Tretas de Hong Kong – Metal Wolf Chaos e a arte de jogar com o presidente americano

Pois é, não é sempre que sai um jogo onde o protagonista é o presidente dos Estados Unidos da América, embora essa ideia tenha reaparecido recentemente. O mais engraçado é que esse é um daqueles poucos e raros jogos de Xbox que é  exclusividade japonesa. Sim, os japoneses não gostam mesmo do console, mas tenho que admitir que a Microsoft tentou. Lançado em 2004, Metal Wolf Chaos foi criado pela From Software, que hoje em dia é reverenciada pela série Demon’s/Dark Souls queridinha da galera, mas era mais conhecida na época pela sua série de robôs Armored Core, da qual Mega Wolf Chaos puxa algumas influências.

É o jogo japonês mais americano que já vi

A história de MWC não é nada menos que incrível. O ano é 2010, ou algo assim, e os Estados Unidos sofrem com rebeliões internas, terrorismo, economia e toda essa porra toda. A culpa toda cai em cima do presidente, Michael Wilson, que é acusado de não ter ajudado o país em porra alguma. Seu vice-presidente, Richard Hawk, realiza um golpe de estado junto do exército que tira Michael do poder, declara lei marcial e o taxa de terrorista.

Isso tudo poderia ter um tom bem sério se logo a primeira cena do jogo não fosse o presidente saindo da casa branca em um armadura robô enquanto a sua sala explode. Pois é. Depois de sair matando todo mundo na casa branca e roubando o Força Aérea 01 para fugir de Richard, contando com a ajuda de sua secretária Jodie, o ex-presidente sai pelo país libertando as cidades (e destruindo tudo no processo) para devolver a liberdade aos EUA. Lindo.

Até quando você vai ficar cego para o que o governo está fazendo?

O jogo é completamente dublado em inglês e as falas são de longe o seu ponto alto. Elas são tão ridículas que você não faz a mínima ideia se o jogo está se levando a sério ou se é pra ser assim mesmo. É perfeito! Falas como “Sweet! Sweet!”, “Okay! Let’s paaaaarty!” e “because I’m the President of the Great United States of America!” são jogadas por todos os lados.

Servindo como cutscene entre missões, um canal de televisão (o qual de forma bem sutil foi nomeado DNN) dá todas as notícias do que anda acontecendo no mundo jogo, só que de forma bem inclinada para o lado do vice-presidente, embora esteja na cara que tudo que ele faz é aprisionar as pessoas e destruir a cidade. Enquanto isso, o presidente é visto como um terrorista antipatriota. O engraçado é que muito americano comentou que isso é como uma paródia exata do canal Fox News. Isso tudo deixa claro como a terra do Tio Sam é vista pelo mundo afora, embora todos os dubladores sejam americanos.

Fiquei na dúvida se isso era uma imagem feita por fãs, mas é uma cena do jogo mesmo, pqp

Boa parte do status cult do jogo se dá pelo conceito ridículo que ele apresenta, mas ele em si não chega a ser ruim. É o básico hack ‘n slash, só que com um arsenal enorme de armas exageradas (mais de 100) que podem ir de shotguns, bazucas, rifles, lança-chamas e por aí vai. Elas são divididas em quatro cada um dos seus braços e podem ser trocadas de forma bem rápida e simples. Todas essas armas podem ser melhoradas com o dinheiro recebido no final de cada fase. Dependendo do quanto foi investido, também é possível fazer novas armas bem melhores. Aliás, o jogo tem um sistema de combo que influencia no seu ranking geral, que por sua vez influencia na quantidade de grana que você recebe.

O jogo tem 14 estágios, cada um localizado em uma grande cidade nos Estados Unidos. Todas elas são intencionalmente extremamente caricatas para que o público japonês consiga identificá-las, indo desde o Grand Canyon até Beverly Hills, passando até pela ilha de Alcatraz. Tudo é muito exagerado, desde uma luta contra uma aranha gigante em Nova York, até um helicóptero preso na tocha da Estátua da Liberdade. E o jogo tem orgulho de ser assim mesmo.

Exemplo prático do exagero/zuera foda

O jogo é bom, divertido, polido e muito bem feito, mas, no final das contas, é muito óbvio o motivo dele não ter saído no ocidente, né galera? MWC tem muita coisa questionável sobre os EUA e dificilmente alguma publisher maior teria culhões de lançar no país algo que manchasse a sua reputação. Há também boatos de que o que causou isso foi o fato da From Software ter usado o selo do presidente na cara dura, mas duvido muito que seja só isso.

Na real, aparentemente o jogo chegou a dar as caras nas Américas como um demo escondido (escondido do tipo, ter que apertar uma sequência de botões pra acessá-lo)  em um disco da Official Xbox Magazine recheado de demonstrações. Era tudo em japonês, mas é um jogo relativamente simples de se navegar. Depois disso, nada mais se soube da existência dele deste lado do planeta.

AMÉRICA!!

Quanto às influências Armored Core de que falei no começo, é só na parte evidente de envolver robôs e talvez alguns elementos de gameplay. MWC é bem mais ação e menos estratégia e planejamento, o que conseguiria atingir um público bem diferente e aumentar a popularidade de ambas séries. Mas infelizmente a paródia teve que ficar só por lá mesmo. Quem quiser importar o jogo, se prepara para esvaziar os bolsos porque hoje em dia ele deve custar em torno de 170 dólares. Sim, é um daqueles jogos que virou cult a ponto do preço subir horrores, e olha que ele nem é muito velho pra tudo isso.

Não podemos aproveitar explodir coisas com robôs armados até os dentes, mas pelo menos algum legado esse jogo deve deixar, principalmente no quesito extrema zuera, cada vez mais valorizado em jogos mais recentes. É revigorante quando uma empresa assume riscos assim, embora a coisa não estivesse tão feia como hoje no já distante 2004. Dito isso, vou encerrar esse Tretas com as palavras do glorioso presidente Michael Wilson: “Suck on my missile punch!”

Até a próxima!

Sobre

Luiggi "Afro" Ligocky é um pseudo-artista que estuda a área de jogos digitais. É um adorador de jogos japoneses e bizarros desde a época em que ganhou seu Super Nintendo. Grande fã da Nintendo, Konami e Sega.

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