Qualé a desse tal de… OlliOlli

  21/01/2014 - 17:29   OlliOlli, review,  
 

Em 2013 eu fiz uma viagem pro Rio Grande do Sul e, apesar de ter ficado a maior parte do tempo em uma cidade pequena, passei dois dias em Porto Alegre no apartamento de uns amigos. Passamos a noite jogando videogame e War com mais sono do que seria saudável, mas o ponto é que pra sobrevivermos a isso tudo tivemos que pedir pizza. Haviam cinco pessoas lá e íamos pedir duas pizzas, então teve que rolar uma votação pra escolher o sabor. Cada um falou seu voto e o “planejador” escreveu em um papel pra facilitar a contagem. Eventualmente falaram “Alho & Óleo”. Tente falar isso em voz alta – ou, se tiver gente na sua casa e ficar meio estranho, imagine que está falando. É curiosa a forma como essa palavra soa, pois falamos de um jeito que não é necessariamente “alho e óleo” com todas as sílabas, mas todo mundo sabe o que estamos querendo dizer por não existirem muitas outras formas de interpretação. O que mais soa como “alho e óleo”? A associação mais rápida é sempre ao sabor, seja de pizza, de macarrão ou algo assim.

Enfim, percebemos isso – mesmo que inconscientemente – e começamos a rir, escrevendo no papel o que tirávamos da fonética do nome do sabor. Ficou uma parada cada vez mais abstrata que culminou, coincidentemente, em “Olioli”. Eu suponho que até hoje exista um papel naquele apartamento com todas as formas diferentes que encontramos de escrever “Alho e Óleo”, mas a favorita foi e sempre será “Olioli”.

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Outra coincidência foi que no mesmo período de visita eu fiz uma observação enquanto esperava um ônibus na cidade: Porto Alegre parece ter sido totalmente projetada no editor de mapas de Tony Hawk’s Pro Skater 4. Toda a cidade é feita de algum modo que a gente consiga visualizar um modelo de baixa resolução com um skate em resolução menor ainda fazendo manobras, daquele jeito que víamos no começo da adolescência e decorávamos o nome, mas sabíamos que nunca conseguiríamos reproduzi-las. Era legal de falar com os amigos que fingiam que andavam de skate também e o jogo servia de inspiração pra gente, mas no fundo nunca daria pra fazer algo igual.

Se não fosse por essas duas experiências relevantíssimas na minha vida eu nunca iria prestar atenção em um jogo chamado “Olliolli”. Olliolli tem esse nome e é um jogo de skate para Playstation Vita. O nome, é claro, vem da manobra “Ollie”, que é dar aquele pulinho simples de skate, e não do sabor de pizza.

Olliolli é o primeiro jogo da Roll7 pra Vita e, sério, ninguém daria nada pro jogo. Ele é um jogo de skate em 2D que lembra muito aquela época do “California Games”. A maioria das pessoas vai ignorar falando que “parece um jogo de browser” ou “parece um jogo em flash”. Pra que pagar por isso no meu Vita? Acho que foi mais uma questão de marketing – tem muito jogo indie por aí que é ainda mais “”"”"”"”simples”"”"”"” e vende bastante por ter recebido a atenção necessária, o que não foi o caso com esse. Então não se deixe enganar pelas aparências e vamos prosseguir.

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Imagine Bit.Trip Runner, só que entre um obstáculo e outro você tem que fazer manobras e conseguir uma pontuação que te satisfaça. É basicamente isso que Olliolli oferece. Ele te dá uma fase (que – PASMEM – é realmente feita à mão e não gerada aleatoriamente) com começo e fim, e vários obstáculos no meio, desde escadas até tanques de guerra nos quais você pode acumular pontos fazendo manobras que envolvem comandos de jogo de luta no seu Vita. Tem duas coisas que estão na medula de seu sistema, no entanto: sempre que você pousar no chão tem que apertar “X”, senão todos os milhares de pontos que tu acumulou durante o combo de manobras viram coisas de dois dígitos e você perde o controle do skatista por alguns momentos; e, tão importante quanto, sempre que for pousar num corrimão (ou qualquer coisa que dê pra fazer manobra de “rails”) tem que apertar pra baixo, no analógico ou no digital.

Pra pular você também aperta pra baixo, mas ele só pula quando você soltar! Tipo, é o bonequinho se abaixando e preparando o pulo, aí quando tu solta o pulo acontece. Você pode, portanto, jogar o jogo inteiro com dois botões: O X rema pra fazer você ganhar momentum, pra baixo pula, se você pousar no chão usa o X de novo, e se pousar no corrimão usa pra baixo de novo. Simples assim. Mas assim não tem realmente graça de jogar já que pra fazer manobras você precisa fazer algo no esquema de meia lua pra frente R, meia lua pra trás pra baixo, enfim, um monte de coisa durante o pulo, mas o suficiente pra conseguir sempre reposicionar os dedos no botão “baixo” e no “X” a tempo. Fazer várias manobras em pouco tempo e mantendo sua inércia pros seus pulos percorrerem terreno o bastante e não precisar tocar no chão é o que tu deve fazer pra conseguir manter o combo indo.

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Nas primeiras de suas cinquenta fases, cinco mil pontos será algo fora de cogitação. Como é que você vai fazer isso? A curva de dificuldade é feita de maneira magistral pra tu sofrer pra conseguir cinco mil pontos na primeira fase e passar fácil dos quinhentos mil em uma fase do meio do jogo. Nisso você nota o quanto evoluiu e fica motivado a tentar jogar a primeira fase de novo, acumulando tantos pontos quanto conseguiu acumular lá naquela fase do meio. Cada fase tem cinco “objetivos” que vão desde conseguir um combo de 100 mil até pegar todos os ícones de energia nuclear espalhados por ela. Se você consegue esses cinco objetivos, libera uma fase “Pro”. Se consegue simplesmente chegar no fim daquela fase sem morrer, libera a próxima fase “normal”. Existem 25 fases “normais” e 25 “pro”, cada uma com esses cinco desafios.

No começo realmente parece que os obstáculos estão lá só pra te ajudar nas manobras, mas conforme as fases vão passando, vira um jogo de plataforma mesmo – é terrivelmente difícil conseguir passar as coisas sem masterizar a maneira de pousar de maneira perfeita e você precisa disso pra manter a velocidade e não cair nos espinhos ou em bonecos de neve com armas que estão no chão.  É difícil e envolve memória muscular, observação e reflexo. Quando você conseguir chegar no fim da fase com um combo, sem nunca pousar, vai se sentir o melhor jogador de videogame do mundo.

Cada fase também tem um “Spot” que serve pra você treinar quantas vezes quiser pra fazer a maior pontuação do mundo, mas todos os dias o jogo vai ter um “Spot” diferente nas leaderboards. Então você pode treinar aquilo o quanto quiser, mas se quiser upar a sua pontuação, terá apenas uma chance por dia pra conseguir. Isso cria um meta-jogo muito bom e, se o jogo conseguir uma comunidade relativamente grande, vai conseguir ocupar o Vita da galera durante um tempão. É rápido de se pegar, tentar, falhar e se frustrar, e, por ser rápido, você vai se sentir mal por não tentar de novo até passar. Um masoquismo meio Super Meat Boy de “só vou tentar mais uma vez”, justamente por ser tão simples de poder soltar a qualquer momento. Uma fase inteira vai dificilmente durar mais de um minuto.

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Quem consegue passar todas as fases e todos os challenges libera o RAD mode, que é a visão original dos devs: se você não conseguir pousar direito, ao invés de só perder pontuação e o controle um pouquinho, perde a fase toda. Exige muita precisão e concentração, e felizmente não é obrigatório.

Olliolli não tem nada que possa te lembrar de alguma história. Tem cinco cenários diferentes com 10 fases cada, além dos cinco challenges de cada fase. Tem esse sistema interessante de spot e vai durar o quanto você quer que dure. Li nos comentários de outros sites perguntas do tipo “por que isso não saiu pra celular?”, baseando no fato dele ser tão digerível e ter os gráficos simples. Sério, isso é perder completamente o ponto. Olliolli existe no Vita por exigir os botões do Vita (que, como sempre defendo, tem os melhores botões) e não daria pra ter a mesma precisão em uma tela de toque nunca. No entanto, não duvido que eventualmente saia pra algum smartphone só pra atender esses chamados. Quem sou eu pra julgar, né? Se Super Meat Boy passou por um rework pra funcionar em toque, esse também consegue. No estado atual não dá, porém, e isso me faz feliz por ter um Vita e um jogo que é, basicamente, um ode aos seus botões.

No final das contas eu gostei mais do que imaginava que ia gostar, já que mantive a atenção no jogo em primeiro momento só devido ao seu nome que me fazia ter boas lembranças. É uma experiência sólida e competente que é facilmente aproveitada em pequenas doses, significando que tu sempre vai poder jogar uma fase independente de quanto tempo tenha livre. De vez em quando o jogo crashou sem motivo ou deu algum bug que fazia meu personagem pular mais do que devia (isso geralmente me salvava de algum tombo), mas isso se resolve facilmente se resolverem mandar algum patch, e se não mandarem dá pra lidar justamente por ser algo rapidinho de se recomeçar. O fundo dos seus cenários também não é o mais inspirado, mas ele não atrapalha em nada o que tá acontecendo na tela principal, que é o que importa.

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Quando comecei a jogar eu não sabia o que falar em um review  - claro, sempre me lembrava da história de Porto Alegre, mas era aí que acabava a minha inspiração. É estranha a sensação de fazer um texto com começo, meio e fim sobre algo que não tem começo, meio e fim. É só uma mecânica refinada a ponto de merecer alguns sprites, números e um lançamento em um videogame portátil. Aí eu percebi que seu forte era exatamente esse, um jogo simples e difícil, mas que é completamente baseado em dois botões, sendo tão complexo quanto você quer que seja. No final não é tudo sobre isso? Mesmo em video games com histórias, ela geralmente só é tão complexa quanto você quer que seja.

E eu nem gosto de pizza de Alho e Óleo.

OlliOlli está disponível para Playstation Vita, através da PS Store, por 13 dólares.

Sobre

Guilherme Alves “Neozao” é game designer não-praticante, gosta de chá e de comer sobremesa com a menor colher possível.
  • https://www.facebook.com/cesardka César Hoffmann

    Muito bão. Parabéns, Neozão, tu é o cara.

  • https://www.facebook.com/camelo003 Gabriel Camelo

    Desconfio que o Neozão seja um espião da Sony infiltrado com o objetivo de mostrar que o Vita não morreu. Está funcionando pois estou considerando adquirir um.

    Seria legal ter uns gifs pra sacar qual é a do jogo. Ou um vídeo por que assim dá pra saber como é o som. Sei que é frescura, mas gosto de jogos de skate porque acho daora o som das rodinhas caindo e rolando no chão. Deve ter sido causado por anos de Tony Hawk.

    Me parece um Canabalt hard core. Curioso!

    • https://www.facebook.com/guilherme.alvesgalvao Guilherme Alves Galvão

      Pra já: https://www.youtube.com/watch?v=LPKfr0wF_qE
      Aqui dá pra ter uma noção dos efeitos sonoros que são muito bons mas por algum motivo não tem música :( te asseguro, no entanto, que embora não seja Offspring (não tem nada licenciado, até onde eu saiba), a trilha sonora é bacana também!

      • https://www.facebook.com/guilherme.alvesgalvao Guilherme Alves Galvão

        (digo, não tem música no vídeo, no jogo tem sim!)

        • https://www.facebook.com/camelo003 Gabriel Camelo

          Valeu man!

          Bastante inclinado a pegar um Vita.

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