Qualé a desse tal de… Downwell

  5/01/2016 - 17:20   downwell, review,  
 

Eu imagino que você já tenha jogado um Sonic 2D alguma vez na vida. Sabe aquele esquema de quando você pula no inimigo, ignorando todas as leis da física, destrói ele e, ao invés de se espatifar no chão você GANHA UM IMPULSO que te manda levemente pra cima, e com isso pode direcionar o pulo pra atingir outro (e outro) inimigo ainda no ar continuamente?

Agora imagine que alguém fez um jogo todo meio que baseado nessa mecânica.


Downwell é… curioso. Essencialmente um jogo de mobile que também está no PC, nele você controla um carinha maluco que se joga dentro de um poço DEUS SABE O PORQUÊ e atira projéteis pelos pés SEI LÁ POR QUAL MOTIVO. E em Downwell, você cai. Você cai, e você cai, e você cai pra caralho.

Enquanto você cai pra caralho, tem uns inimigozinho que vão ficar te enchendo o saco – umas bolhazinha, uns morceguinho, uns bichinho saído de Metroid, uns olhos voadores bizarros, coisa básica – e você pode dar cabo neles (bom, na maioria deles) pisando na cabeça do coitado ou detonando com o seu misterioso TIRO DO PÉ. Os cenários e plataformas são gerados randomicamente, e enquanto algumas plataformas são fixas, outras são bloquinhos destrutíveis que seu tiro do pé também pode tirar do caminho. Ao detonar os inimigos e alguns blocos especiais você ganha gemas coloridas, que servem tanto para deixar o seu tiro mais forte quanto como moeda corrente nos escassos shops que aparecem esporadicamente em um canto e outro.

Como é de praxe nesse tipo de jogo, seu tirinho do pé muda; entrando em algumas passagens que vez ou outra aparecem você encontra cápsulas que trocam seu tipo de tiro. Algumas são bem úteis (como a spread e shotgun), outras são bem horríveis (tipo o laser e aquele noppy maldito). A “catch” acaba sendo que quando você pega essas novas armas, também ganha algum leve upgrade nos seus stats: às vezes um ponto de vida recuperado, às vezes aumenta a munição pra sua arminha. Ah, falando nisso, a munição: os tirinhos geralmente te dão um impulso extra pra se manter no ar, mas a sua munição é limitada. Tal munição enche de volta instantaneamente caso você faça uma dessas duas coisas: toque no chão OU detone um inimigo pulando na cabeça dele. As fases são divididas em zonas (1-1, 1-3, 2-1) e entre uma e outra você pode escolher dentre três upgrades com efeitos variados (dar um “pulo foguete”, atirar pra cima sempre que você pegar um cristal, recuperar energia comendo as carcaças dos inimigos, etc). Naturalmente, a cada nova zona as coisas vão ficando mais difíceis.


Se eu fosse juntar todo esse apanhado de ideias de forma segregada, ficaria difícil dizer qual é o apelo de Downwell. É uma porra dum jogo onde você fica descendo um poço o tempo todo, detona uns inimigos, coleta umas pedras coloridas, e só?

Então… basicamente, sim. Vai ver é por isso que Downwell tem um aspecto bastante importante que traz o seu diferencial, que é o flow.

O flow não é uma mecânica do jogo ou algo assim; eu tô literalmente falando de fluir, de ter um ritmo. À medida que você vai pegando o jeito no jogo, você começa a “combar”, que é derrotar um monte de inimigos sem tocar uma só vez no chão. Você faz isso com o impulso que recebe ao detonar eles na cabeça, com os tirinhos que saem do seu pé, com o IMPULSO dos tirinhos do seu pé, enfim, tudo junto. À medida que vai se familiarizando com as mecânicas, você vai descendo mais e mais rápido, aprendendo os esquemas dos inimigos, conhecendo suas táticas, descobrindo seus upgrades favoritos e simplesmente melhorando no jogo. Aí você consegue um combo de cinco, dez, quinze, VINTE inimigos sem cair no chão e vai recebendo bônus de cristais por causa disso.

Aí o jogo deixa de ser um desafio imposto para se tornar um desafio auto-imposto: você sente uma pequena satisfação, uma vitória momentânea sempre que consegue se manter no ar sem tocar o chão e continuar combando enquanto pula na cabeça dos bichos infelizes. Vai se tornando um divertido vício. É literalmente uma compreensão do pequeno espaço que se tinha disponível para a tela (lembre-se, isso era originalmente um jogo de celular) e uma forma inteligente de fazer uma ação acelerada e satisfatória ideal tanto para pequenas doses quanto para sessões levemente mais longas.

Só botando um adendo: apesar do jogo quase não ter textos, ele tem uma tradução em português. Do pouco que joguei com a língua achei bem engraçadinha, ao mesmo tempo que vi algumas decisões um pouco questionáveis.

…e outro adendo, que não se encaixava em lugar nenhum. O jogo foi feito por um brodinho japonês que vai pelo pseudônimo de Moppin e mais dois caras. Uma das primeiras coisas quese vê no jogo, logo depois do logo da Devolver Digital, é o nome e o username do Twitter dos três desenvolvedores. Achei um detalhe ultra curioso, meio que como um “sinal dos novos tempos”, ou algo assim.

Eu demorei um pouquinho pra pegar o jeito – ou mesmo pra ver a graça – de Downwell; por um tempo, só me pareceu uma versão simplificada do espetacular Super House of the Dead Ninjas. Mas assim que me fisgou, eu entendi o porquê dele ter feito um relativo sucesso. É o tipo de jogo que você abre a sua página de biblioteca do Steam, vê o que tem pra jogar, e encontra o ícone dele ali. Sem pensar duas vezes, você dá dois cliques: e vinte segundos depois você tá descendo metros e metros de um poço (aparentemente) sem fim.

Enfim: Downwell é mó bom. Mas se vai no PC, faz um favor: leva um controle. Teclado definitivamente não é a melhor pedida pra um jogo desse estilo.

(Trivia: Assim que terminei essa análise, entrei no site oficial e vi que o primeiro adjetivo que descreve o jogo é, literalmente, “curioso”. Que foi, coincidentemente, exatamente o mesmo adjetivo que usei assim que comecei a falar dele.

…só quis compartilhar isso com vocês mesmo. Achei curioso.)

Disponível para iOS, Android e Windows.

Sobre

Rodrigo "Rod" é de Salvador, Bahia. Estuda psicologia, finge ser escritor, e acha que entende alguma coisa sobre game design.
  • Yasser Hanzi

    Queria que esse jogo lançasse no Vita,não tenho Windowz no PC e pa

  • Mateus Alexandre

    Comprei por R$ 4 na Winter Sale, e agora com essa review tomei coragem pra conferir 😀

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