Uma das minhas primeiras análises no Gamesfoda foi a do Spec Ops: The Line. O jogo, por trás de um FPS quase genérico, aflorava ideias de como a guerra é absurdamente desoladora e o impacto que ela tem em todos os que de alguma forma se envolvem ou são influenciados por ela. Bem, a campanha single player de Battlefield: Hardline é o completo oposto disso.
Na campanha você assume o papel de um policial em uma história que segue bastante os moldes de filmes policiais das décadas de oitenta e noventa. Sempre com tiras corruptos, informantes criminosos carismáticos, e situações sempre cheias de clichês. Para te colocar em um cenário assim o jogo remove completamente qualquer camada extra que te faça pensar sobre a nossa realidade e sobre o que você está fazendo no jogo.
E não há nada de errado com essa escolha. Um jogo não tem a obrigação de passar uma mensagem maior, ou filosofar de maneira metalinguística sobre as implicações de sua própria existência, ou qualquer coisa mais densa semelhante. É sempre interessante quando algum jogo acaba fazendo isso, mas Hardline consegue ver bem seu escopo e nem sequer tenta sair do patamar ao qual ele claramente pertence.
O jogo vai inclusive além, removendo diversas outras nuances e se permitindo algumas invenções que soariam pouco aceitáveis em uma obra que tenta estimular o pensar. Ele faz isso colocando coisas como: um scanner que checa todos os inimigos presentes na cena e os marca até depois de você já ter parado de usá-lo; se dando a liberdade de deixar o jogador largar os inimigos rendidos no chão sem que você precise escondê-los (eles ficam “dormindo”). Com isso a campanha claramente se torna uma brincadeira de polícia e ladrão.
Não é pura preguiça ou falta de empenho. Tudo é realmente direcionado para que você se sinta em um jogo, não em um momento tenso e épico. As armas que você vai ganhando conforme sobe de nível podem ser selecionadas da maneira que você bem entender toda vez que morre ou que acha uma caixa de armas. Toda a customização e maneiras que você pode abordar um mapa deixam claro que o foco do jogo é ser apenas divertido e despreocupado. Se você tem problemas com a DisLudo, fuja daqui. Por exemplo: você continua algemando bandidos mesmo depois de não ser mais policial. Eles simplesmente não querem que você se questione o porquê. Curte aí, prende os caras!
Mesmo divertido, é bom apontar que o modo single player não é excelência em nada do que ele faz. Com certeza é uma experiência bem melhor jogar um título que tem ciência do que ele pode e deve fazer, do que como em outros casos que não sabem ver seu escopo. Mas mesmo assim, não existem grandes surpresas aqui, fora o fato de ele ser mais proveitoso do que normalmente se esperaria de uma franquia onde o foco sempre foi o modo competitivo.
E, falando no modo competitivo, embora me falte bagagem para falar do mesmo com categoria, ou poder comparar mais definitivamente o que melhorou e piorou em comparação aos seus predecessores, basta jogar um pouco para sentir o porquê esse tipo de jogo tem um apelo tão grande. O acesso é fácil, você não precisa jogar tão bem pra sentir que está fazendo algo pelo seu time, o compasso é rápido o suficiente para que você não se canse rispidamente nem quando está em seus piores momentos; muitos modos de jogos, customizações e desbloqueáveis a perder de vista – tudo isso em “Nível AAA”. Eu precisaria entender mais para analisar profundamente, mas não para sacar o motivo de jogos assim serem tão populares.
Portanto, apenas me desce meio engasgado a ideia de que um jogo assim precise de uma campanha de história, assim como seu “rival” Call of Duty. Embora em alguns casos esse modo acabe cumprindo sua missão, ou pelo menos preenchendo bem o espaço para o qual ele é designado, a necessidade desse modo single player é algo incompreensível para mim. Eu sei que tem gente que gosta, e alguns até acompanham (como é o caso do Neozão aqui do site), mas claramente não é o motivo do sucesso dessas franquias.
Se esses modos deixassem de existir as franquias continuariam vendendo fortunas por seus modos multijogador, e quem sabe até pudessem usar a verba da campanha em coisas mais interessantes para aqueles que são o público alvo e primário desse produto. Infelizmente tudo isso se corrige com alguns pacotes Premium e DLCs ao longo da espera de um próximo título, algo que o mesmo público já se acostumou como sendo padrão quase inquestionável.
Podemos dizer que a história exista apenas para seguir seu rival, mas é estranho que enquanto um leva a sério demais esse modo (embora seja tão desnecessário quanto) chamando atores famosos para atuar e colocando em foco, Battlefield claramente não tem a mesma visão quanto à importância dessa modalidade. A campanha é tão despretensiosa (e como já disse, isso até favorece a mesma) que chego a me questionar se eles não pensam como eu, e nem mesmo saibam por que estão criando uma narrativa.
Embora para mim tenha sido uma brincadeirinha agradável e despretensiosa, a campanha de Battlefield: Hardline não vai ser algo que eu vou levar pra minha vida, e estranhamente parece que isso é algo que os desenvolvedores sabem. O modo história desse jogo ocupa uma posição meio estranha na indústria atual, onde parece que nem mesmo seus criadores conseguem achar motivos para explicar sua existência. Mas, pelo menos aqui, não tentar se levar a sério acabou servindo bem.
Battlefield: Hardline está disponível para PS3, PS4, XBOX 360, XONE e PC. Esta análise foi feita a partir de uma cópia de review da versão PS4, nos cedida pela Warner Brasil.