Retrospectiva Metal Gear: As origens da série no MSX

Como vocês sabem, no dia primeiro de setembro será lançado Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, pra PC, PS4, Xbox One, PS3 e Xbox 360. Se chegou a acompanhar o mundo dos jogos nesses últimos meses e viu todo o drama que está envolvendo a Konami e seus funcionários, deve entender que esse jogo é ligeiramente importante tanto pra fãs da série quanto pra situação geral da indústria. É, teoricamente, o último jogo da série dirigido pelo seu criador original, Hideo Kojima, visto que ele sairá da Konami no fim do ano – além de ser, também, o jogo que fecha o ciclo, segundo ele mesmo, que engloba Metal Gear, Metal Gear 2, Metal Gear Solid, Metal Gear Solid 2, Metal Gear Solid 3, Metal Gear Solid 4, Metal Gear Solid: Peace Walker, Metal Gear Solid V: Ground Zeroes e Metal Gear Solid V: The Phantom Pain.

Quem acompanha o site há algum tempo deve saber que alguns membros da equipe são muito fãs da série. Dois deles, o Neozao e o Guerra, resolveram criar esse apanhado geral resumindo os seus jogos principais, focando em cada um deles, um por vez, resumindo  seus momentos de destaque, tanto pra quem quer se lembrar de tudo o que aconteceu até então quanto pra quem nunca teve nenhum contato com nada e quer saber qual o motivo de estar todo mundo desesperado pra Setembro começar logo.

ATENÇÃO: apesar de comentarmos o geral da história de cada jogo, isso não substituirá de maneira nenhuma a experiência de jogá-los. Apesar de muita gente discordar, existem vários motivos para MGS ser uma série de videogames e muitas das suas implicações temáticas são reforçadas por momentos que não são as cenas, formando um pacote só. Se quiser assistir todas as cutscenes no youtube ou ler um resumo na Wikipédia, vá em frente, mas entenda que estará perdendo detalhes que tornam a coisa toda melhor e que assim não terá acesso a detalhes narrativos como o ritmo que só a jogabilidade entre uma ceninha e outra proporcionam.

Começando então vamos falar dos humildes primeiros jogos da série: Metal Gear e Metal Gear 2.

METAL GEAR (1987)

Plataforma original: MSX2
Onde pode ser jogado hoje em dia: MSX2 (RÁ RÁ, boa sorte), Playstation 2 (Disco 2 do MGS3: Subsistence), Playstation 3, Playstation Vita, Xbox 360 (HD Collection, no menu inicial do MGS3)

O primeiro jogo estrelado por Kyle Reese – digo, Solid Snake – se passa em 1995, mas foi feito oito anos antes, como podem ver ali em cima. Mas a real é que essa história começa com o homem em si, o mito, a lenda, Hideo Kojima, futuro presidente do mundo e senhor da paz universal. Acontece que em 86, quando o Kojimestre uniu-se ao time da Konami como “Game Planner”. Esse não era o mais popular dos cargos pra se ter em uma empresa de joguinhos. Era muito pouco comum ter uma pessoa designada unicamente para um cargo de direção que não colocasse a mão na massa e programasse algo. Depois de desenvolver seu primeiro título próprio, Last Warld (?!), por seis meses, a empresa cancelou o jogo, tornando o Kojimito numa espécie de pária dos games, fracassado e odiado por seus companheiros. Nessa época, Kojima tinha que ouvir de seus colegas que ele “devia terminar um jogo ao menos antes de morrer” (imagina a cara desses bosta hoje).

Depois da queda, a ascensão veio na forma de um novo projeto. A Konami queria um jogo de guerra, porque cês sabem que todo mundo curte dar uns tirinhos. Foi a falta de poder do MSX2 que fez com que Metal Gear fosse criado: um jogo em que não poderiam ter muitos projéteis na tela e nem muita ação já que era tudo muito limitado. Qual a solução mais óbvia? É claro! Fazer um jogo de furtividade! E, embora a decisão tenha sido severamente questionada por seus superiores, nada abalou nosso intrépido herói e waifu.

Em 1987 o mundo havia saído da Guerra Fria (a de verdade) há pouco tempo e aí, coincidência ou não, Hideo (naquele momento famoso apenas pela obra prima Penguin’s Adventure 2 [talvez isso seja uma piada, talvez não]) resolveu aproveitar o escopo de “Joguinho de Guerra” e criou um jogo com algumas coisas tiradas desse conflito: a espionagem, a dissuasão e a ameaça da guerra num geral.

Em 1995, a nação militar fundada por um mercenário lendário, Outer Heaven, estava sofrendo uma revolta e o líder da unidade FOXHOUND, Big Boss, recebeu do governo americano a missão de enviar seu melhor soldado para infiltrar essa Base Militar/País/Fortaleza e descobrir o que tava pegando. Esse soldado era Gray Fox, o melhor membro da equipe – único a conseguir o codinome de mais alta patente: “Fox”; mas não adiantou de muito: pouco tempo depois a FOXHOUND recebeu uma última transmissão de Gray Fox que só dizia “…Metal Gear!”. Logo em seguida, Big Boss mandou outro soldado, dessa vez com a missão de resgatar o Gray Fox e ver que caralhos era esse tal de Metal Gear. Esse soldado, sim, era Solid Snake, e a operação se chamava N313.

E aí controlamos um Solid Snake que, embora fosse um jovem talentoso e promissor, ainda era um novato em missões de infiltração solo, a especialidade da unidade FOXHOUND. Treinado e criado como um filho por Big Boss e guiado por ele durante a missão toda através do rádio, superamos diversos obstáculos pouquíssimo comuns para a época. Quase tudo em Metal Gear era inovador, pois estudar as rotas dos soldados e descobrir a melhor forma de evitá-los era uma nova maneira de abordar um jogo – apenas não era o primeiro reflexo de um jogador de videogame, acostumado a ver um inimigo na tela e imediatamente dar um jeito de eliminá-lo. Mesmo as lutas contra chefes são incomuns, e a exploração em busca de itens ou equipamentos importantes para o avanço da história é repleta de pequenas surpresas.

Após lidar com os mercenários que causavam a revolta, ajudar a resistência e se infiltrar na base, Snake descobre que o tal Metal Gear era um tanque de guerra bípede capaz de lançar ogivas nucleares de qualquer tipo de terreno, em qualquer lugar do mundo e que o mercenário lendário que comandava a porra toda das sombras na verdade era o próprio Big Boss. Depois de explodir o robozão, o sistema de auto-destruição da base é ativado e os dois lutam. Snake vence e escapa da base a tempo, mas Big Boss jura que eles se enfrentarão novamente.

E fim. Um puta sucesso.

Tão puta sucesso que a Konami decidiu que ia lançar uma continuação no mercado americano, para o NES: Metal Gear 2: Snake’s Revenge. Só que… Bom, eles esqueceram de avisar pro Kojima. O Snake’s Revenge é um negócio meio esquisito. Ele é bem mais focado em dar tiros (tanto que tem alguns momentos em que a câmera fica de lado, tipo Contra), e no final o Snake descobre que o Big Boss voltou em forma de robô (!). Aí um dia voltando do trampo naquela canseira foda, Kojimão esbarra com um chapa da firma e ele comenta: “Ei! Sabe aquele seu jogo legalzão que ninguém botava uma fé? Então, a mesma equipe que fez o port horrível pra NES que fez um puta sucesso – mas ninguém em sã consciência devia ter jogado – está fazendo uma continuação igualmente horrível e condenável!”. Os livros de história contarão que, naquela mesma noite, ainda no trem a caminho de casa, o maior ser humano que já viveu começou a escrever o roteiro da continuação oficial de Metal Gear. É sério. De verdade. Daí ele continuou escrevendo o roteiro e todas as suas ideias para a história madrugada adentro e no dia seguinte começou a produção do jogo, o absolutamente fabuloso…

 

METAL GEAR 2: SOLID SNAKE (1990)

Plataforma original: MSX2
Onde pode ser jogado hoje em dia: MSX2, Playstation 2 (Disco 2 do MGS3: Subsistence), Playstation 3, Playstation Vita, Xbox 360 (HD Collection, no menu inicial do MGS3)

Dessa vez a parada era um pouco mais séria. Em 1999 a humanidade acabou passando por uma crise global devido a falta de óleo e os abastecimentos de petróleo cada vez mais vazios – mais uma vez o Kojima querendo prever o futuro assim que determinados problemas começaram a receber destaque – e a primeira pessoa que apareceu com uma solução pra esses problemas foi o Doutor Kio Marv, criando uma espécie de alga que era capaz de produzir OILIX, um petróleo genérico. Logo após o Doutor revelar esse combustível novo pro mundo ele foi sequestrado por soldados de Zanzibarland, que pretendiam, tendo controle do OILIX, tomar de assalto todas as relações políticas do mundo. Além do OILIX eles também acharam um monte de depósitos nucleares, com bombas que haviam sido tiradas de circulação num esforço do governo para erradicar a ameaça nuclear.

A unidade FOXHOUND, agora comandada por Roy Campbell (se lembre desse nome!), manda mais uma vez Solid Snake – agora não mais um iniciante, mas um soldado consagrado e famoso por evitar a insurreição de Outer Heaven quatro anos antes – para se infiltrar em Zanzibarland e trazer Kio Marv de volta.

O jogo é uma evolução natural porém bastante drástica do primeiro: agora os guardas não enxergam só em linha reta, o Snake tem mais alguns movimentos (incluindo o já famoso bater-na-parede-pra-chamar-atenção-dos-guardas e a capacidade de se arrastar no chão para se esgueirar em espaços apertados) e os cenários são mais coloridos e bonitos num geral. Também foi o primeiro jogo da série a ter um radar no canto superior esquerdo, coisa que se tornou padrão com o tempo – ainda que esse radar não fosse tão avançado quanto os posteriores, embora também englobasse uma área maior. Um dos maiores destaques acaba sendo a trilha sonora, também, que é animal pra cacete. Aa abertura é uma das melhores da época, construindo tensão e ansiedade para o que viria a se desenvolver.

As inovações em direção ao que conhecemos hoje não param por aí. A história em si é à frente de seu tempo e todos os elementos que fariam de Metal Gear Solid um sucesso em 1998 estão presentes, desde a volta de companheiros do mundo dos mortos às reviravoltas e traições surpreendentes. MG2 ainda debate temas importantes e delicados como o uso de recursos naturais para a produção de energia – não podemos esquecer que nessa época o mundo testemunhava a Guerra do Golfo, abertamente causada por disputas relacionadas a petróleo.

É seguro dizer que aqui, pela primeira vez, temos um vislumbre do fenômeno que Metal Gear se tornaria em alguns anos. Não só por toda a qualidade técnica, mas o fato de ser a primeira vez que alguém deixa o Kojima trabalhar sem amarras, sem ninguém dizendo o que pode e o que não pode fazer num joguinho, resulta numa obra genuinamente boa. Enquanto o primeiro jogo é dificilmente apreciado hoje por ter tantos elementos datados, Metal Gear 2: Solid Snake continua um jogo excelente e assim será enquanto a humanidade existir. Se o lançamento não tivesse ficado confinado ao MSX2 e ao território japonês, a história colocaria esse jogo no mesmo pedestal que hoje repousam os primeiros Final Fantasies, Zelda e tantos outros títulos que moldaram os joguinhos como conhecemos, quiçá acima. Talvez fosse o tal “melhor jogo de todos os tempos”, pela época em que foi concebido. Arriscando ser acusado de clubismo, é possível que, caso um lançamento mundial tivesse ocorrido em 1990, o mercado de jogos de ação e o ato de contar uma história através de joguinhos fosse completamente diferente, hoje. A influência de Metal Gear no mundo viria oito anos antes do que ocorreu, mudando pelo menos duas gerações de jogos e jogadores.

Mas não adianta imaginar o que poderia ter acontecido. Resta a nós fazer justiça a um jogo injustiçado pelas eras e jogá-lo. Jogá-lo muito. Vai jogar essa porra.

Ao fim da epopaica aventura de Solid Snake, nos deparamos com Gray Fox, seu então companheiro de FOXHOUND desaparecido após a revolta de Outer Heaven no primeiro jogo. Comandando a revolução de Zanzibarland e com um novo Metal Gear, Fox não deixa outra saída ao herói senão o combate até a morte, numa sala repleta de minas terrestres. Snake vence apenas para descobrir, logo em seguida, que o real líder da revolução era… Big Boss! O lendário soldado sobreviveu à explosão de Outer Heaven e voltou trazendo a prometida vingança. “Quem quer que vença, nossa batalha não terá fim. O derrotado está livre do campo de batalha, mas o vitorioso deve permanecer nele e viver o resto de sua vida como guerreiro, até o fim”. Com essas últimas palavras, a trágica relação de pai-e-filho, mentor-e-aluno tem seu fim em um novo duelo, que termina com a incineração de Big Boss em uma das melhores lutas contra chefes que se pode ter num videogame.

Snake escapa da base inimiga e foge para o Alasca, desaparecendo sem deixar vestígios.

Fim. Snif. Vai jogar, caralho.

Parte 2: Metal Gear Solid (1998)

GAMESFODA

Sobre

Dono dessa merda e entidade transcendental de GAMESFODICE. Eventualmente assume forma humana como um programador barbudo ou um negão de dreads.
  • http://odilhao.me Odilon Junior

    Caralho tenho que jogar o Metal Gear 2 agora

  • Igor A. Oliveira

    Caralho, se eu não tinha hype suficiente, agora tá sobrando.

  • https://missionfiction.wordpress.com Nintakun

    Metal Gear 2 é um jogo tão massa que dá mó pena o pessoal passar batido por ele e não jogar. Pra quem tá entrando na série agora, o 1 eu falo até pra ou ler um resuminho ou ver longplay no Youtube caso a pessoa não consiga jogar, porque até dá pra entender, agora o 2… ele tem alguns poucos problemas trazidos do 1, mas ainda é um puta jogo bom e absurdo se a gente lembrar do contexto em que ele saiu.

    Acho que agora como lançamento do Phantom Pain, a história desses dois primeiros jogos tão mais importantes do que nunca estiveram antes (principalmente o 2 lá pelas cenas finais).

  • farias

    “Kojimito”, pelo menos não é “bolsomito”.

  • Jardeson Barbosa

    Ótimo texto. Tinha até esquecido que Phantom Pain sai semana que vem, agora que lembrei não conseguirei mais dormir.
    Amo MGS, pra mim é uma das melhores séries que existem… maaaas, não entendo muito bem essa adoração do povo em relação ao Kojima. Acho que algumas coisas nos jogos dele são bem boladas, mas em geral acho que ele comete tantos erros quanto acertos. MGS4 por exemplo, seria um jogo bem melhor se o plot não se levasse tanto a sério e não cometesse tantos pecados. Peace Walker teve um plot bem mais leve e pra mim foi uma experiência bem superior, apesar de ter custado bem menos pra fazer e de não ser tão reconhecido. Gosto muito de que PP está mais para Peace Walker do que para Guns of Patriots.

    Quanto ao MG2, é o único Metal Gear que nunca terminei e provavelmente nunca terminarei. Eu gosto do fato de poder andar do lado dos guardas e eles não te notarem no MG1. Isso contribui pra minha experiência de poder explorar todos os locais e de pode experimentar o jogo ao meu ritmo. Stealth em 2D é osso e MG2 é bem cruel. O radar é muito complexo pra mim, sempre me confundo e acabo sendo detectado. Além de que no geral, todas as adições (que futuramente funcionariam muito bem no Metal Gear Solid de GBC) só me distraem do objetivo jogo. Sempre que tento jogar MG2 fico frustrado e desisto. Fiquei muito mal acostumado com o MG1.

    • Neozao

      A adoração ao Kojima faz parte da brincadeira. Ele é uma “celebridade” dos jogos então é legal brincar de groupie, mas sua fama vem do fato de que mesmo errando (eu também não gosto muito do 4) ele TENTA e faz umas coisas bastante fora da caixa na mídia, ainda que de modo meio atrapalhado de vez em quando.

      E o MG2 é meio assustador, mesmo, mas acho que é questão de costume. Já conseguiu prosseguir pelo menos uma horinha? A partir de lá as coisas ficam mais naturais, eu acho.

  • Carlos Sarcinelli

    Estou com este MGS2 travado no “Running Man”, não consegui matar o filho da mãe! Vi vídeo sobre e tentarei em outra oportunidade.
    É a melhor série!

  • Patrick Ribeiro

    Vocês são fodas. Vão fazer eu parar de jogar meu Final Fantasy VI só para terminar MG 2.

  • João Henrique

    Nem li os posts que ainda virão mas já os amo imensamente! A importância de toda essa trama criada pelo Messias tecnológico não poderia deixar de ser contada, ainda mais com o futuro lançamento de Phantom Pain.

  • http://www.zelda.com.br/ Twero

    Cês não fazem ideia como eu ansiei por esse texto conjunto do Neozão e do Guerra sobre Metal Gear!

    Eu tava me contentando só com um game… mas vocês vão falar da série toda. Tô emocionado, até!

    Eu gosto das ideias do primeirão, apesar das limitações (sério, tirar a máscara de gás pra equipar o card pra abrir uma porta? Além da situação cômica que é ficar trocando de chave até conseguir abrir uma das portas.

    E a gente vê resquício do primeiro até hoje, porque ele merece.

    O segundo é o melhor em tudo, inclusive acho a luta final dele mais foda do que no primeiro: Você está totalmente desarmado, tendo que entrar em sala em sala até achar…. um spray e um isqueiro. O momento mais épico do jogo concluído na base do improviso. DEMAIS!

    http://www.deviantart.com/art/Solid-Snake-VS-Big-Boss-MG2-208781805

    Enfim, adorei ver os estilos de cada um em um Metal Gear diferente, mal posso esperar pelo próximo! 😀

  • Pingback: Retrospectiva Metal Gear: Metal Gear Solid (1998) | GAMESFODA

  • Jaotavio

    Eu terminei Metal Gear 2 hoje, óia que coisa… E concordo com vocês: é um puta jogo foda. Eu fico imaginando como quem jogou isso em 90 deve ter pirado. É uma pena que pouca gente teve o prazer de fazê-lo.
    Mas joguem. Eu imagino que muita gente pode torcer o nariz pro jogo pelas mecânicas hoje quadradonas, mas dá uma chance.

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