Eu gosto muito de hentai. O que eu mais gosto são desenhos baseados em personagens que já existem e que não são de propriedade do autor da arte. Acho esse ato de desenhar algum personagem nu ou em atos sexuais a forma mais sincera de elogio que um artista erótico pode emitir, mostrando o desejo de expandir a existência daquela figura fictícia para além das bordas demonstradas na obra onde ele é representado.

Criar um personagem original que realmente cative o seu consumidor sexualmente é algo bem mais complexo do que simplesmente fazer um personagem agradável de olhar. Ora, como eu disse acima, desenhar alguém pelado é uma homenagem que se faz com alguém que se gosta. Ninguém desenha a Chun-Li ou o Ryu pelados (às vezes juntos e transando) só porque acham eles gostosos, mas porque também os consideram personagens bacanas. Eu sei que isso pode parecer estranho e absurdo para muita gente, mas assim como a personalidade de um humano é levada em conta quando a gente considera atração pelo mesmo, o mesmo acontece na ficção.

A Rainbow Mika, alvo de tantas polêmicas com aquele tapa na bunda, e a Laura, com tantos textos por sua roupa e representação das brasileiras, possuem somadas menos desenhos eróticos baseados nelas lançados nesse mês do que a Peach, que jamais teve como alvo esse ar sensual, mas que ocupa o coração de infinitos jogadores na internet por seu carisma (fonte: Sankaku Complex [NSFW]). Portanto, se os personagens mais estimados pelo público são aqueles que mais são representados nus, significa que você tem que bolar certa imagem e personalidade no seu personagem original para que ele fique interessante como pessoa e estilo, antes de ser interessante sexualmente.

Mas vamos nos voltar para Senran Kagura, que está atualmente na sua edição mais gloriosa e festiva com o Estival Versus. Ele é um jogo completamente voltado para o fanservice. Para quem não sabe, o conceito do jogo é baseado em diversas garotas de peitos enormes (e duas ou três com peitos pequenos), que são o último reduto ninja do mundo. Só elas sabem as secretas artes de combate para salvar o mundo e acabam se enfrentando em batalhas onde suas roupas acabam rasgadas.

A opinião individual da necessidade da existência de um jogo desse tipo ou de suas repercussões não vem ao caso aqui: a franquia em seu estado atual está muito além de todo debate, já que jamais tentou maquiar o que realmente é. Logo na abertura do jogo, que está excepcionalmente linda (não digo nem no aspecto sensual), temos todas as garotas do jogo de biquíni em uma praia, coreografando uma alegre musiquinha japonesa. Logo na introdução ele já mostra para o que veio.

Mas, se fosse apenas erotismo, com peitos pulando pra lá e pra cá na tela a todo o momento, nada do que eu disse nos primeiros parágrafos fariam sentido algum. O jogo possui mais de vinte e cinco personagens, todas elas mulheres, e todas elas originais do jogo. Se elas fossem simplesmente corpos e rostos bonitinhos eu duvido muito que a série estaria em seu sexto jogo.

O jogo não foca apenas em vangloriar as formas das personagens: ele cria uma personalidade única e muito bem definida para cada uma dessas garotas do jogo. É claro, às vezes isso não fica tão nítido dentro desse jogo isolado porque ele presume que o jogador já conhece muitas delas de títulos passados onde elas foram apresentadas. Mas mesmo sendo esse um episódio quase não canônico, onde a história em si não agrega muito para a série, você consegue ver claramente como cada uma delas possui sua própria personalidade e afinidade com outras garotas.

Isso pode parecer básico, mas é muito interessante de se notar que a personalidade acaba encaixando muito com o visual e a apresentação de cada uma, e embora a maioria delas esteja naquele mesmo padrão físico absurdo do hentai, você passa a gostar de algumas delas mais do que de outras. Embora tudo isso seja feito de forma bem caricata, os gostos, desejos e problemas de cada uma delas fica claro e, mesmo em um jogo de narrativa tão simples, esse detalhamento consegue destacar cada uma delas das outras de maneira bem distinta e pessoal.

Na verdade, isso causa uma conexão tão forte entre as personagens e o jogador que eu consigo imaginar mulheres apreciando o jogo e se identificando com algumas das garotas e seus problemas, mesmo esse jogo sendo claramente feito para o público masculino. Assim como eu mesmo me identifico com algumas delas mais do que outras, por que não?

É bom notar também toda a parte sensual do jogo acontece em um ambiente completamente cômico e despretensioso, que tira sarro até de seus próprios conceitos. Por exemplo, sua história se baseia em um festival onde os quatro clãs de garotas ninjas são levados para uma ilha, na qual pessoas que já morreram voltam à vida para resolverem algumas pendências emocionais. No meio desse cenário, uma das garotas que ressuscita tem sua animação de abertura nas lutas com ela descendo do céu em um caixão, e sua cena de comemoração com ela tirando um feliz cochilo dentro do mesmo.

Esse cenário bizarro e sem sentido acaba amenizando o erotismo do jogo, que se preocupa com diversos detalhes além da sua proposta básica, sabendo que ele não se sustentaria apenas de cenas picantes e pouca roupa. O combate, por exemplo, é muito diversificado e bem distinto entre cada uma das garotas, e é surpreendentemente complexo e cheio de truques e alternativas, se levarmos em consideração sua natureza meio Musou. Digo, ele ainda possui toda aquela horda de inimigos para serem derrotados, mas por muitas vezes a ação se torna ninja contra ninja, e nessas horas várias mecânicas antes esquecidas acabam sendo usadas. E você pode notar ainda mais o quão bem amarrado é o combate durante uma partida online, onde o outro jogador é tão esperto quanto você e pouco aberto aos seus ataques.

Portanto, por isso tudo, Senran Kagura é um jogo interessante de se jogar e acompanhar a evolução. Ele tem seus objetivos claros, e mostra que é um título primariamente feito com seu apelo erótico em mente. Poderia muito bem se conformar em ser apenas isso, em meio à sua qualidade artística no design das garotas e da sua infinidade de roupas e lingeries a serem desbloqueadas. Entretanto, o jogo acaba agregando muito mais ao seu conceito e colocando uma alma em toda essa ideia que parece ser simplesmente carnal.

Mas carnalidade também não é totalmente sem alma em si, ela apenas precisa ser focada em alguém com algum tipo de conexão com você para ser algo mais. Após jogar diversos títulos da série, eu acabo voltando sempre para jogar com aquela personagem favorita, ou acabo gostando de outra que não me importava tanto por novidades na história ou por mudanças no combate. Ir além do proposto em um jogo que normalmente seria apenas erotismo é o que me faz realmente ser fã da série e das garotas que a compõe.

Portanto, toda essa elaboração de personagem em conjunto com seu design faz parte do quanto você se interessa por um personagem sexualmente falando, e a franquia é um exemplo claro disso. Toda a sensualidade da franquia não seria nada sem todo o carisma e trejeitos de cada uma das garotas, ou sem todo o carinho e detalhes que os criadores colocam em cada título lançado. Você pode se aproximar de Senran Kagura pelos peitos, mas acaba ficando e se conectando por todo o resto envolvido.