Retrospectiva Metal Gear: Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty (2001)

Parte 2: Metal Gear Solid (1998)

Em 2001 o mundo estava no começo de uma revolução tecnológica que se consolidaria apenas alguns anos depois, mas que já estava mostrando seus dentinhos. A popularização da internet e o seu uso para espalhar determinadas ideologias seria inevitável. Mas, como muitos outros assuntos relativamente polêmicos assim, não era algo muito explorado em videogames. Haviam influências aqui e ali, mas tudo era feito apenas pra justificar uns pulos ou tiros que pudéssemos dar controlando um bonequinho na tela. A sequência de Metal Gear Solid finalmente chegaria, três anos depois do original, alguns meses depois do atentado às torres gêmeas de 11 de Setembro e quase uma década antes de ter uma relevância contemporânea um pouco mais crítica.

(Também escrevemos um texto recente e que vai mais a fundo em várias das questões apresentadas nesse – se alguém quiser ler em complemento, é esse aqui)

METAL GEAR SOLID 2: SONS OF LIBERTY (2001)

Plataforma original: Playstation 2

Onde pode ser jogado hoje em dia: Playstation 2, Xbox (aquele primeirão mesmo), PC, Metal Gear Solid HD Collection (Playstation 3/Xbox 360/Playstation Vita)

Pouco depois do fim de Metal Gear Solid, seja qual fim tenha sido esse, Snake e Otacon formam uma organização não-governamental chamada Philantropy, focada em combater a ameaça de Metal Gears. Depois de Shadow Moses, as especificações do robô vazaram e agora todas as organizações militares que quisessem poderiam ter seu próprio Metal Gear. Em 2007 Otacon recebeu uma informação (assinada apenas por “E.E.”) de que uma nova unidade de Metal Gear, chamada RAY, estava em produção – e que seu propósito era servir como um anti-Metal Gear, uma plataforma de dissuasão para evitar a ameaça criando outra em seu lugar, que eventualmente se tornaria uma bola de neve. Enquanto o protótipo de RAY estava sendo transportado em um enorme navio, a missão de Snake era se infiltrar e angariar provas de que a unidade existia e de que a Marinha dos Estados Unidos estava envolvida. Enquanto Snake estava no navio, uma organização militar Russa, comandada pelo coronel Sergei Gurlokovich (pra quem Ocelot queria vender o REX no primeiro jogo) também invade em prol de roubar o protótipo do RAY e levá-lo de volta à sua “terra-mãe”.

Junto com o Coronel estava sua filha: Olga Gurlokovich (que estava grávida durante o incidente) e Revolver Ocelot, que agora era conhecido como Shalashaska, seu nome russo verdadeiro. Após Snake conseguir as provas, Ocelot trai todas as facções envolvidas, inclusive Sergei, pra levar RAY para o presidente dos EUA: George Sears, sem explicar seus motivos. Enquanto se rebelava, porém, Ocelot perde o controle de sua mente para seu braço (!!!). Lembram que ele havia perdido o braço para Gray Fox no MGS1? Então, ele colocou o braço de Liquid Snake no lugar, e Liquid, então, controlando Ocelot a partir de seu braço (isso eventualmente vai fazer sentido, talvez) chama Snake de velho e diz que agora ele conseguirá concretizar seu plano, qualquer que seja esse plano. Ocelot, porém, dá uma mordida no braço e consegue retomar o controle, destruindo todo o navio e fugindo com Metal Gear RAY. Oficialmente Solid Snake morre durante o acidente e é pintado como um terrorista, tendo a culpa de tudo jogada sobre si e perdendo o status de herói de Shadow Moses.

Com a destruição do navio, poluentes se espalham pelo mar, se tornando um dos maiores desastres ambientais da história. Para reverter a situação, dois anos depois, o governo resolve fazer o Big Shell, uma enorme construção focada em reter os poluentes e filtrá-los de volta para o mar. Big Shell se torna rapidamente um símbolo memorial ao incidente e às vidas de todos os soldados que morreram lá pelas mãos de Solid Snake.

Pouco depois de sua inauguração, porém, enquanto o Presidente visitava suas instalações, uma facção terrorista se entitulando Sons of Liberty (sendo formado pela unidade Dead Cell e por membros do exército russo) toma o controle do lugar e o sequestra, exigindo 30 bilhões de dólares ou eles destruiriam tudo, soltando todas as toxinas já existentes no mar de novo e criando reações químicas novas que transformariam tudo num acidente ainda mais grave que o de dois anos atrás. Esse grupo terrorista tinha como líder… Solid Snake? Oi?

E então o Coronel Campbell mais uma vez manda um de seus subordinados para tentar reverter a situação, dessa vez um cara com o codinome de… Snake, também. Mas só por uns cinco minutos. Depois ele passa a se chamar Raiden, e não tem nada a ver com o Solid Snake que conhecemos. Sua missão é salvar o presidente, os outros reféns e então deter o Solid Snake real – que havia, segundo os livros de história, morrido dois anos antes. O jogo já começa confuso e a partir daí vai piorando cada vez mais, mas tudo com um propósito bem definido: espalhar informações conflitantes e deixando nós mesmos escolhermos em quais delas acreditar, tal qual o bombardeio de informações e notícias faria com o advento da cultura digital.

Metal Gear Solid 2, antes de ser um pedaço da mitologia da série, era um experimento e um comentário sobre a forma que nós digerimos histórias – mas ainda era um pedaço dessa mitologia, mesmo que fosse intencionalmente confuso. Eventualmente descobre-se que Solid Snake não morreu no acidente, mas que não era ele que tinha controle da organização terrorista, também. O dono dela era Solidus Snake – codinome adotado por George Sears, o ex-Presidente dos EUA, e pra quem Ocelot trabalhava no primeiro Solid. Solidus Snake também era um clone de Big Boss, e um clone perfeito, sem a recessividade de Solid ou a história conturbada de Liquid: Solidus era simplesmente um senhor de Guerra que treinava crianças, tal qual o próprio Big Boss, e que ao saber da existência dos Patriots, queria detonar com o legado deles.

Mas quem são os Patriots?

Os Patriots são as pessoas que controlam a informação e o modo como ela é passada para o público. Eles filtram coisas fúteis e desvirtuam dados em prol de manterem a sociedade como queiram. Os Patriots são os responsáveis por Solid Snake ser visto como um terrorista, por exemplo, já que era do interesse deles esconder quaisquer adventos heróicos de alguém que não estivesse sob seu controle. A partir de algoritmos e análises eles controlariam o fluxo da informação, criando uma sociedade extremamente controlada através das sombras, apenas vendendo a ideia de liberdade sem os cidadãos saberem que estão pensando o que são condicionados a pensar. Solidus Snake não queria isso, ele queria a liberdade REAL, em que cada um fosse livre para pensar o que quisesse a partir de suas próprias morais, então o pintaram como um vilão, assim como Solid Snake fora pintado como um – mas dessa vez para nós, jogadores. A ideia de que Solidus é um vilão vem apenas do próprio jogo, como deveríamos olhá-lo e impedí-lo, ainda que seus objetivos pudessem ser bastante nobres.

No final o verdadeiro Solid Snake – que não morreu – aparece para auxiliar Raiden, junto com Otacon e sua irmã, Emma Emmerich (“E.E.”), quem havia mandado a informação sobre Metal Gear RAY para ambos anteriormente. Todo o Big Shell era apenas camuflagem para esconder Arsenal Gear, um enorme submarino que continha um dos servidores do Patriots e milhões de RAYs para sua defesa. Os eventos então são revelados apenas uma recontagem do incidente de Shadow Moses, orquestrada por Ocelot, em prol de testar o comportamento dos Patriots e confirmar que programas seguem sempre o mesmo padrão para os quais foram programados. Os Patriots, por sua vez, estavam experimentando a condição de que, dadas as devidas cirscunstâncias, todo mundo poderia ser um herói: Solid Snake havia sido um em Shadow Moses e Raiden, um novato sem qualquer treinamento real até então, também havia conseguido ser um, sendo usado para acabar com os planos de Solidus – esses que se opunham aos interesses dos Patriots. Por fim é revelado também que Raiden na verdade havia sido treinado desde criança, sendo um soldado nas asas do próprio Solidus, espelhando a relação entre Big Boss e Solid Snake.

É uma história com muitas camadas que em teoria não deveria ser levada pelo seu sentido literal que, como já dito, era intencionalmente confuso. Foi a primeira vez que Hideo Kojima proferiu suas famosas palavras “esse será meu último Metal Gear”, então o jogo havia sido projetado para deixar muitas questões no ar e ser uma coisa um pouco mais efêmera, tratando de temas e simbolismos que, mesmo que não se aplicassem ao universo de Metal Gear, seriam facilmente trazidos para o mundo real. Assim como o primeiro jogo em 3D, que tinha o tema de GENE, MGS2 tinha um: MEME. No caso esse era o meme cunhado pelo Richard Dawkins, que ditava o modo como a informação se espalhava sem tanta influência genética. A cultura, e não o “destino”.

Após explicar essas LIÇÕES DE VIDA – recebendo destaque no diálogo sobre como a nossa individualidade é importante para formar nosso discurso e história de vida – para o Raiden, Solid Snake vai em busca da filha de Olga Gurlokovich, esta que havia sido morta, e deixa Raiden no controle do próprio destino.

Por isso, embora tematicamente complicado, em questão de jogabilidade ele tentou ser o Metal Gear DEFINITIVO, com uma atenção a detalhes que só seria superada pelo próprio Hideo Kojima alguns anos depois. Diversos detalhes irrelevantes como um balde de gelo em uma única sala do jogo que tinha um algoritmo que o fazia derreter em tempo real, baseando-se na distância entre os blocos do gelo – ou mesmo o fato de Raiden escorregar em cocô de gaivota. Era um jogo que se utilizava de tudo o que o Playstation 2 era capaz em 2001, sendo tecnologicamente impressionante até hoje, catorze anos depois. Infelizmente, apesar dele ter sido recebido muito bem pela crítica especializada, os fãs ficaram muito chateados por não poderem jogar com Solid Snake o tempo todo e a história ser maluca, exigindo respostas em um outro jogo da série que originalmente jamais aconteceria. Embora em um nível mais metalinguístico isso tenha provado algumas das acusações sobre o modo que consumimos informação que o jogo trás, se tornou um peso para Hideo Kojima e pra tanta gente que exigia algo menos convoluto.

Por isso, alguns anos depois, Kojima iria ceder ao público e entregar mais uma história – dessa vez mais simples – na forma de Metal Gear Solid 3, que é geralmente tido como o favorito da série pela maioria das pessoas. Nos vemos amanhã pra falar sobre ele!

Parte 4: Metal Gear Solid 3: Snake Eater (2004)

GAMESFODA

Sobre

Dono dessa merda e entidade transcendental de GAMESFODICE. Eventualmente assume forma humana como um programador barbudo ou um negão de dreads.
  • Vinicius Carreiro Goncalves

    Bravo bravo

  • Igor A. Oliveira

    O difícil é esperar até amanhã.

    Aliás, os memes perseguem o Raiden. O Monsoon adora falar deles no Metal Gear Rising.

  • João Henrique

    Perfeito.
    A empolgação pra ler esse texto foi tanta que essa manhã eu acabei revivendo o ps2 pra jogar MSG 2 novamente, inclusive.

  • jiraspiom

    Bacana.

  • http://www.zelda.com.br/ Twero

    Eu gosto bastante do 2, especialmente da forma como ele fez minha cabeça explodir no final.

    Apesar de no começo eu nem me incomodar em controlar o Raiden, em verdade o que mais me irritava nesse jogo era… os controles (fase da água, t^ode olho em você), mas até isso é o de menos comparado ao que esse jogo fez pela gente. E também e´uma prova que o jogo mais falado da série também possui seus erros, como também suas qualidade.

    Em todo caso, é um jogo que me marcará eternamente pela sua abertura, que sempre deixo tocar quando vou jogar: https://www.youtube.com/watch?v=QvEDSkK3GQU

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  • Tutubarão

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