Aviary Attorney começou como uma piada. Os desenvolvedores descobriram as ilustrações de J.J. Grandville para o livro “A vida pública e privada dos animais” de 1877 e se encantaram com os animais realistas, vestindo roupas humanas e andando por Paris no século XIX. Eram engraçados, quase até ridículos, porém charmosos e poderiam dar bons personagens pra um jogo. Criou-se então, com a ajuda do Kickstarter, uma visual novel usando as ilustrações do livro, com algumas leves alterações.
Se a estética do jogo é retirada totalmente da obra de Grandville, o gameplay vem de uma outra obra, mais moderna, de Shu Takumi. Aviary Attorney em nenhum momento nega a influência de Ace Attorney (vulgo Phoenix Wright) e funciona exatamente como um jogo da série da Capcom, com investigações que culminam em julgamentos onde o advogado Jayjay Falcon deve provar a inocência dos seus clientes, procurando contradições e apontando falhas nos testemunhos da promotoria.
Nota-se, no entanto, que o jogo não se contenta só em tentar imitar a série da Capcom, mas tenta também expandir a fórmula original com novos elementos e reviravoltas. Os dias são contados, é possível chegar no tribunal sem evidencias suficientes pra inocentar o seu cliente, algumas escolhas causam bifurcações na história e existe um júri que perde a confiança na defesa se esta começar a enrolar muito.
Ignorando o fato do jogo ter animais e ser na França do século XIX, Aviary Attorney é quase um Phoenix Wright Gaiden. É basicamente um jogo “E se… ?” , algo que só poderia ter vindo de um fã que sempre se perguntou “E se os julgamentos não seguissem sempre uma fórmula? E se o Phoenix pudesse perder? E se isso mudasse o resto do jogo?”, e foi lá e fez.
Com uma verba bem menor que a da Capcom, foi lá e fez usando ilustrações de um livro velho e de músicas que já caíram em domínio público. Não que isso seja ruim, achei uma boa solução pra falta de verba pra artistas e músicos. É até estranho que mais gente não faça isso. Claro que nem tudo que o jogo demandava estava disponível em domínio público, então alguns elementos tiveram de ser desenhados, e nessas horas fica bem claro que os desenvolvedores manjam de design e de escrita, mas não de desenho. A diferença na qualidade das ilustrações retiradas de livros antigos e das originais é ridícula.
Aviary Attorney é relativamente curto e fácil, mas até que compensa isso com sua estética diferente e tentando ser mais do que só um fangame de Phoenix Wright. Enquanto dura tem uma trama legal, com diálogos engraçados e personagens charmosos, mas não consegue ser tão marcante quanto as suas inspirações originais. Ainda assim, é bom pra passar o tempo e recomendado pros fãs de Shu Takumi e JJ Grandville que sempre se perguntaram “E se….?”.
