Qualé a desse tal de… Phoenix Wright: Ace Attorney – Spirit of Justice

Ace Attorney é uma série curiosa. Depois do 4º jogo, seu criador, Shu Takumi, já não trabalhava mais nela. Mais estranho ainda, ele ficou encarregado dos spin-offs: enquanto Dual Destinies era produzido ele dirigia Layton vs Wright e, da mesma forma, enquanto Spirit of Justice era feito, The Great Ace Attorney, um jogo sobre o ancestral do Phoenix e Sherlock Holmes, estava em seus estágios finais. Então, era de se esperar que os dois jogos da série principal sem seu criador seriam ruins e mal direcionados, certo?

Até hoje me surpreendo com o que vi em 2013 com Dual Destinies. Claro, em retrospecto, ele não é um jogo perfeito e tem várias falhas, mas consegue se manter no espírito da série. Takeshi Yamazaki, um de seus diretores, dirigiu os dois jogos focados em Miles Edgeworth, promotor rival de Phoenix Wright. Visto que Edgeworth é um promotor de prestigio, os jogos focam em casos menos pessoais e de repercussão maior, como crimes internacionais.

Isso é importante pois Yamazaki volta como co-diretor de Spirit of Justice, cuja localização ainda mantém o nome Phoenix Wright puramente por marketing, visto que o jogo foca em no mínimo dois personagens de forma igual. Metade de Spirit of Justice se passa em Khura’in, um país extremamente religioso onde a comunicação com os espíritos é uma de suas crenças mais importantes. Tão importante que é a base de todo seu sistema judiciário, que abdica de advogados de defesa. Ah, ele também tem um governo corrupto e uma revolução prestes a estourar. Mas claro que o advogado famoso em sua terra natal, porém zé ninguém numa escala mundial, não teria impacto algum em solo internacional, não é?

É aí que os trabalhos anteriores de Yamazaki começam a se confundir. Logo se perde o espírito pessoal e cotidiano da série criado anteriormente por Shu Takumi. A punição agora, ao se perder um caso, é literalmente a morte.  Eu entendo a necessidade de aumentar o desafio para um advogado teoricamente imbatível, mas acho que um pouco de autocontrole teria ajudado bastante.  Phoenix também não é só um estrangeiro perdido numa revolução, como deveria ser,  e sim uma das faíscas que ajuda a acendê-la

Mesmo assim, eu não consigo deixar de aplaudir a genialidade de mandar o protagonista para outro país onde tudo lhe é estranho e nada faz sentido.  Phoenix constantemente ofende o povo local e sua religião simplesmente por ele ser quem é, um estrangeiro completamente perdido. Isso mostra que ainda há muito tato na caracterização de seu personagem, embora ainda sofra de sua doença de múltipla personalidade que veio do jogo anterior: perdedor quando o jogador o está controlando, e com aquela pompa de mestre e mentor quando não está.

Apollo, por outro lado, continua seu arco que foi esquecido em Dual Destinies, o que me faz sinceramente pensar que o jogo deveria ter, na verdade, o seu nome no título.  Aliás, esta é outra jogada muito inteligente de Spirit of Justice: enquanto Phoenix testa ares novos e desconhecidos, Apollo continua o trabalho de sempre em casa, crescendo cada vez mais.

A novidade da vez é que os tribunais em Khura’in fazem uso de um ritual onde se vê os últimos momentos da vítima, podendo assim interpretá-los para entender a verdade completa. Sinceramente é uma mecânica tão interessante que eu tinha vontade que ela virasse seu próprio jogo, porque infelizmente não chegou em seu potencial completo. Há ainda muito o que explorar.

E é aqui que o jogo se torna espiritualmente confuso (heh). Por um lado, muitos dos clichês nos quais achei que ele cairia foram simplesmente subvertidos de forma impressionante. Por outro, embora ele se esforce muito para melhorar os problemas do jogo anterior – a facilidade e a falta de investigação – acaba caindo de volta nos mesmos vícios, sem motivo algum. Parece até que o jogo foi escrito e dirigido metade por uma pessoa e metade por outra, sem comunicação nenhuma.

Gostaria falar um pouco mais de outro problema: a enrolação. Spirit of Justice me tomou 36 horas – Dual Destinies me tomou 37, porém junto com o DLC. No ritmo que eu jogo, investigando tudo e perguntando quase tudo para as testemunhas, geralmente os jogos anteriores levavam em torno de 23 horas. O que significa que 10 horas de Spirit of Justice foram de reviravolta atrás de reviravolta e texto gigante atrás de texto gigante, que é um problema em si. Chega em um ponto onde esse tipo de situação vira mais um incômodo do que algo emocionante, como deveria ser. Todos os casos, surpreendentemente, são muito interessantes, mas há algo a se pensar quando você é rebatido mais uma vez pela promotoria, um fato novo vem à tona de repente e você para e fala “Tá, isso não precisava ter acontecido”.

Tenho de admitir, porém, que houveram cenas em que eu estava quase berrando e apontando para a tela, dizendo “É ele! Diz logo o que aconteceu!” ou momentos em que bateu aquele “Ah há!”. Essa é a essência da série, essa empolgação jovial de assistir um suspense, entender o que ocorreu e esperar ansiosamente para que o protagonista perceba, como dita pelo próprio Shu Takumi. Se, apesar de tudo, isso não se perdeu, então dá para ver que o coração de quem fez estava, ao menos, no lugar certo.

Como mencionei anteriormente, o ar grandioso e imponente de Spirit of Justice é incômodo e contrastante com o resto da série, que não tratava nada mais do que de alguém simples que lutava junto de seus ideais para realizar seu trabalho do dia a dia (exceto pelo final do Apollo Justice, porém isso é história para outra hora). Mas isso não subtraí do resto que ele tem a oferecer, os personagens são interessantes como sempre conseguem ser, a trilha sonora é excelente e os diálogos ainda são inteligentes e engraçados.

Phoenix Wright: Ace Attorney – Spirit of Justice é um dos raros casos, junto com Kirby, onde seu diretor já partiu para outros projetos e mesmo assim o jogo não perde sua qualidade. A diferença principal é que o time da Capcom não conseguiu herdar completamente o espírito de Shu Takumi. Ao que parece, conseguem entender a essência, mas falta a vivência pura de ter trabalhado junto dele. Certamente, não devem tentar criar uma cópia e sim entender seus princípios e passá-los adiante, algo que é um tema recorrente da série que ele mesmo criou.

 

Sobre

Luiggi "Afro" Ligocky é um pseudo-artista que estuda a área de jogos digitais. É um adorador de jogos japoneses e bizarros desde a época em que ganhou seu Super Nintendo. Grande fã da Nintendo, Konami e Sega.
  • Leonardo Chalhoub

    não li inteira a review pra não pegar spoilers, comprei o jogo ontem. olha, ultimamente eu compro mais pra manter os caras fazendo os jogos do que pelo jogo em si! A isso se somam os jogos de wii u

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