Uma análise GAMESFODA da ~polêmica~ com o final de Mass Effect 3

Por GAMESFODA | 22/03/2012 – 20:18


A indústria de videogames é algo como a Maísa do SBT tocando um rearranjo da 9ª sinfonia de Beethoven no violino: indiscutivelmente artística, mas tão imatura e pentelha que fica praticamente impossível levá-la a sério.

A maioria de vocês deve ter acompanhado a novela envolvendo o final de Mass Effect 3. Em um breve resumo, os reviews da crítica especializada não bateram com a insatisfação dos fãs, principalmente em relação ao final – que de fato é uma merda. Torraram o saco da BioWare, esculacharam o jogo no Metacritic, fizeram abaixo-assinado, macumba na encruzilhada e, por fim, conseguiram algo com isso: em uma carta aberta aos jogadores, Ray Muzyka, co-fundador da BioWare, disse que alternativas para o final de ME3 estão em produção e saberemos mais a respeito mês que vem.

Mais uma vitória? A voz do povo prevaleceu ante a tirania das coorporações? Ou será que é a reclamação virou oportunidade de mercado e só estão querendo tirar uns trocados de alguns troxas jogadores insatisfeitos? Bom, a verdade é que não importa quem ganhou: quem perde é a humanidade. 

A situação atual

Pode parecer que estou fazendo drama, mas tem muito mais coisa em jogo nessa história do que apenas os 4 ou 5 minutos da sequência final de uma trilogia. No meio de toda essa putaria, todas as piores facetas do nosso meio foram escancaradas e nenhum dos lados está saindo limpo dessa história.

Já que falei em lados, vamos analisar o papel de três partidos nesse rolo todo: da imprensa, da BioWare e, por fim, dos jogadores. Sei que existem mais variáveis nisso tudo, mas fica mais fácil (e divertido) explicar o raciocínio focando nos podres desses três. Enfim, SHOW TIME!

A Imprensa

Tentando não generalizar, o que os maiores e mais influentes sites do mundo fizeram até aqui foi simplesmente dar notas altíssimas pro jogo e depois acumular pageviews com a polêmica em cima da treta entre os fãs e a BioWare. É como passar dias agitando uma briga entre dois caras e, na hora do pau, se afastar pra assistir de longe enquanto grita “POOORRADA! POOORRADA!!” (certeza que vocês já viram uma cena assim na escola).

Tá, nenhuma novidade até aí. É o que esses mesmos sites vêm fazendo há milênios. A diferença é que nesse caso as consequências foram visíveis e saíram do controle. Mesmo depois que a bomba explodiu, acho que nenhum deles voltou atrás para se redimir com o leitor. Porque dar uma nota alta com sentenças exageradas do tipo “um dos melhores jogos de todos os tempos”, omitindo e/ou relevando que o final é mais brochante que Matrix Revolutions, é contribuir pra criar no público uma ereção compulsiva de expectativa e hype praticamente impossível de corresponder.

Aliás, por que, a essa altura do campeonato, ainda vale de algo ser taxado de “um dos melhores jogos de todos tempos”? A lista de jogos que são chamados assim em reviews já é maior que a da fila de espera do SUS.

A BioWare

By Chainsawsuit

Sei que tem muita gente que pensa que a BioWare foi apenas vítima inocente de um exército de ogros raivosos que brotou do nada para saquear suas riquezas e estuprar suas mulheres, mas não é bem assim. Eu até concordaria com essas pessoas se integrantes da BioWare/EA não tivessem passado os últimos meses (talvez anos) divulgando Mass Effect 3 (especialmente seu final) como algo que ele não é. Se não sabe do que estou falando, esse link  tem uma série de trechos de entrevistas e declarações que criaram hype em cima de um troço que nunca seria cumprido.

Aí chegamos nas tais alternativas que estão preparando pra isso. Ainda não temos como saber como será, mas é ingenuidade os caras não sacarem que NADA é capaz de satisfazer o fandom a essa altura. É como tentar acabar com a fome na Etiópia preparando uma tigelinha de caviar.

A BioWare devia no máximo dos máximos um pedido de desculpas. Não tem que se dobrar aos caprichos do fandom, e não falo isso por causa desse mimimi de arte e roteiro autoral. Falo porque fãs são e sempre foram chatos. É pra isso que eles estão na internet. Se a indústria girasse em torno da expectativa do público hardcore, teríamos remakes de Ocarina of Time e Final Fantasy VII  saindo todo semestre.

Os Jogadores

Aqui vai a minha carta aberta a todo fã indignado: amigo, se você gasta 10 conto num PF de boteco e o bife vem duro igual uma borracha, isso não te dá o direito de pedir o dinheiro de volta ou falar que quer outro bife. Você torrou 10 mangos numa refeição ruim. Faz parte, a vida continua. Da próxima vez você vai simplesmente comer em outro lugar.

O fato é que ninguém decide de uma vez como raios quer encarar um jogo eletrônico. Uma hora jogos são uma inestimável expressão da natureza humana, comparáveis a quadros do Picasso, e no dia seguinte são tratados como se fossem o atendimento das Casas Bahia. Do nada a narrativa de Mass Effect deixou de ser parte de um produto de entretenimento e passou a ser prestação de serviço para a masturbação mental de um público imaturo e mimado.

Sério mesmo que tem gente que acha que esse é o futuro da tão alardeada mídia interativa?

Tá, mas tem algum lado bom nessa zona?

"Meu sorriso sincero e otimista diante disso tudo"

Talvez. Depende do que a BioWare está planejando e de que tipo de lição as outras empresas tirarão disso tudo. Pode até ser que isso vire um alerta para que outros estúdios se preocupem em fazer sempre narrativas e conclusões mais convincentes. O foda é que a tendência da indústria é se acomodar.

Por exemplo, há 10 anos atrás era muito mais raro um jogo sair todo bugado e incompleto. A possibilidade de lançar patchs e DLCs pra customizar um produto já lançado tornou isso mais frequente. Finais alternativos e emendas em furos de roteiro pode se tornar um modelo de negócio. Não gostou da conclusão ou gostaria de saber qual foi o rumo do seu personagem favorito? Pois bem, 9 dólares e 99 centavos, na sua loja virtual mais próxima.

Sabe aquele papo OLD de que fazer jogo AAA é muito caro e cada vez mais arriscado? Então, pensa que a indústria mainstream tá tendo que competir espaço com smartphones, crowfunding, jogos de navegador e cena independente. Tá todo mundo com o cu na mão e não é de hoje que você vê nego abraçando QUALQUER oportunidade de lucrar mais.

No final, acho que aprendemos duas lições importantes com toda essa bagunça. A primeira é que é possivel ter relações sexuais com praticamente qualquer espécie alienigena. A segunda é que nossos jornalistas, jogadores e desenvolvedores talvez ainda não estejam tão preparados quanto pensávamos (pensávamos?) para lidar com a tal mídia interativa/oitava arte que tanto curtimos. Como falei ali no começo, ser considerado arte não significa necessariamente ser respeitado e levado a sério.

Pra encerrar, fiquem aí com a música tema dessa polêmica.
Até a próxima polêmica divisora de águas!

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