Quando você abre seu Steam e clica pra abrir aquele jogo que está apropriadamente em caixa alta chamado LUFTRAUSERS, se depara com uma situação meio anormal em jogos de computador: ele abre em uma janela que, partindo da premissa de que você comprou seu computador nessa década, vai ocupar só uma parte pequena no seu monitor. Bem no meio. Ali, aparecerá “DEVOLVER DIGITAL”, “VLAMBEER” e, finalmente, “LUFTRAUSERS”.

Você então aperta “X” pra criar um arquivo de save. Em seguida aparece “Press Up to launch” e o jogo começa. O avião sai do navio. É sobre aviões o jogo.

É importante isso: o jogo começa de baixo pra cima, não da esquerda pra direita. Mas ainda assim, ele começa de baixo pra cima do mesmo jeito que Super Mario Bros começa da esquerda pra direita: a propulsão inicial é feita com a tela estática, mas quando o avião atinge o meio da tela ele passa a “empurrar” a mesma. Se ele para ou muda de direção, a tela também o acompanha (coisa que o primeiro Super Mario Bros não fazia, mas não importava, já que só queriam que você fosse pra direita) mas sempre um pouquinho atrasada, se “esticando” aos poucos até chegar no ritmo do avião. Isso é o que torna o movimento do jogo tão bom – ele não só controla bem, mas tem um feedback visual excelente só com essa coisa da tela ter dificuldade em te seguir, não estar sempre alinhada. Super Mario Bros tem isso. Sonic 2 tem isso. Super Mario Land 2 não tem, e esse é um dos motivos pelo qual esse aí é meio ruinzinho.

Note como em Mario Land 2, em primeiro momento, você “empurra” a tela sim, mas depois ela volta à posição original – isso não acontece com os outros dois jogos. A sensação desses é que você é uma força tão foda que seu personagem consegue ir ATÉ O LIMITE do jogo e portanto você precisa EMPURRÁ-LO pra te acompanhar. Em Mario Land 2, quando a tela volta ao normal, essa sensação vai embora. Parece que você tá ali, só vivendo no jogo, que ele tá bem de boas com a sua presença, que você é uma força irrelevante.

Bem, LUFTRAUSERS. Até dá pra maximizar a tela – e eu recomendo. Mas não importa o modo que você jogue, sempre vai parecer que você é o elemento mais poderoso dali, afinal, é claro que a câmera tá seguindo você e não as outras coisas da tela. E ela nunca vai ficar parada também. Ela treme com as explosões, e como você está sempre em movimento, ela nunca consegue acompanhar direito. Isso nunca atrapalha, obviamente. É tudo proposital e é do caralho.

Contexto, caso não tenha dado pra perceber pelas imagens: LUFTRAUSERS é o seguinte, você controla um avião. Pra cima faz ele ir na direção pra qual ele tá apontando, pros lados faz ele girar no próprio eixo e escolher direção nova. É muito fluido (não compare com os controles dos antigos resident evil) e funciona muito bem. O mapa do jogo (que é sempre igual) é uma grande área com mar embaixo e nuvens em cima. Tanto o mar quanto as nuvens te dão dano.

créditos: mana.pt

Não tem uma barrinha na tela te dizendo o quanto você ainda pode apanhar. Cada vez que você encosta no mar ou no céu ou toma um tiro na cara ou um míssil ou um laser ou bate em algo, um círculo começa a se fechar em torno do seu avião, numa escala de cores só um pouco mais escura pra não atrapalhar a visibilidade, mas não sutil o bastante pra não perceber. Se esse círculo se “fecha” no seu avião, você explode. Se ele não chega a se fechar, é “só” você parar de atirar um pouco (é mais difícil do que parece) que enquanto você não atira sua vida é recuperada.

Tem outras variáveis aí: quanto mais rápido é seu tiro, mais rápido a sua vida vai recuperar quando você parar de atirar. Aos poucos você vai liberando outros modos de tiro e vamos supor que tenha um que dê MUITO mais dano, mas ele atira de maneira bem mais lenta. Seria injusto se sua vida recuperasse na mesma velocidade que recuperava com o tiro rapidinho, já que você vai passar a maior parte do tempo sem atirar nesse caso do tiro que demora, né? O jogo leva isso em conta.

Enfim, como eu disse, só tem um mapa (e isso não importa nem um pouco). O que vai fazer tudo ser diferente é o jeito como a sua nave está customizada. Existem várias opções de tiro, motor e modelo. Geralmente cada uma traz uma vantagem e uma desvantagem. Por exemplo: tem um tiro que é só um laser contínuo, não são projéteis, mas aí isso faz com que você gire mais devagar. Vê, a questão de risco e recompensa não é só na hora de tomar a ação, enquanto você se prepara ela já está lá.

O jogo tem mais de cem missõezinhas pra você fazer, que vão desde “mate dez inimigos sem parar de atirar” até umas mais específicas tipo “destrua dez navios enquanto está pegando fogo” e tal, e é isso aí que você vai fazer. Quanto mais missões você faz, mais customização vai poder fazer no aviãozinho e, vá por mim, o melhor jeito de jogar é sempre colocar tanto o tiro quanto a carcaça e o motor no “aleatório”. Contando todos os negocinhos diferentes você pode fazer até 125 combinações. Um detalhe importante é que cada uma delas tem um nome específico que aparece ali embaixo da tela sempre que você começa uma partida nova. Então dá pra criar favoritas, né? Anota o nome das que você gosta e vai ver o que tem nela, quando menos notar vai ter criado laços com um aviãozinho que não deve ter nem dez pixels de largura.

Também vai liberando filtros diferentes pra se jogar e eles mudam bastante a “vibe” da coisa. Esse rosa e roxo aí é o meu favorito e acho que não vou mudar nunca.

Outro aspecto muito bom é o multiplicador de pontuação, que vai de 1 a 20. Cada inimigo que você mata adiciona um. Se um inimigo vale quinze pontos sem multiplicador, com 2 vai valer trinta, depois sessenta e assim por diante. Então o esquema é você manter a corrente, o que não deveria ser tão difícil já que sempre tem inimigo na tela inteira, mas em alguns momentos (geralmente os que você tenta destruir algum inimigo maior) fica meio complicado pois há uma progressão de quanto mais pontos você tem, mais inimigos e mais variados vão aparecendo. Cada jogada é uma historinha em si mesma na nossa cabeça. O ponto é que não adianta você matar mil inimigos se não aproveitou os multiplicadores. Matar cinquenta com o multiplicador máximo de 20 daria a mesma pontuação.

Enfim, LUFTRAUSERS é um jogo no formato “arcade” que no fim das contas é bom demais de se jogar pra passar o tempo e tentar sempre bater o próprio recorde. É simples e bem feito pra cacete. Quem tiver mais curiosidade pode jogar a versão de graça (que agora é chamada de versão de “treino”) aqui, mas ela não tem a maioria das coisas que eu falei aí e justificam ser um lançamento comercial. Inclusive a música não é tão boa quanto a da versão nova também.

A música da versão nova é gloriosa. Se não tivesse todo o resto eu diria pra comprarem só pela música.

LUFTRAUSERS vai te fazer se sentir bem. Você não vai sair dele achando que pode pilotar um avião de verdade e essa é a graça.

LUFTRAUSERS está disponível para PC/Linux/Mac através do Steam e da Humble Store por R$ 17, e também para PS3 e PSVITA por $10.

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PS: A Vlambeer, enquanto projetava o jogo, teve a ideia de fazer isso aqui:

Porém ela tirou do produto final pois percebeu que era mais legal de fazer do que de jogar. Eu acho que é só conversa pra deixar a gente com inveja, mesmo.