Qualé a desse tal de… Massive Chalice

Sempre me perguntei se o prefeito de Sim City não seria um vampiro, elfo ou uma criatura mística imortal qualquer. Como pode um mesmo prefeito governar a cidade desde 1900 até o futuro infinito? E eu nem vou entrar no mérito de discutir como funciona o sistema eleitoral desta cidade. Bom, Massive Chalice começa já se dirigindo a esta questão, explicando que você é um rei imortal que foi escolhido pra acabar com a ameaça da gosma misteriosa que eles chamam de “Cadence”, que aos poucos está cobrindo o mundo todo. Você é escolhido literalmente por um cálice gigante conselheiro, que é também a única coisa que pode salvar o mundo. O problema é que o cálice precisa de 300 anos pra se encher e aí salvar o mundo.

Assim, você passa esses 300 anos esperando ele se encher, defendendo o pouco do mundo que ainda resta, recrutando heróis de diversas famílias pra lutar contra os monstros que defendem a Cadence. Entra aí um gameplay que lembra bastante o X-Com que saiu recentemente, só que medieval. Quer dizer… não sei se medieval seria o melhor termo aqui.

Uma das coisas que eu mais gosto nos jogos da Double Fine é de como são diferentes todos os mundos que eles criam. Ainda na LucasArts, Tim Schafer não se contentou só em fazer um jogo sobre o pós-vida, ele teve que misturar elementos do folclore mexicano com filmes noir e mais algumas coisas, criando algo que até hoje só pode se visto em Grim Fandango. Até onde eu sei, Schafer nem teve muita participação em Massive Chalice, mas essa filosofia de nunca se contentar com o óbvio se mantém em todos os jogos do seu estúdio.

Existem castelos, heróis, famílias nobres com seus brasões, mas ninguém usa uma espada ou uma lança. Uma das classes até atira flechas, mas é com uma besta gigante que mais parece um arco e é apoiada no ombro como uma bazuca, todas as armas e itens são coisas únicas daquele universo.

Os monstros também não são orcs, trolls ou dragões. Assim como a própria “Cadência”, as suas criaturas todas seguem o tema principal do jogo: “tempo”. Seus nomes, aparência e mecânicas se complementam e estão todas diretamente ligadas `as consequências do passar do tempo. O resultado de toda essa tematização são inimigos bem incomuns em jogos de estratégia, como os Wrinklers (“enrugadores” na minha tradução livre) com ataques que envelhecem os seus heróis e as Lapses (lapsos, tipo lapsos de memória mesmo) que fazem o heróis “se esquecerem”, perdendo experiência e às vezes até caindo de nível mesmo se a perda for muito grande.

Não sei você, mas a ideia de um bicho que te faz perder 5 anos de vida quando encosta em você é bem aterrorizante pra mim. Sério, me dá um cagaço cada vez que aparece um.

Enfim, outra característica dos jogos da Double Fine é que o gameplay costuma ser bem… “ok”. Eles nunca se contentam com o óbvio nessa área também, o que eu admiro, mas nem sempre resulta em algo bom.

Massive Chalice talvez seja o melhor jogo da Double Fine no que diz respeito ao que é jogável mesmo, em parte porque ele também é o mais derivativo, pegando bastante coisa de X-Com, que já era algo muito bom. Mas ele muda o suficiente pra não ser só um clone. Além de toda a tematização com classes e inimigos bem mais específicos, ele é um jogo um tanto mais acessível que outros do gênero “tactics”. Fora das batalhas você não precisa se preocupar com compra de itens por exemplo. Se um item foi pesquisado você pode ter quantos quiser. Também não é permitido que você pesquise e/ou construa mais de uma coisa de cada vez, pra não ficar muito complicado. Por outro lado os seus heróis se casam e têm filhos. Dá pra brincar bastante com isso.

Eventualmente você se apega a algum herói, é normal isso nesse tipo de jogo, e Massive Chalice reconhece isso criando apelidos praqueles que se sobressaem, até transformando as armas usadas por eles em armas lendárias, mais fortes, que podem ser passadas pras próximas gerações. Porque em 300 anos muita gente nasce, cresce, se reproduz e morre. E os ataques da Cadence costumam demorar uns anos – aliás tudo no jogo costuma demorar uns anos – e raramente você vai conseguir usar um mesmo herói em mais do que umas três batalhas.

É legal porque você acaba tendo que usar um mesmo herói em várias fases diferentes da vida dele e isso afeta a maneira como ele se comporta. Heróis mais novos costumam ser mais afobados e erram mais que o normal, enquanto os mais velhos tem menos mobilidade, porém mais experiência. Os mais novos também costumam ser mais impressionáveis e às vezes absorvem parte da personalidade dos mais velhos, em coisas como “patriotismo”, “otimismo” e “rebeldia”, entre outras coisas, que influenciam nos atributos de cada um. Essas coisas também podem ser herdadas dos pais que você escolhe em casamentos arranjados, o que cria um sistema até bem complexo e cheio de detalhezinhos, mas que não acaba sendo tão importante nas dificuldades menores. Enfim, ainda é legal pra quem curte ficar brincando com genética e criando super soldados.

Eu ainda não sei se o prefeito do Sim City é um vampiro, mas sei que eu fui jogar Massive Chalice só pra ver como era e acabei me prendendo nele por várias horas. Esse X-Com quase porém não tanto medieval com genética e humor único da Double Fine acabou se tornando meu jogo favorito do estúdio desde Psychonauts. E o sistema eleitoral dele até que faz sentido.

Tuba

Sobre

Arthur “Tuba” Zeferino é co-criador do site, programador e brother indie.
  • Igor A. Oliveira

    X-COM misturado com toques ~medievais~ mais sistema eleitoral, inimigos que tiram níveis (lembrando do Old King Allant do Demon’s Souls) enquanto você é um prefeito imortal?

    rapaz onde eu jogo isso, hein?

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