NEW AGE RETRO GAMER #32
F-Zero (Snes)
Nintendo / Nintendo EAD
1990,1991
Eu comecei a jogar videogame com o meu saudoso Mega Drive. Só fui ter um Snes em 1996, época onde jogos impressionantes como Yoshi’s Island (que veio com meu Snes), Super Mario RPG e Donkey Kong Country 2 estavam em alta. Conheci a biblioteca do Snes de trás pra frente, e senti o baque por isso: imagine que ao invés de ver os gráficos melhorarem ano após ano, eu comecei vendo o máximo que o console podia fazer e só via os jogos ficarem cada vez mais feios e confusos à medida que a data na tela principal retrocedia mais e mais. Os 16-bit foram uma época de transição; uma época onde o game design se tornava mais intuitivo e esclarecido que os 8-bit, mas não tão verborréico quanto os 32-bit. E um dos jogos que mais me intrigava em relação a isso, por parecer que pertencia a uma outra época que não aquela, era não coincidentemente um jogo de lançamento: F-Zero, de 1990.
Desde pequeno eu sempre achei o primeiro F-Zero um jogo meio… estranho. Tinha um quê de corrido, de sombrio, de experimental nele. Ele não tem uma abertura, ou ao menos um logotipo de desenvolvedor precedendo a sua tela título. Você liga o seu Snes e só vê escuridão, que um um segundo depois faz um fade-in para a tela título, com os enormes dizeres F-ZERO estampados no topo, uma pista genérica ao fundo, uma música-tema meio epiléptica/esquizofrênica e apenas duas opções: Grand Prix e Practice. Não tem um Attract Mode, não tem uma apresentação dos personagens, historinha, menu de Opções, nada de porra nenhuma – ou você corre, ou você corre. Parece um detalhe bobo, mas a falta de apresentação prévia sobre qualquer coisa do mundo do jogo dá uma sensação incrivelmente desconfortante. É um contraste gigante com o fundo da caixa, que brinca com o estilo HQ-futurista que depois se tornou icônico na série. Não duvido que F-Zero tenha começado como um protótipo de teste do Mode-7 que evoluiu para um jogo completo meio que “no embalo”.
F-Zero tropeça um pouco no básico, mas extrapola no inimaginável. Você tem 4 naves diferentes (cada qual com um piloto correspondente que não aparecem nunca dentro do jogo) correndo em uma pista com paredes que te machucam, minas explosivas e rampas que podem fazer você voar para a morte. Pistas com gelo, vento, e umas barras estranhas que atraem e danificam a sua nave… porra, esses caras tavam querendo brincar de corrida ou cometer suicídio em massa?
Lá no topo você tem uma barra de dano, que é consumida à medida que você se fode e pode ser recuperada se mantendo em um ~canteiro rosa especial~ onde vem uma nave alienígena sabe-se lá de onde e lentamente recupera a sua vida sabe-se lá como. Olhando agora, eu aplaudo a EAD: eu não sei como eles pensaram nesse monte de merda louca assassina antes mesmo da Blizzard fazer Rock n’ Roll Racing.
Cada um dos três campeonatos possui cinco pistas, e nessas pistas você corre contra 15 adversários. Ainda assim, F-Zero tem alguns esquemas que tornam o jogo mais interessante. A cada uma das cinco voltas, um número de pilotos vai sendo desqualificado da corrida – a ideia é que eles tivessem explodindo e morrido horrivelmente no meio do caminho, mas o jogo em si vai continuar tirando retardatários do cu para incomodar o seu percurso. A cada volta, é obrigatório que você esteja em uma posição mínima para não ser eliminado, seguindo para 10, 7, 5, até que na última volta você esteja de qualquer forma entre os 3 primeiros.
Cada nova volta te dá um turbo (muito útil para recuperar posições perdidas, mas só use em retas!) e uma pontuação referente à sua posição na hora de completar a volta. Você começa com 2 vidas por campeonato, e acumulando 10.000 pontos você ganha uma vida extra. É um sistema bacana pois te incentiva a manter a 1º posição não só na reta final mas durante todas as voltas da corrida, e pode ter certeza que essas vidas virão a calhar pois você vai explodir muito até pegar o jeito.
(É interessante notar como MUITOS dos aspectos que apareceram em F-Zero – e não só o Mode-7 como também as vidas, as armadilhas nas pistas, os pulos e os atalhos – serviram de inspiração óbvia para o famosíssimo Super Mario Kart, também na Nintendo EAD).
Quando comentado por nostálgicos, F-Zero é sempre lembrado em dois aspectos singulares. O primeiro é a sua trilha sonora: frenética, empolgante, e imediatamente icônica. O segundo é a dificuldade. Nintendo comenta que F-Zero “era mó bacana e tal”. A galera sempre lembra que F-Zero “era difícil pra caralho”. E bom, é justificado. A barra de energia é um perrengue que você não se acostuma imediatamente, os controles e o design das fases são um tanto incomuns, e você vai ter que treinar um tanto até pegar o jeito no jogo e da sua nave de preferência. Assim que você aprende direitinho a usar os botões laterais para as curvas fechadas, o jogo se torna bem competitivo e interessante.
Eu gosto muito desse lado meio esquecido da Nintendo dos anos 90 – esse lado “arcadesco”, mais experimental, que ainda assim acompanhava todo o controle de qualidade padrão da empresa. Coisas como esse jogo, Wave Race 64, Solar Striker, Battle Clash, Super Punch-Out!!… e até o primeiro StarFox, quando você para pra pensar. Eram jogos diferentes e mais arriscados, da época que a empresa ainda fazia esse tipo de coisa sem ter que estampar um Bigodudo na capa o tempo todo.
F-Zero é um jogo interessante, mas que perdeu a oportunidade de cultivar mais cedo a sua identidade – para um conceito tão fantástico quando carros voadores correndo e explodindo a 500 milhas por hora, é incrível como o jogo passa uma vibe tão forte de solitude melancolia. As pistas são poucas, não tem multiplayer e os controles e física de bate-bate são difíceis de acostumar, mas a música é icônica e o desafio de se manter no primeiro lugar o tempo todo é muito bacana.
F-Zero continua muito bom e eu diria que ainda vale a pena ser jogado; e se não pela nostalgia, pela freneticidade. Afinal, convenhamos: quantos jogos de corrida daquela geração dá pra dizer que ainda são perfeitamente jogáveis mais de 20 anos depois, hein?
-Disponível para Snes, Wii VC e Wii U VC.