e de suas mecânicas repetitivas e pouco inspiradas, mas mesmo assim, só consigo pensar em jogar “só mais uma partida”.

    É quase um paradoxo jogável, pois a cada raríssimo engrama lendário que cai a cada passagem do cometa Haley, e por fim, se transforma em uma medíocre arma rara ou algum item de igual falta de importância, eu me vejo passar por todas as fases do luto:

    Negação: “não acredito que isso aconteceu de novo!”
    Raiva: “Porcaria de jogo e seu sistema de loot estúpido!”
    Negociação: “Talvez eu possa usar esse item para comprar uma arma exótica, quem sabe?”
    Depressão: “Sim, eu posso, mas pra isso vou ter que juntar mais 15 unidades de cada item…”
    Aceitação: “Bom, o jeito é tentar de novo. Quem sabe na próxima surge uma arma lendária?”

    Então eu volto a jogar como se fosse a melhor coisa do mundo. E volto a procurar itens e engramas para evoluir as armas e habilidades do personagem. Até surgir o próximo engrama lendário, é claro…

  • luis felipe

    Muito bem escrito.
    Se não fosse esse marketing agressivo, as notas desse jogo seriam melhores.

    Mesmo não curtindo o jogo,
    achei excelente essa review de um ponto de vista de quem está jogando de verdade.

  • Twero

    Rapaz, você conseguiu explicar direitinho o dilema que eu tava tendo com o Destiny. Valeu mesmo, Guerra!

    No mais, acho que ainda é cedo demais para se avaliar o jogo, quando ele tiver um ano de vida, vamos ver como o jogo se sai.

  • http://about.me/rubenscd/ Rubens Cavalheiro

    aprovado e com certeza vai estar na minha futura ludoteca

  • Wanierbonn Borges Pinchemel

    Caralho conheci o site hoje já vou deixar salvo aqui para não esquecer de acessa lo mais…

  • Eric Piovezan

    Ótimo review kkkkk

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