Qual foi a desse tal de… El-Shaddai Ascension of the Metatron

  14/10/2013 - 16:40   el-shaddai, review,  
 

El-Shaddai é um jogo de 2011 que eu só joguei agora, tão interessante que decidi que merecia um espaço aqui.

Notem que eu disse “interessante”.

Não é um jogo que eu indicaria pra qualquer um, mas definitivamente merece atenção. Ele lembra muito os jogos da Grasshopper: bonito, estiloso e com uma história bacana, mas sem saber direito o que fazer com o gameplay, às vezes até sacrificando este só pra ser mais “cool”. Se não fosse pela seriedade e ausência de palavrões, eu teria certeza que é um jogo do Suda feito com algum pseudônimo.

El-Shaddai alterna entre umas partes de combate que são até boazinhas, umas partes de plataforma 2D que são mais ou menos e umas partes de plataforma 3D que são talvez as piores que já joguei na minha vida.

O combate também não é o melhor que eu já vi, mas desempenha bem o seu papel e tenta algo diferente. É simples, porém elegante. Você só usa dois botões e tudo depende do timing e da arma que  está usando. São três armas ao todo, com a possibilidade roubá-las dos inimigos. Como é raro uma luta contra menos de dois inimigos, você acaba até tendo que decidir qual inimigo matar primeiro pra poder pegar sua arma e usar contra o outro, o que deixa o combate mais interessante. Um pouco repetitivo após algumas horas, mas funcional. As partes de plataforma 2D são… como um jogo de plataforma 2D, nada de especial. É nas partes de plataforma 3D que surgem problemas e que fica óbvio que os desenvolvedores priorizaram a arte do jogo sobre o gameplay.

Não é à toa que El-Shaddai é um dos jogos mais bonitos que já joguei, com uma direção de arte diferente de tudo que eu já tinha visto. Cada fase segue um estilo de arte completamente diferente e ainda assim se mantendo consistente dentro da loucura do jogo. O problema é que vários desses estilos não combinam com coisas como “ângulos de câmera” e “percepção de profundidade”, que são extremamente importantes na hora de pular de uma plataforma pra outra em um ambiente 3D. Fora que o pulo não é um dos mais fáceis de se controlar.

Alguém também achou que seria uma boa ideia colocar uns chefes no meio das fases, do nada, aparecendo pra lutar quando você ainda não está forte suficiente e sempre te dando uma surra sem motivo nenhum.

Então o que me fez achar que o jogo merecia um espaço aqui? A temática e como ela é tratada.

El-Shaddai: Ascension of the Metatron é um jogo bíblico. Algo que parece incomum e ousado nos video games, mas que é bem mais usado do que parece. Só no último ano eu joguei pelo menos três títulos que usam a mitologia hebraica como base pras suas histórias: Diablo 3, Darksiders 2 e DmC (o fato de todos eles começarem com D é mera coincidência… ou não?). Todos eles falam de anjos, demônios, céu, inferno, apocalipse e nefilims. Darksiders fala sobre os cavaleiros do apocalipse e, logo, pega coisas da Biblia muito mais que os outros dois. Uma coisa em comum entre esses três jogos é que eles foram todos feitos no ocidente, enquanto El-Shaddai foi produzido no Japão.

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El-Shaddai vai além da Biblia e se baseia no “Livro de Enoque“, um livro apócrifo supostamente escrito por Enoque, ancestral de Noé, não aceito pela maioria dos judeus e cristãos. Inclusive o jogo é sobre o próprio Enoque subindo uma torre e lutando contra sete anjos caídos pra salvar a humanidade.

O lance é que El-Shaddai, mesmo bebendo direto da fonte, é o que se dá mais liberdade e traz a representação mais diferente de todos dos anjos, do céu e dos termos biblicos em geral.

Pra começar, El-Shaddai mostra o “outro mundo” – que eu não conheci por querer – como algo bem surreal, quase abstrato. Não existem castelos medievais e masmorras como nos outros jogos, tudo parece ser realmente de um outro mundo impossível de existir dentro do nosso universo e de ser concebido por humanos.

El-Shaddai não tem medo de reinterpretar elementos clássicos da mitologia em que se baseia da maneira que ele acha mais interessante. Os chamados “anjos caídos” são representados como humanos comuns com uma armadura negra com um olho na cara e os arcanjos tomam a forma de cisnes, com a exceção de Lucifel, o arcanjo que te guia durante o jogo e que sempre aparece falando no celular, explicando a situação atual para o seu “chefe”. Os outros jogos citados representam essas coisas de formas mais convencionais, digamos.

Um arcanjo em Diablo III, um de Darksiders e quatro arcanjos de El-Shaddai

Outro termo usado em todos os jogos é “nefilim”, descritos no apócrifo de Enoque e na Bíblia como filhos de mulheres humanas com anjos caídos. DmC, Diablo e Darksiders representam os nefilins como “a raça superior”, com a união de anjos e demônios originando pessoas visivelmente fortes. Bombadões em Darksiders, não tão bombadões em DmC, mas ainda poderosos e sagazes (o Dante e o Vergil) e são os heróis em Diablo 3 (que na verdade são os descendentes dos nefilins, ainda são fodões por causa destes):

Nefilins de DmC e Darksiders II (sim, a Morte é um deles)

El-Shaddai segue a ideia deles serem filhos de humanas com anjos e mostra eles como seres puros e inocentes, mas com grande potencial. São essas coisinhas fofas aí:

É, temos aqui um jogo que deixaria qualquer pastor bem puto.

El-Shaddai Ascension of the Metatron é cheio de falhas de gameplay, tem algumas partes meio chatas e um final bem safado, mas merece ser jogado e analisado por fazer tanta coisa diferente do normal.

Com a indústria japonesa meio paradona e fechada ultimamente, El-Shaddai mostra porque é importante que esse mercado tenha mais variedade étnica e cultural, e porque é bom que os desenvolvedores não tenham medo de sair da sua da zona de conforto de vez em quando.

El-Shaddai está disponível para PS3 e Xbox360.

Tuba

Sobre

Arthur “Tuba” Zeferino é co-criador do site, programador e brother indie.

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