Qualé a desse tal de… Oblitus

  27/03/2015 - 14:10   oblitus, review,  
 

Oblitus saiu em um momento pouco propício: junto com dois outros jogos que causaram uma explosão em seus respectivos nichos (Hotline Miami 2 e Ori and the Blind Forest). Acabou portanto se perdendo no meio das outras dezenas de novos jogos no Steam que muita gente não liga pois não está na página principal, não recebeu marketing e, apesar não ter entrado através do Greenlight, não tem uma cara muito destacável.

Aliás, ele não é muito destacável de maneira nenhuma e talvez isso seja justamente o seu forte.

Vejamos: é um jogo em duas dimensões em que você acorda e uma voz te diz para buscá-la em algum lugar. Não te diz exatamente onde, nem te dá direções cabíveis, mas a partir desse primeiro momento o mundo é completamente livre pra ser explorado. Daí você pode ir pra esquerda ou pra direita; se for longe o bastante eventualmente chega em cima, e quem sabe depois conseguirá ir pra baixo. Embora o jogo claramente insinue que há uma ordem certa de exploração, é totalmente possível fazer do jeito que você quiser, e é muito bonito o modo como tudo se junta e praticamente todas as suas áreas tenham alguma ligação com as outras de modos não convencionais, fazendo assim o mundo parecer muito mais coeso em si mesmo.

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Se você joga no teclado, tem a opção de mirar de modo muito mais preciso as lanças que arremessa. A única arma do jogo é uma lança, inclusive, que pode ser usada para atacar normalmente ou a distância, precisando, nesse último caso, esperar ela reaparecer na sua mão após uns segundos. Eu digo “muito mais preciso” não apenas em como “o mouse é mais preciso”, mas que é uma vantagem injusta mesmo, já que alguns dos quatro chefes morrem após você acertá-los em pedaços bem pequenos de seus corpos. Pra contrabalancear isso, caso você jogue no teclado não tem a opção de aparar o golpe de inimigos, e jogando no controle tem. Isso é meio esquisito pois simplesmente tira a opção de alguém que só tenha um teclado de, bem, ter uma opção. É algo que todo mundo tem que ter em mente na hora de decidir se quer jogar, mas é perfeitamente possível aproveitar bem o jogo das duas maneiras.

O modo como você controla o boneco é bastante familiar, inclusive. Depende num geral de defender e atacar quando o oponente abre uma brecha. Você pode rolar pra abrir maior distância entre vocês ou pra alcançar suas costas. Provavelmente a nuance que eu mais gosto disso é que cada inimigo que você mata recupera um pouco da sua vida, entretanto é sempre menos do que ele causaria de dano caso te acertasse. Supondo que o jogo funcionasse com números, seria assim: você tem 100 de vida, uma paulada do inimigo te dá 25 de dano; caso você consiga matá-lo, recupera 15 e termina, portanto, com 90. Pra conseguir recuperar tudo precisa matar o próximo inimigo também sem tomar nenhuma porrada, te forçando assim a melhorar no jogo de modo bastante natural e pouco intrusivo.

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E você precisa melhorar, sim. Não porque ele é particularmente difícil, mas porque quando você morre, volta do começo. Volta do começo de verdade: sem melhoras persistentes no equipamento ou números. Cada vez que morre é como se começasse o jogo pela primeira vez de novo. E é aí que o jogo acabou perdendo muita gente.

Vê, nos acostumamos com “roguelites”, que são esses jogos com progressão aleatória mas que, enquanto jogamos, acabamos por liberar alguns itens pra usar na próxima vez que tentarmos, mesmo que também volte do começo da coisa. Daí, mesmo quando perdemos, somos motivados a continuar jogando pra ver o que liberamos da última vez em prática, e o Oblitus não tem isso. É bem “cru”.

O modo como se reage a isso é totalmente dependente de cada um, no entanto – claramente foi uma decisão consciente, e faz sentido na narrativa do treco, mas é um choque pra quem não tá tão acostumado. Não que o jogo seja muito comprido, de qualquer maneira (tem uma conquista pra terminá-lo em 25 minutos, mas é capaz que uma pessoa que explore tudo sem pressa consiga em uns 40), então nunca é uma sensação de progresso perdida muito grande. Também não é um jogo que é diferente em todas as vezes: em cada jogada as melhoras pra sua arma são diferentes, mas é um número bem baixo pra nunca te colocar em uma situação de completo desconhecimento, e o cenário que você atravessa só tem mudanças bem discretas, que te fazem pensar “oh, isso não estava aqui da outra vez” e não “NUNCA VI ISSO ANTES”. Alguns inimigos mudam, mas a geografia geral é sempre igual e as mudanças nos detalhes são orgânicas o bastante pra acharmos que são naturais caso se passem algumas centenas de anos entre um ciclo e outro, como o jogo insinua. Quando se termina, porém, aí se habilitam algumas habilidades persistentes pra próxima vez, mas até lá já vai um tempo.

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O que eu quero dizer, então, com “não ser muito destacável talvez seja seu forte”?

É que é um jogo discreto, e isso se reflete em tudo, desde seu marketing até o modo como foi projetado. Não é um jogo que gerou expectativa em ninguém pelo seu lançamento e não é algo que as pessoas ficariam malucas pra conseguir terminar ou jogar mais. Mas é um jogo que poderá ser uma surpresa boa pra alguém que tá exausto de tudo e o descobre na biblioteca do Steam, talvez através de um futuro humble bundle. Também é algo que você poderia achar em uma pesquisa procurando jogos obscuros bons, e aí ser uma boa surpresa. De vez em quando uma piscina aquecida é melhor que o mar, sacam?

É curto, tem uns movimentos esquisitos, ótima música e exige uma persistência maior do que muitos outros. De vez em quando é meio confuso, talvez merecesse mais polimento, e pode ser meio frustrante começar sempre do zero. Mas sua estrutura faz com que a jogada ocasional entre um grande lançamento e outro seja algo bem-vindo pra alguém que quer algo menor que um Bloodborne, porém não tão letárgico quanto a sua trecentésima jogada de Binding of Isaac.

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Oblitus está disponível para PC através do Steam por R$ 27,99. Essa análise foi feita com uma cópia cedida a nós pela Adult Swim Games.

Sobre

Guilherme Alves “Neozao” é game designer não-praticante, gosta de chá e de comer sobremesa com a menor colher possível.

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