Tretas de Hong Kong: Inazuma Eleven e como é possível futebol casar com RPG

Como eu adoro ser pontual em tudo que escrevo (finjam que estou lançando isso durante a Copa), vamos falar de futebol e de coisa boa: vamos falar de Inazuma Eleven (Trovão Onze).

“Ué, mas todo mundo sabe o que é Super Onze”. Sim, eu sei que o anime veio pra cá e até ficou popularzinho, mas poucos sabem que ele iniciou como um humilde jogo de DS da Level-5, um híbrido bem bizarro entre futebol e RPG. E é bem justo que ninguém saiba mesmo, pois o jogo só saiu fora do Japão e da Europa para o eShop do 3DS em fevereiro desse ano.

Tá, humilde é exagero, visto que no mesmo ano do lançamento já tinha anime planejado e caralho a quatro, mas mesmo assim demorou três anos para o jogo sequer sair do Japão. A Europa só foi obtê-lo  em 2011 (então tecnicamente recebemos um jogo de 2008 em 2014). Por incrível que pareça, um RPG de futebol nem conceito novo é: a Sega e a Enix já tinham feito isso para o Saturn em 1998, por exemplo (sim, eu só conheço por causa do Segata Sanshiro):

Embora por muitos anos eu não fizesse a menor ideia de como podia existir um jogo de futeboys que também era RPG, no momento em que coloquei minhas mãos em Inazuma Eleven vi que fazia todo o sentido… bom, mais ou menos.

É que assim, o jogo é mais RPG do que futebol; ou seja, você tem party, níveis e batalhas aleatórias. Sim, batalhas aleatórias de futebol, você não leu errado. Essas batalhas só usam quatro jogadores de cada lado e metade do campo, e geralmente são mais sobre cumprir um objetivo (como marcar um gol) do que um jogo propriamente dito.

As partidas também não são nenhum PES ou FIFA da vida. Na real, elas são partidas bem paradas que lembram mais um jogo de estratégia. Basicamente os personagens se movem sozinhos e você pode dizer para onde eles devem ir desenhando o caminho com a caneta. Isso pode ser feito em tempo real ou pausando o jogo. Sempre que o personagem encontra alguma situação, seja dibres incríveis ou um chute a gol, o jogo para e te pede para escolher alguma ação como “driblar” ou “empurrar”. Cada uma tem uma chance de funcionar melhor dependendo da situação, e o jogo ainda segue uma forma de pedra-papel-tesoura, onde cada personagem tem um “elemento” que pode ser melhor ou pior que o outro, interferindo na probabilidade.

Vale notar que quando essas ações são tomadas, o jogo muda para uma perspectiva 3D bem mais cinemática, mais semelhante a um anime, o que nos leva a um outro ponto do gameplay que são os “golpes especiais”. Esses golpes são as magias ou limit breaks de qualquer RPG. Eles gastam MP, são brilhantes e espalhafatosos, e existem pra cada tipo de situação: chute a gol, defesa, drible e investida. Usar o especial garante 100% de acerto da ação que você queira fazer, a não ser que o oponente também use um. Nesse caso, vence aquele com a maior prioridade.

A história… é o que se espera de um jogo que já sai com anime planejado: é na maior vibe possível de “shonen de superação”. O curioso é que a narrativa consegue cativar até quem não curte muito esse estilo. Talvez seja porque os personagens são muito caricatos, principalmente os times rivais, que têm os temas mais diversos, desde “ocultismo” até “selva”. Outro ponto legal é que você pode recrutar jogadores de outros times, então quem quiser criar um time personalizado tem essa liberdade.

É um jogo de DS, logo ele é bonito até onde dá. Ninguém é dublado fora das cutscenes, então se você assistiu o anime e queria ver os gritos dos chutes especiais enquanto jogava, tenho más noticias 🙁

A série virou um fenômeno no Japão, com seis jogos (três deles sendo uma continuação se passando dez anos depois dos primeiros), alguns spin-offs com gameplay mais tradicional de futebol para Wii e dois animes com mais de 100 episódios cada. Portanto, não é de se surpreender que o anime tenha sido exibido aqui no Brasil. O que é surpreendente é a demora que levou para os jogos saírem de território nipônico. Entendo que futebol não é um esporte muito popular nos EUA, mas essa é uma chance boa de tentar abrir um mercado (o próprio “País do Futebol” fica de fora dos jogos quando não são lançados nas Américas).

Visto que Inazuma Eleven está deixando espaço para o outro sucesso da Level-5, Yokai Watch, não me surpreenderia se mais jogos da série começassem a sair no eShop do 3DS. Pra quem não aguenta PES ou FIFA, mas adora um futebol com um bom foco em zuera, é uma boa pedida. De quebra, fiquem com a melhor representação do futebol brasileiro (time carinhosamente batizado de “O Reino”) desde Super Campões:

Strike Samba

Sobre

Luiggi "Afro" Ligocky é um pseudo-artista que estuda a área de jogos digitais. É um adorador de jogos japoneses e bizarros desde a época em que ganhou seu Super Nintendo. Grande fã da Nintendo, Konami e Sega.

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