Qualé a desse tal de… Transformers: Devastation

“Mas o que DIABOS está acontecendo?”, me perguntei logo nos primeiros minutos de jogo, e não em um bom tom. A Platinum é famosa por fazer títulos onde a primeira vez jogando é meio que um tutorial (quem gosta de Viewtiful Joe bem sabe. Lembra de Fire Leo?), mas Transformers: Devastation parecia fazer o máximo de esforço para não me explicar desgraça nenhuma do que estava acontecendo. Por que o mapa da primeira fase é tão grande e cheio de caminhos inúteis? O que é esse monte de loot aleatório e sem sentido que estou pegando dos baús? O que são esses bônus sem sentido que eu estou atirando? Por que o primeiro chefe é impossível na dificuldade Hard? Por que eu estou trocando aleatoriamente de carro/robô falante antropomórfico sem o jogo nem me explicar o que RAIOS está acontecendo?

A primeira experiência com o jogo foi bem decepcionante: tão ruim, pra falar a verdade, que eu simplesmente abandonei ele após poucas horas sem pensar muita coisa. Não foi só até alguns meses depois, após vê-lo em algumas listas de melhores do ano, que resolvi dar outra chance; e não me arrependi nem um pouco de tê-lo feito.

Aqui – ou em qualquer outro review do título que você procurar pela internet, verdade seja dita – o fato de Tranformers: Devastation ser um jogo da PlatinumGames vem antes dele ser um jogo de Transformers. A pequena empresa japonesa que começou como uma fábrica de criatividade (quem lembra de MadWorld e Infinite Space?) encontrou seu nicho de mercado em jogos de ação de pequeno e médio porte após o sucesso de Bayonetta e Metal Gear Rising. Hoje em dia eles essencialmente preenchem aquele lugar que era característico da Treasure na época dos 2D: fazem trabalho por contrato e muitas vezes com propriedades intelectuais de outros, se firmando por conseguir fazer jogos completos em um curto período de tempo e orçamento baixíssimo (eu só espero que eles estejam sendo relativamente bem pagos pra isso…). A PlatinumGames, junto com a From Software, se tornou sinônimo de qualidade após uma época turbulenta onde os jogos japoneses estiveram em baixa. A Activision certamente gostou mais de trabalhar com eles do que a Sega, visto que eles não estão dando folga pra empresa: já foi Korra, esse Transformers e tem um Tartarugas Ninja vindo por aí.

Mas enfim… Transformers. A série que nasceu como pretexto de vender brinquedinhos da Hasbro marcou a infância de uma galera nos anos 80, mas eu pessoalmente não lembro nada dela e não gostei dos filmes do Michael Bay, então meio que cago pra série. Pra quem era norte-americano e tem mais de 30 talvez seja massa descobrir que os dubladores do jogo são os mesmos da série animada original, mas pra mim, infelizmente, é só um bando carro antropomórfico falando besteira: em suma, uma grande bobagem. (Foi mal, Giordano!)

Então, esclarecendo que eu acho Transformers uma imbecilidade sem tamanho, eu reitero que isso aqui é um review sobre um jogo da Platinum que simplesmente, por acaso do destino, acabou tendo um bando de mechas carros que falam e aprontam altas confusões. Estamos claros? Vamos seguir, então.

Se The Legend of Korra (que eu gostei bem mais que o Tuba, aliás – talvez por não ter qualquer intimidade com a obra original) é um “Bayonetta Lite”, Transformers: Devastation pode ser bem definido como um “Metal Gear Rising Lite”, também. Vão vir inimigos: desça o cacete em todos eles até terminar. Grande parte das mecânicas de todos os jogos estão presentes aqui: esquiva, combos com ataques fortes e fracos, Witch Time (tempo fica lento após uma esquiva no momento certo), Parry (defende o ataque e quebra a defesa do inimigo) e até mesmo o Dodge Offset! (esquivar segurando o botão permite que você continue o combo de onde parou ao retornar – a mecânica, inclusive, está mais fácil do que nunca de ser feita aqui)

O foco único do jogo, então, fica sendo no seu esquema de level e nas armas coletáveis. Ao cumprir determinados objetivos, que vão desde derrotar inimigos a encontrar segredos espalhados pelo cenário, você adquire novas armas; essas armas são divididas entre melee e ranged (curta e longa distância) e alternam entre comuns e raras, possuindo também um rank que determina o quanto essa arma pode evoluir. Existe um sistema de fusão de armas que envolve o Rank delas e também as suas habilidades nativas; esse sistema é crucial pra ter as melhores armas e de fato ter sucesso no jogo, porém ele é extremamente mal explicado e só através de experimentação que as coisas vão ficando mais claras. Além disso, tem também um sistema de pontos que serve tanto como pontos de experiência como dinheiro pra fazer upgrades nos equipamentos. De fato, um dos maiores apelos de Transformers: Devastation é a quantidade de formas que existem para customizar o estilo de luta do seu personagem através de vários subsistemas. O mais comum é que você encontre uma arma fodona e goste mais do moveset dela que a média, mas pra quem curte experimentar, há espaço para isso também – fora que, além de cada arma, cada personagem selecionável também possui suas peculiaridades no que varia de stats únicos a equipamentos e ataques especiais.

O revés disso é que, diferente de outros jogos da Platinum, há uma necessidade de grinding para obter e evoluir os melhores equipamentos. Fazer a dificuldade mais difícil logo de cara, por exemplo, é algo impraticável – então o jogo exige que você “suba uma escada” ao invés de se desafiar logo de cara. Ter um esquema mais característico de RPG de ação em um jogo da empresa é interessante, porém seu design ter uma dependência disso às vezes torna a coisa um pouco frustrante – ter reflexos rápidos ainda é importante, mas isso não vai salvar a sua pele se você estiver com uma arminha de merda.

Apesar do jogo fazer um péssimo trabalho inicial em explicar como funciona, após um tempo jogando e descendo o cacete nos inimigos as coisas simplesmente começam a fazer sentido – e seu monte de armas, cenário enorme e vazio e outras peculiaridades bizarras enfim pareciam ter algum nexo.

O jogo não tenho mesmo empenho ou brilho de alguns dos melhores jogos da desenvolvedora e é claramente desenhado através de suas limitações, mas ele é bastante divertido em seu próprio mérito. É o tipo de jogo que vale a pena pegar quando tem uma promoção muito boa na Steam. Ele vai te entreter bem por um ou dois dias, ou então vai ser uma boa distração para um domingo tedioso. Mantendo suas expectativas sob controle e sabendo que você vai essencialmente pular em um jogo licenciado com um orçamento e escopos limitados (mas um sistema de batalha muito bom), Transformers: Devastation é o tipo de ação empolgante e semi-acéfala que você poderia estar  procurando. Robôs falantes que viram carrinhos seria uma premissa estúpida pra qualquer pessoa que não um empresário ou uma criança de 6 anos, mas que se dane: eu posso dar uns sopapos em um monte de bichão e pra mim isso tá bom demais.

Disponível para PS3, PS4, Xbox 360, Xbox One e PC.

Sobre

Rodrigo "Rod" é de Salvador, Bahia. Estuda psicologia, finge ser escritor, e acha que entende alguma coisa sobre game design.

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