Bom, já faz um tempinho desde que tivemos uma episódio desses. Acho que o último foi a controvérsia do final de Mass Effect 3; mas já houveram uns bem mais clássicos antes dele, tais como Dragon Quest IX no DS e Final Fantasy XIII no 360. Pra quem não sabe do que eu estou falando (erm… alguém?), trata-se do recente furor sobre Bayonetta 2. A sequência do original Bayonetta (obrigado, Reggie) era um jogo bastante esperado pelos fãs, mas haviam poucas notícias sobre sua existência e alguns rumores sobre seu cancelamento. A bomba veio na semana passada, quando nós descobrimos que o jogo está bem vivão e continua em desenvolvimento, mas – surpresa! – sairá exclusivamente para o novo console da Nintendo, o Wii U.
Essa notícia acabou levantando muitas sobrancelhas ao redor do globo, além de franzir muitas outras. Indo da completa estupefação à ira dos revolucionários de sofá, o anúncio da exclusividade do jogo (não o teaser, galera mal ligou pra ele) certamente causou uma comoção, o que era exatamente o que a Nintendo queria fazer no fim das contas. Acho que certas reações, assim como o que essa jogada significa para o futuro da empresa, merecem um diálogo e quem sabe uma outra perspectiva.
Vamos começar pelo começo: o primeiro Bayonetta era um excelente jogo de ação para 360 e PS3 feito por Hideki Kamiya, e o título de maior sucesso da PlatinumGames até hoje (o que não quer necessariamente dizer que ele foi um blockbuster). Talvez mais do que pela sua qualidade, o título acabou sendo muito comentado no meio pela disparidade entre as suas duas versões – o 360 foi a plataforma original de desenvolvimento, enquanto a versão PS3 recebeu um port bem meia-boca pela Sega. O port tinha uma performance significativamente inferior em quase todos os aspectos, chegando ao ponto de ter loadings até pro menu de pause. Daí, por mais que o jogo fosse excelente, ele acabou sofrendo aquela síndrome de estudante do colegial que passou por uma experiência vergonhosa um dia e fazem questão de lembrar isso durante todo o resto da sua vida. Só falar o nome dele já era combustível suficiente para uma guerra entre a galera que levanta bandeira de console.
Então, né. Anos se passaram, e os poucos rumores cercando a existência de Bayonetta 2 nunca eram muito conclusivos. Já os rumores de seu cancelamento, bom, eles eram tão vagos quanto. A verdade é que no fim das contas nós não sabíamos porra nenhuma sobre o jogo. Nisso, quando o último Nintendo Direct do nada passou de “mas esse controle é caro pra caralho hein” para “ei, galera, olha só esse teaser de Bayonetta 2 que está vindo EXCLUSIVAMENTE PARA O WIIU e SOMOS NÓS QUE ESTAMOS PUBLICANDO ESSA PORRA”, foi um negócio tão aleatório que a internet meio que explodiu com tamanho mindfuck.
Os fanáticos, em especial, eles agiram assim:
Surpresos com a notícia? Bom, acho que todo mundo. Maravilhados? Uma bela parte, de certo. Enfurecidos? Um monte.
O esquema é o seguinte: primeiramente, a notícia foi um grande choque pois representou uma ação ousada pela parte da Nintendo; uma companhia que arrisca bastante com seus hardwares, mas não é de ousar muito no que se refere a incrementar o seu catálogo (porra, os fãs quase tiveram que implorar para que a empresa localizasse alguns dos seus próprios jogos). Segundo, ela botou alguns HARDCOER GAEMRZ contra a parede ao determinar que a única oportunidade deles jogarem Bayonetta 2 é se eles comprarem o tal do novo Wii U. Foi o primeiro grande título Third-Party que antes era multi a ser anunciado como exclusivo, o que é algo bem diferente de apenas ter uma versão diferenciada de jogos que já estavam disponíveis em outros sistemas. Foi chocante pois, para muitos, essa foi a primeira notícia que de fato tornou o console relevante.
Bom, é a partir daqui que as coisas ficam feias. Posts de fãs emputecidos em fóruns são a norma – é só um modo previsível da galera desabafar um pouco e agir de forma infantil, mas isso é de pouca importância. Mas quando você chega ao ponto de pessoas mandarem insultos diretos via Twitter ao supervisor do jogo (ha!) ou então fazem páginas clamando que “boicotar Bayonetta 2 é o CERTO a se fazer“, você começa a questionar se milhões de anos de evolução não foram o suficiente para certos espécimes.
Vendo comportamentos tão infantis mundo afora, acho que existem certas coisas que são importantes de se manter em mente nesse meio. Antes de tudo, que videogames são uma indústria, e como toda a indústria, eles visam o lucro. Jogos não são feitos apenas para te divertir em um mundo cor-de-rosa onde tudo é maravilhoso. Eles são um produto em meio a um mercado competitivo e você tenta chegar na frente do modo que lhe for possível. Olha: a verdade é que ninguém gosta, de fato, de ter que gastar dinheiro em um novo sistema. Eu não gosto, você não gosta. Mas é por isso mesmo que as empresas vão mover as suas forças para os novos consoles, comprar exclusividades, e coisas do tipo: pra te convencer a comprar aquele novo sistema. É assim que o capitalismo funciona, meu amigo.
Eu sei que o que foi comentado no paragráfo acima é óbvio, mas acho estranho ver como tem gente – adultos, tecnicamente – que não conseguem lidar com um só pingo de frustração. É um negócio bizarro, e ver tanto mimimi e backlash a cada vez que algo não sai como desejávamos mostra uma imaturidade absurda, o que só deixa a situação mais escrota para quem gosta de jogos mas tem a cabeça no lugar. A impressão que tenho é que eles não estão frustrados com o fato de que não poderão facilmente jogar Bayonetta 2, mas estão apenas reclamando porque uma possibilidade que antes lhe era praticamente certa foi retirada de suas mãos. É como uma criança que chora porque ela queria o brinquedo que estava em exposição em uma loja – a criança, naturalmente, não sabe se ela pode ter o brinquedo ou não, ela só sabe que ela quer aquela porra e pronto. É uma atitude estupidamente infantil e vergonhosa.
Acho que a informação mais crucial de todas é a de que Bayonetta 2, para todos os efeitos, havia sido cancelado. E como a gente já bem sabe, coisas canceladas não costumam voltar à vida; se o negócio foi mandado pra gaveta, é porque por alguma razão não estavam botando fé. Apesar de nada ser confirmado, tudo nos leva a entender que o jogo foi “revivido” a partir dessa parceria de publishing com a Nintendo. Então, né, se não fosse pela Nintendo, você provavelmente nunca teria um Bayonetta 2 para reclamar, nem hoje, nem daqui a alguns anos.
Eu compreendo que é uma droga quando as coisas não vão do jeito que esperamos. Eu, mesmo, curtiria imensamente se eu pudesse jogar Bayonetta 2 em um dos sistemas atuais, mas infelizmente não rolou. Em uma perspectiva de negócios, é uma excelente sacada tanto pra Nintendo quanto pra PlatinumGames, mesmo que seja um negócio meio salgado pra todos nós (principalmente aqui no Brasil, onde os consoles custam o olho da cara).
Eu só acho que ao invés de ficar xingando a mãe do desenvolvedor no Twitter, a comunidade deve parar pra pensar entender um pouquinho o porquê das coisas terem saído como saíram. Ter Bayonetta 2 exclusivamente para o novo console da Nintendo pode até não ser aquilo que nós desejávamos, mas definitivamente é melhor que o jogo ao menos exista e nós possamos jogá-lo algum dia do que se ele fosse cancelado por completo e a franquia fosse engavetada e eternamente esquecida. Alguém discorda?
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