Sempre achei Bioshock legal pelo fato dele não se contentar em ser só um FPS nos anos 60, o que já seria uma coisa bem única. Ele é um FPS na década de 60 inspirado em “A Revolta de Atlas”, numa cidade no fundo do mar onde as pessoas criaram super poderes e garotinhas inocentes andam por aí acompanhadas de criaturas super fortes que vestem escafandros enormes.
Da mesma forma, eu acho legal que Codename S.T.E.A.M. não se contente só em ser mais um jogo com temática steampunk na Inglaterra vitoriana. Ele é um jogo com temática steampunk, com influências da obra de HP Lovecraft, estética de quadrinho antigo e jeitão de desenho animado dos anos 80, com direito a música de abertura e tudo!
Além disso, os personagens são todos adaptados de livros clássicos. Exceto pelo presidente Lincoln, que aparentemente forjou a própria morte pra montar uma equipe especial de heróis que deve defender a Terra usando armas a vapor e magia.
A estética e a temática do jogo, repletas de misturas, realmente me agradam. É tudo bem exagerado e sem sentido, nunca se levando a sério. Depois de jogar algumas missões e ver um mecha Lincoln derrotar um monstro gigante enquanto o leão do Mágico de Oz e um aborígene que usa pinguins robôs explosivos salvavam a rainha da Inglaterra, eu estava sinceramente curioso pra descobrir que outras coisas ridículas aquele mundo tinha a me oferecer.
Tudo parece uma grande brincadeira de criança que vai improvisando a história conforme ela vai acontecendo, o que pra mim funciona muito bem em um jogo como este. E essa ideia de misturar um monte de coisas não fica apenas na estética: Codename S.T.E.A.M. segue a mesma filosofia pro seu gameplay. Apesar de ser um jogo de estratégia por turnos, ele dá umas boas bicadas no gênero de tiro em terceira pessoa, chegando quase num meio termo entre os dois gêneros. Num geral isso funciona “ok”, mas às vezes parece que um gênero não se dá muito bem com o outro.
Você tem um numero de “vapores” que você pode usar por turno pra se movimentar ou atacar, mostrado na barrinha ali embaixo da tela, e, pra facilitar a sua vida, o mapa é dividido em quadradinhos que mostram exatamente quantos vapores você vai gastar pra se mexer até um quadrado X. O foda aqui é que o movimento não é por quadrados, mas sim livre, então a posição que você fica dentro de um quadrado (ou tile, pros que preferem chamar assim e estão se remoendo a essa altura) faz diferença na distância entre você e um inimigo, e se mexer sem sair do quadrado é suficiente pra algum inimigo te notar e atacar.
Na tentativa de ser um jogo mais de ação, também existe a estranha situação onde você tem que mirar em ponto especifico do inimigo, num jogo por turnos. O que não seria tão ruim se eles não ficassem se mexendo e se alguns não fossem ridiculamente pequenos a ponto de você simplesmente não conseguir mirar sem depender de um milagre. Pelo menos esses inimigos são raros, mas ainda é algo bem contra-intuitivo e que pode irritar quem espera um jogo bem paradão e estratégico.
Mas ainda é de um jogo da Inteligent Systems que estamos falando e, como tal, ele exige bastante estratégia. Cada um dos 12 personagens literários do jogo tem habilidades bem específicas, e como você só pode usar quadro deles por missão, é importante saber como cada um funciona e como eles podem se relacionar. Um dos personagens, por exemplo, tem a habilidade de passar um pouco do vapor dele pros outros, então deixá-lo junto de alguém cuja arma use muito vapor pode ser uma boa ideia – e eu não estou falando de maconha aqui, apesar de parecer.
Existe ainda a opção de economizar o seu vapor e deixar seus personagens jogando de forma defensiva, usando o vapor deles para contra-ataques durante o turno dos aliens. Vale lembrar que o jogo não tem mapas, então você está sempre dependente do posicionamento dos seus bonecos pra saber o que está acontecendo. Um efeito colateral positivo disso é que você acaba sendo incentivado a explorar o cenário e procurar por moedas e itens escondidos.
Moedas essas que são usadas dentro das fases e que podem ser gastas pra restaurar a vida e o vapor dos personagens. Coisa que a princípio parece não fazer sentido mas que é uma maneira bem interessante encontrada pra se balancear a dificuldade do jogo e deixar ele mais fácil pra quem não está a fim de pensar tanto no posicionamento dos seus bonecos. Se esse é o caso, se esforce pra pegar moedas e restaure a sua vida no meio do jogo. Claro que isso ainda exige um certo planejamento, já que o item que restaura a vida (e salva o jogo) só pode ser usado uma vez (porém os mapas sempre têm mais de um).
Vale mencionar ainda o fato dos aliens usarem gelo enquanto você usa vapor. Bem sacado, hein?
Mas mesmo tendo terminado o jogo eu ainda não entendi muito bem a lógica dos personagens de livros. Todos foram reimaginados de alguma forma e alguns ficaram até bem legais, mas num geral a maioria são esteriótipos unidimensionais e quase nenhum realmente importa pra história. Boa parte é bem underground (Quem diabos é Califia? Por que a índia do Peter Pan? Por que a neta do Zorro?) e até onde eu entendi só cinco têm seus universos literários minimamente ligados a trama e/ou tem realmente importância no que acontece no jogo. Todo o resto poderia ser substituido. Talvez a ideia seja instigar os jogadores mais novos e incentivar a leitura, ou talvez os designers sejam só muito fãs dos livros e queriam colocar eles lá de algum jeito.
Codename S.T.E.A.M. é um jogo que eu fico feliz que exista. Não é o melhor jogo da Intelligent Systems e não é algo que eu recomendaria pra todo mundo, mas é um jogo que tenta coisas novas, diferente, cheio de criatividade e é a coisa mais próxima que a gente tem de como seria o tumblr na década de 40.
Codename S.T.E.A.M. está disponível para o Nintendo 3DS apenas. Se você tiver amiibos de Fire Emblem e um New 3DS dá pra jogar com os personagens de Fire Emblem mas boa sorte achando isso aí.