A melhor coisa de trabalhar no GAMESFODA é a festa de fim de ano da firma, sem dúvida. A segunda melhor são vocês, leitores. Não somos lidos por um número monstruoso de pessoas, entretanto aquele velho papo de qualidade ser melhor que quantidade se faz reconhecer a cada contato que fazemos, seja pelo podcast ou redes sociais. Seu raciocínio e compreensão estão além do jogador de videogames médio brasileiro – o que é fundamental para que a gente fale desta que é a experiência mais ambígua que tive na última década.
Pois bem, LEITORESFODA. Não tenho certeza do que me faz continuar a jogar Destiny. Não gosto muito nem sou habilidoso em jogos de tiro, especialmente em primeira pessoa. Também não sou um grande fã de MMOs. Definitivamente não morro de amores pela Bungie. Se ainda houvesse a justificativa de que é uma obra-prima e o melhor jogo do gênero de todos os tempos, tudo bem, mas também não é o caso. Só que, por algum motivo, quero jogar Destiny o tempo todo. Quero jogar Destiny agora ao invés de escrever isso aqui. Quero jogar Destiny quando estou na rua, durante minhas refeições; quero substituir as horas de sono por horas de um jogo repetitivo que não me oferece nada que eu já não tenha visto em outro lugar. Sentimentos conflitantes em toda parte, bacharéis.
Não vou falar de todos os problemas mundanos de Destiny. Vocês são bons demais pra isso. Vocês entendem que o que hoje é crucificado por uma massa enorme de jogadores obtusos, não estará mais lá amanhã. Mas vale a pena comentar alguns deles, ainda que vocês já tenham lido tudo em outro site.
Dos problemas da plebe, a reutilização dos inimigos é de fato o mais decepcionante até agora. Se você enfrentou um chefe ao fim de uma missão, certeza que já o viu em tamanho menor pelo cenário ou ainda o verá num momento próximo. As lutas contra estes chefes também não são muito diferentes de combater os inimigos comuns, só que causando mais dano e precisando de mais tiros para morrer – com raríssimas exceções. O design dos inimigos é bastante bom, mas vemos tantas vezes os mesmos personagens que enjoamos rápido. Destiny também é competente em repetir as missões do jogo. Invariavelmente o jogador deve ir de ponto A até o ponto B enfrentando alguns alienígenas, lutar contra três ou quatro ondas de inimigos, enquanto o Ghost destranca uma porta ou colhe informações e seguir para o próximo ponto – repita o processo até terminar. É isso. Todas as missões de Destiny seguem esse script, inclusive os Strikes, missões mais difíceis e longas que devem ser feitas com três jogadores. E quer saber? Quero jogar mais disso tudo imediatamente, porque não importa se é tão repetitivo quando é uma delícia crocante.
Existem ainda alguns problemas que não se encaixam exatamente em gameplay. Destes, o que mais me perturba é que passaram-se muitos séculos do período atual, a humanidade explorou o universo, tornou viável a imortalidade para seus guerreiros, lutou contra um mal indestrutível e ainda usa rifles automáticos e escopetas. Não é possível sequer pegar armas dos inimigos, com tiros que perseguem o alvo e os mais variados avanços tecnológicos. É compreensível, naturalmente, que estas escolhas tenham sido feitas para manter toda a familiaridade com o gênero e evitar problemas maiores em modos competitivos, mas é uma pena. Há muito para melhorar em Destiny, e meu ponto para ver o jogo com bons olhos é basicamente este.
Os jogos que mais joguei nos últimos tempos foram Gran Turismo e Final Fantasy XIV. Para mim, portanto, parece natural que alguns ludoeletrônicos evoluam durante sua vida útil. Fica claro que, assim como a equipe por trás de Gran Turismo é apaixonada por carros e automobilismo, a Bungie ama loucamente o que faz. Seus membros são apaixonados por jogos de tiro e isso transborda na tela a todo momento que não estamos reparando em defeitos e, é justamente aí que está o conflito interno de jogar Destiny. Há uma alternância quase frenética de coisas maravilhosas com problemas estapafúrdios. Subir de nível é rápido, terminar o jogo é tristemente rápido, mas a ação é divertidíssima, então não existe a sensação de se estar apressando as coisas, mesmo chegando ao nível máximo em dois ou três dias. O multiplayer competitivo é repleto de falhas no equilíbrio de armas e habilidades entre as classes, mas é fácil perder a noção do tempo ao jogá-lo. O level design e os modos de jogo são excelentes, o combate é animado e ágil, há formas criativas de abordar a mesma situação e, não sei se vocês se lembram do que eu disse ali em cima, sou um péssimo jogador do gênero. Só o que quero agora é ligar meu joguinho e capturar umas bases com os bróders.
Vale dizer também que a mitologia própria criada pela Bungie não é tão ruim quanto dizem. Myth: Busted. Na verdade é até bastante legal e eu adoraria ler mais a respeito. Sim, ler. A história desbravada pelo jogador é reduzida ao mínimo possível, todo o resto está em cards no Grimoire, parte do site do jogo que pode ser acessado pelo navegador ou por aplicativos próprios de celular e tablet. Não entendo a decisão. Sempre tive a impressão de que o público maior de jogos de tiro não era muito chegado numa trama com, hã, digamos, diálogos mas… Bom, fazer o quê? A mão que dá é a mesma mão que tira. Fica aqui um pouco da teoria da conspiração que já está surgindo pela internet: há traços de um plot twist interessante em diversos lugares, tanto dentro do jogo quanto no site. Busquem conhecimento. Outra teoria se baseia no fato de o time ter três jogadores, sempre enfrentarmos três ondas de inimigos, carregarmos três armas… Acho que essa vocês sabem o que confirma.
O futuro de Destiny é promissor. Talvez não seja um bom negócio comprá-lo hoje se estiver buscando um prazer imediato e caro. Use drogas, neste caso. Eu vou acompanhar o desenrolar dessa empreitada da Bungie e, no aniversário de um ano do lançamento, espero olhar para trás com lágrimas nos olhos e lembrar com os companheiros de time, sorrindo, de tempos em que um Hunter podia matar um time inteiro sozinho no modo competitivo, num intervalo de cinco segundos, usando seu especial. Para quem decidir comprar, aproveite pra avaliar como está a receptividade do público de video games, hoje. O GAMER é vítima fácil de uma publicidade simples e sempre estará decepcionado. Ainda bem que vocês estão acima disso. Saibam, apenas, que vão gostar e não gostar da experiência ao mesmo tempo, uma experiência imperfeita porém divertida como a própria vida; como saborear aquela coxinha deliciosa que sabemos que é feita de ingredientes duvidosos e nos fará passar mal mais tarde; como gastar duzentos reais num jogo que claramente ainda não está terminado, mas se permitir aproveitar o passeio assim mesmo.
Faz sete dias que Destiny foi lançado. Agora chega de escrever, vou jogar um pouco e ficar mais confuso.