Qualé a desse tal de… Professor Layton vs Phoenix Wright

Quando eu estava lá pela metade do jogo, visualizei essa análise como outra fanfic, igual à de Dual Destinies. No entanto, quando o jogo foi se estendendo por muitas outras horas acabei jogando essa ideia no lixo. O maior problema foi minha confusão em cogitar qual história eu deveria criar para metaforizar esse crossover.

A princípio seria uma história um tanto quanto acalorada e animada onde o Layton e o Phoenix se encontrariam anos depois em um Pub de Londres, deixando as crianças em casa para tomar umas brejas e conversar sobre como foi muito louco aquela vez que eles tiveram uma aventura juntos. Eles ririam da situação, lembrariam os altos e baixos e a eu encaixaria aqui e ali aquela sacada sobre as mecânicas do jogo.

Quando a história progrediu, entretanto, por mais que o Phoenix do jogo se mantivesse um cara amigável e respeitoso com o Professor, o personagem da minha cabeça, aquele grande rapazote que eu conheço há anos (e que tem um amor secreto pela Maya até depois de velho e já bem longe dela), estava com uma posição diferente. O Phoenix com certeza falaria umas poucas e boas para o Layton naquele bar e as coisas não terminariam mais tão alegres assim.

A injustiça principal é essa: durante o jogo todo, por algum motivo inexplicável, o Layton é tido como o cara mais foda. Claro, ele é um Professor de renome, uma celebridade formada em arqueologia (que nunca é vista trabalhando no ramo), então é natural que se deva certo respeito a ele, correto? Só que não é bem assim que as coisas são.

Colocar os dois personagens lado a lado, ainda mais fazendo uma mistura de suas mecânicas de jogo, deixa claro que o superior aqui é o Phoenix, mesmo com todo seu jeito de bobão e sua mania de esquecer como Advogar a cada cinco casos. Não apenas isso, mas mostra também que a série do advogado tem muito mais a ensinar aos jogos do professor do que o contrário. Mas mesmo assim os desenvolvedores insistem em fazer os personagens terem uma postura divergente de algo tão óbvio, e o resultado me deixa meio constrangido.

Eu sei que estou reclamando em um nível completamente Fanfic, imaginando rixas e problemas inexistentes entre os personagens, mas aqui talvez seja o único jogo em que esse discurso realmente cabe. Sim, pois eu não consigo deixar de imaginar enquanto eu analiso esse jogo que os personagens de uma franquia estão atrapalhando os da outra. É como se os dois grupos estivessem trabalhando juntos para criar uma história bacana, mas o grupo do Professor é aquele cara chato da mesa de RPG que fica cagando regra e situação o tempo todo pra parecer espertão.

Isso não tem nada a ver com a composição e criação básica dos personagens, entretanto, mas é ela que nos ajuda a entender um pouco mais o problema. Ou seja, se você gosta das duas duplas principais, ainda as verá quase intactas, com todas as virtudes e defeitos (pessoais e de personagem) de seus jogos principais. Mas exatamente por estarem quase intactos é que fica claro essa inflexibilidade do professor e seu aprendiz. Eles funcionam muito bem em suas partes solo, mas quando tudo se junta eles parecem precisar que as coisas fluam do jeito deles.

Já o Phoenix e a Maya parecem conseguir chutar qualquer bola para o gol, até mesmo os passes mais tortos que a outra dupla manda. Isso é demonstrado inclusive pelo próprio Layton, que explica para o Advogado que ele tem que advogar no mundo de magia que lhes é apresentado de acordo com as regras daquele lugar. Em outros jogos o Wright já mostra essa habilidade (como personagem e como pessoa) de sequer saber o fim de uma linha de raciocínio e deixar-se levar pelo fluxo até uma conclusão. É muito mais maleável.

Enquanto um prega que “Existe uma resposta para todo Puzzle” mostrando uma incansável busca pelas tais, o outro é acostumado a se adequar a qualquer pergunta que lhe aparecer não importando a resposta. Resumindo: O núcleo da advocacia consegue fluir melhor através de qualquer história apresentada, até mesmo uma que claramente não é muito a praia deles. Enquanto o professor e seu aprendiz parecem perdidos em um palco que eles deveriam estar liderando, sempre procurando respostas e lógica no que lhes cercam mesmo quando aconselham os seus parceiros a se adaptarem.

Então mesmo antes do fim de toda a história, que (sem spoilers) é um clássico Layton e um chute no saco do Phoenix que teve de correr atrás e fazer malabares metafóricos o jogo todo, a cena no meu fanfic-análise começava a ficar densa. Mas a realidade é um pouco mais triste que uma simples rixa.

Analisando as mecânicas de ambas as partes, é triste de ver o estado vegetativo e desnutrido em que se encontra o lado do Londrino. Seus jogos claramente são focados nos puzzles, tentando constantemente justificar a existência deles contextualizando-os em seus diálogos e deixando a história como uma recompensa por sua progressão. Mas exiidte certa dualidade no fato dos jogos claramente demonstrarem uma grande preocupação com narrativa, desenvolvimento de personagem e criação de histórias complexas e misteriosas. Enquanto nos primeiros jogos essa fórmula mista era até interessante de acompanhar, hoje se mostra cansada e pouco inventiva, ou até mesmo conformista.

Nesse título temos os puzzles cortados em grande número pelo fato deles dividirem o espaço com outra mecânica completamente diferente, e o fim dos famosos mini-games e desbloqueáveis que a série do professor tem como marca. Isso amplifica os problemas que a franquia tem individualmente como uma lupa, deixando claro que suas duas pretensões (puzzle e narrativa) entram em conflito e nunca satisfazem tanto quanto poderiam se trabalhassem melhor juntas.

O poder de amplificação dos problemas apresentados só fica maior quando temos logo ao lado uma franquia ainda tão velha e rodada quando essa demonstrando uma habilidade fantástica de se reinventar e acrescentar novas ideias à sua fórmula básica. A seção dos julgamentos, comandada por Phoenix (mesmo que às vezes os desenvolvedores façam questão de tentar mascarar alguma influência do Layton por aqui), primeiramente mostra o que já era claro em outros jogos: que sabe diluir a narrativa muito bem dentro do seu paradigma. O progresso de sua mecânica principal não entra no caminho da história. Muito pelo contrário: ajuda a trama a fluir com naturalidade e compasso.

E, dentro de um jogo que claramente não está no comando do advogado, eles ainda têm a coragem de absorver duas novas mecânicas completamente diferentes das vistas em todos os jogos da série. Mecânicas essas tão boas, inclusive, que parecem que vão se adaptar e incorporar no próximo Ace Attorney (ao que parece pelo trailer mais recente, que mostra algo semelhante ao que vemos nesse título em análise). Não preciso detalhar tais mecânicas, apenas deixar claro que elas são muito boas e tão desenvoltas como o resto da parte de advocacia já basta para o ponto da análise.

O paralelo entre as duas realidades de duas franquias que já andaram um bom caminho e acumularam muita experiência, não só elucida a essência de cada uma delas, como quase força uma comparação entre propostas tão diferentes. Não uma comparação direta e superficial questionando qual dos dois polos é o melhor, mas um checkup na saúde geral das duas séries.

Portanto, enquanto o rapaz de terno azul sempre procura se reinventar, absorver, crescer e se moldar tendo como peças-chave uma mecânica e uma premissa bem pragmática, o professor parece se conformar com seu status-quo, usando a mesma fórmula cansada e quase empurrando com a barriga mais um título, sem buscar acrescentar nada de muito novo. Isso, novamente, não significa a superioridade do primeiro sobre o segundo, mas deixa claro que enquanto Ace Attorney ainda tem sopro de vida pra muitos anos, o Professor Layton está em fase terminal.

E então, no fim, o fanfic-análise transformava-se completamente em minha cabeça, e iriamos ver Phoenix visitando o velório do seu velho amigo Layton.

Essa imagem não é do jogo, é só pra dar o tom dramático. Créditos: EssenceOfBelladonna @ DeviantArt

Ao seu lado, Maya não chorava, mas demonstrava um grande pesar pela dor de Luke, passando seus braços pelos ombros do garoto em um afago quase maternal. Ele próprio não sabia o que dizer ao rapaz, nem saberia o que dizer ao Layton se ele estivesse ali. Durante todo aquele tempo havia guardado em si a raiva de ter sido colocado quase como um coadjuvante ao lado do professor, quando ele sabia que poderia e deveria ser muito mais.

Mas a dor da morte nos clareia a mente de qualquer mágoa, e, lembrando-se dos últimos anos de seu amigo na terra, Phoenix finalmente compreendeu a situação. Recordou-se que, em meio às suas tribulações, o professor poderia ter lutado, poderia ter mudado e vencido a batalha; mas, parecendo quase sem forças, preferiu se entregar à eternidade.

Deixando cair a única lágrima que permitiria cair, Phoenix segurou a mão de seu amigo, agora para sempre imóvel. “Perdão.”, pensou ele, “Não poderia ser mais egoísta”. Pois entendeu finalmente que seu amigo lutava pela sobrevivência desde quando tiveram sua aventura juntos, e se ele não tivesse aquele holofote nada mais teria na ocasião.

 

 

 

 

 

Addendum: Entendam, entretanto, que a indústria em sua forma atual consegue estragar até mesmo esse emotivo final, pois se eu fosse criar um paralelo realista o professor acordaria do caixão com olhos de demônio, arrumando forças e motivos que não conseguiu na vida passada, seguraria o Phoenix pelo pulso e entoaria com um sorriso diabólico nos lábios “LAYTON 7!”. Espero que isso concretize que fanfic não teria sido uma boa escolha.

Hynx

Sobre

Um rapaz gordo com cara de mendigo, que só quer saber de: jogar, salvar state, carregar state, irritar pessoas, escrever, e quem sabe até ganhar um beijo doce da Rainha do Rodeio.
  • Twero

    E o detalhe: quem tava querendo o cross-opver era a desenvolvedora criadora dos jogos do Leitão, e no jogo o pessoal da Capcom eles me acertam mais nas mecânicas do Advogado Bom de Pico do que seu próprio personagem: vai entender.

    No mais, é meio complicado ver essa interação entre os dois sair de um jeito tão disforme. Digo, mesmo o Fênix Certo realmente ser dono de vitórias inacreditáveis nas cortes, o pessoal ainda desmecere seu trabalho e ainda o considera como um “noobão” da advocacia na trilogia original. Ele não teria muito o que se gabar, sinto pena que o Leitão se ache muito, e na hora do “vamos ver” ele ser o noobão da vez.

    No mais, ainda pretendo jogar o game, só por ter a melhor versão dessa música aqui:
    https://www.youtube.com/watch?v=N_Mtx_4nJj0

    Ah, Hynx, um errinho de digitação: tem um “exiidte” no lugar do “existe” no corpo do texto.

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