Qualé a desse tal de… Hatoful Boyfriend

É complicado escrever sobre Hatoful Boyfriend pois todo mundo está (com razão!) esperando por uma piada. Não teria como eu ou qualquer um do site escrever sobre uma piada além de “é uma piada”. O negócio é que apesar de Hatoful Boyfriend ter uma piada, não se constitui apenas por ela. Eu provavelmente sequer teria jogado se fosse só isso, ou provavelmente não iria gostar se jogasse. Jogo-piada é um negócio complicado pois elas são engraçadas apenas quando contadas e não dá pra “vender” uma por causa disso (embora os milhares de “qualquer-coisa simulator 2014″ discordem de mim). Então Hatoful Boyfriend, embora tenha nascido como uma brincadeira, resolveu tirar algo produtivo dela.

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Em um primeiro de abril aí uma empresa resolveu brincar que ia fazer um Dating Sim (gênero de jogo em que você arruma companheiros emocionais e/ou sexuais com personagens que não existem) com pombos. Fez uma publicidade e tal, falou que ia ter fulano e cicrano de famoso dublando esse e aquele pombo, enfim, isso foi realmente uma piada. Daí a galera gostou da ideia e disso saiu esse humilde joguinho. E depois dele veio uma continuação, alguns drama CDs e uns livretos, e foi se tornando algo que ninguém esperava que se tornaria, mas que aconteceu devido ao visível carinho que a galera teve nessa transição de uma simples piada para um produto de verdade.

Alguns anos depois a Devolver Digital, publisher famosa por ser meio porra louca, resolveu contratar uma galera pra traduzir e relançar aqui no ocidente esse primeiro jogo oficialmente. E tá lá, no Steam, com um monte de review engraçadinho fazendo trocadilho com atributos de pássaros e curiosamente apenas um review negativo – foi um dos raros casos em que ou as pessoas entenderam a hora de parar com a piada ou pararam assim que ela acabou por preguiça. Qualquer que seja o caso, qualé que é a desses pombos aí afinal?

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Você é uma estudante que foi transferida pra uma escola de pombos. Lá você conhece os alunos, que são pombos, os professores, que são pombos, e a partir daí vai vivendo sua vida de colegial. Em dias específicos você pode escolher se quer estudar matemática, ir pra educação física ou estudar música, e durante todo o resto do período letivo (!!!) vão ter diversas decisões que te colocarão na “rota” de um pombo ou outro. Entrando nessa rota aquele pombo vira seu interesse amoroso e você descobre qual é a história dele, o motivo pra estar lá, sua personalidade e tudo o mais. Tem uma dupla de pombos aristocratas, médico psicopata, um anjo caído, em meio a uma variedade bem grande que com certeza vai te agradar caso você já tenha se apaixonado por um pombo alguma vez na vida.

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Existem 13 finais diferentes dependendo de como você se relaciona com os penudos e todos eles são surpreendentemente detalhados em sua caracterização. Lembrando que é uma visual novel, então você não interage muito além de clicar pra próxima linha de texto. Felizmente também tem um botão de fast forward pra não ter que assistir cenas que já assistiu em outras rotas já que muitos caminhos se cruzam e o começo é sempre igual. E embora em níveis variados, esse pedaço de simulador de namoro em que você escolhe seu pombo favorito e desenvolve sentimentos pelo mesmo é uma piada. Ele é engraçadinho e é cheio de trocadilhos e se desvia do próprio caminho pra fazer o maior número de graças possível, mas felizmente não se contenta só com isso. Volta o que eu falei de se vender uma piada: ele vem com várias piadas e depois que elas acabam aparece algo que não é uma.

Quando se completam todos os finais, abre uma nova rota: a “Hurtful Boyfriend”. Essa contém algumas piadas, mas o foco muda: é uma história completa e relativamente longa que explica muitas das coisas para as quais não dávamos importância durante a primeira parte do jogo. Se vê um carinho enorme pela própria história que os caras quiseram criar e não se manter apenas na parte engraçadinha da coisa, e embora essa parte engraçadinha ainda seja arbitrária e longa, o fato de não ser apenas ela já torna a coisa toda mais satisfatória.

É por isso que eu não quero vender o jogo pra vocês com um review-piada e acabar fazendo propaganda enganosa do treco. Essa segunda parte é, sem estragar qualquer surpresa, algo que é surpreendentemente emocional e que faz questão de não deixar nenhuma ponta solta da primeira parte. A diferença é que os personagens são pombos, mas ainda são personagens, né?

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Tirando um final novo e a arte refeita em HD, esse é o mesmo jogo que saiu no Japão alguns anos atrás, mas passei por alguns problemas técnicos simples, como precisar clicar mais de uma vez pra continuar um diálogo, um save que se desfez por eu ter salvo durante uma animação no lugar de um diálogo e uma batalha satirizando RPGs japoneses que de vez em quando não mostrava as palavras até eu insistir muito.

Se por um acaso você já jogou e queria comprar algo novo, recomendo pegar a continuação que se chama “Hatoful Boyfriend: Holiday Star” e saiu oficialmente em inglês em 2012. Agora, se nunca jogou, recomendo sim comprar essa versão do Steam, pois as chances de você achar engraçado e ainda se surpreender quando estiver já saturado da piada são altas. Também não se frustre muito: já tem um guia de rotas completinho no próprio Steam caso você só queira ver a história se desenrolar.

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Eu gosto desse aspecto de ser basicamente dois jogos em um: a parte piada e a parte “séria”. Abrange um público maior assim e não se perde em sua própria masturbação de humor até ninguém aguentar mais. Quando não se aguenta mais ele muda, e ele cria algo do que nem precisava existir. Não é uma história que vai mudar a vida de ninguém e nem são piadas que vão te fazer cair da cadeira, mas os dois lados da coisa são bacanas o bastante pra valer a pena no final. É bizarro, é bobinho, é satírico, tem pombos, dá pra se relacionar com eles e não tem nenhuma cena erótica de zoofilia.

Hatoful Boyfriend está disponível para PC através do Steam por R$19,99

Sobre

Guilherme Alves “Neozao” é game designer não-praticante, gosta de chá e de comer sobremesa com a menor colher possível.

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