E3 2015. Durante uma conferência morna da EA (tá, teve o Pelé depois, mas vamos falar do que apareceu até então), um moço simpático conseguiu ganhar o coração do público presente e de toda a internet em menos de cinco minutos de palco. As mãos tremendo, o modo passional de falar sobre seu jogo, e a cena onde mostrou ao vivo seu bonequinho Yarny e arrancou aplausos da plateia estampou o selo Cinnamon Roll™ em Martin Sahlin, diretor criativo de Unravel.
Como ele mesmo disse na conferência, Unravel é um jogo sobre a vida, relacionamentos e, sobretudo, sobre o amor. Yarny é o bonequinho de lã que você controla usando a própria lã para chegar a lugares e resolver puzzles. As fases são uma história contínua, que relembra passagens da família de quem Yarny está querendo resgatar algumas memórias.
Com puzzles simples, a mecânica aplicada de forma criativa na interação com o cenário acaba por fazer de Unravel um jogo muito divertido de explorar todos os detalhes, independente do quão relevantes podem ser para a história. Até porque, a história não é exatamente algo que envolve.
Bom, o jogo é bonito pra caralho, isso não dá pra negar.
Apesar de ter esse tom mais leve, uma das primeiras coisas que me chamou atenção no jogo é que a narrativa, apesar de querer ser orgânica com o jogo, acaba contando uma história confusa e que não desperta curiosidade ou empatia alguma. São flashbacks vagos, em que há uma grande dificuldade em querer realmente descobrir o que está acontecendo. O menu de fases interativo tenta fazer isso um pouco, através de um álbum de fotografias com algumas frases abrangentes, algumas até meio lugar-comum demais para ter qualquer profundidade, mas falha.
Um dos objetivos do jogo é pegar ‘segredos’ durante a fase, normalmente em lugares extremamente difíceis de alcançar, algumas vezes até sendo de tentativa única por mudar o cenário. Mas, vendo o que esses segredos fazem, que é apenas incluir alguns objetos relativos à ambientação da fase no menu (e sem poder interagir com eles quando eles aparecem), sem oferecer nada mais além disso e talvez um trofeuzinho, não impele o jogador a arriscar tão alto e acabar mais facilmente se frustrando pra uma recompensa fraca.
Fiquei putaça com esses corvos, devo admitir.
Por mais que a mecânica do jogo seja criativa e muito interessante, há alguns momentos da plataforma onde o jogo pune mais do que parece viável para um jogo relativamente fácil. No meio da fase, que até então estava seguindo super fluido, de repente você se vê trancado em uma parte pouquíssimo intuitiva ou extremamente punitiva, quebrando completamente o ritmo.
Em compensação, quando os puzzles e a plataforma são bons e recompensadores, eles são extremos nisso. Quando não há essas travas punitivas, a vontade é de explorar o cenário inteiro, pulando em todos os galhos, puxando todos os objetos, tentar alcançar lugares impossíveis usando a menor quantidade de linha possível.
FASE DE GELO
Unravel tem um cuidado precioso com detalhes. Mesmo sendo um side-scroller, o cenário proporciona uma profundidade incrível, inclusive com detalhes que podem vir a ser interativos; o fato do Yarny ser feito de lã não é só simbolismo, já que quanto mais linha se usa no cenário, mais rápido ele precisa repô-la; a falta de HUD no jogo não limita em nada, já que absolutamente tudo o que é necessário saber está direto no personagem ou no cenário, como, por exemplo, que a linha de Yarny está bem no fim ao perceber nós na trilha de lã deixada por ele.
Num geral, Unravel é um bom jogo. Percebe-se o quão dedicados foram seus criadores, e como se preocuparam em polir tudo do melhor jeito possível, mesmo apostando na simplicidade. Mas talvez, se Unravel não tentasse tão fortemente passar uma mensagem, ele fosse um jogo melhor.
Cópia de review para PC gentilmente cedida pela EA. <3
