Manifesto em defesa dos jogos violentos


Estudos afirmam que são incapazes de afirmar qualquer coisa concreta sobre violência nos games. Ainda não se sabe qual será o impacto disso na nota da sua prova de física, mas o país está em estado de alerta desde que alguns dinossauros do senado acharam que seria uma boa idéia fazer um projeto de lei proibindo jogos “ofensivos” à moral e aos bons costumes e tradições, seja lá o que isso queira dizer.

Lembro como se fosse hoje do dia em que parei pra pensar se jogos violentos estavam de alguma forma fodendo meu cérebro. Lembro tão bem assim, pois de fato foi hoje, meia hora atrás. Em compensação, não lembro quando foi a primeira vez que vi o Sub-Zero arrancando a espinha dorsal do Scorpion com as mãos nuas. Motivo: eu era pequeno. Uma criança inocente devoradora de coxinhas e episódios de Jaspion. Ou seja, cresci com isso. De Doom a Gears of War 3, passei a vida convivendo com tripas voando e cabeças explodindo na minha TV, e acho que ainda não saí pelas ruas atropelando velhinhas e prostitutas com um carrão conversível (eu me lembraria).


A verdade é que eu nunca tinha pensado muito nessa questão de jogos violentos porque não me importo. Acredite, se meu vizinho tivesse sido assassinado depois de um amistoso de Counter Strike na Lan da esquina, eu me importaria, mas não se vê nada disso. Não faz parte da rotina ou da lista de prioridades de um jogador hardcore. Descobrir se aquela Worgen dando mole no World of Warcraft é mesmo uma estudante de educação física de 19 anos é prioridade. Achar serrilhados no trailer do novo Zelda e depois correr pro fórum mais próximo pra xingar a mãe de um nintendista também. Debater impacto de jogos violentos? Dá sono. Só vira assunto (e motivo de piada) quando algum jornal ou programa de televisão resolver dar a sua opinião imparcial e jornalisticamente apurada (OBJECTION!) sobre o assunto.

E apesar dessa questão não ser importante, cada vez mais nosso entretenimento favorito (pornografia não conta) se vê alvo de críticas, questionamentos e projetos de lei mongolóides, onde o elo fraco da corrente são justamente os GTAs e Counter Strikes da vida. É nessa hora difícil que a comunidade gamer (?) deve fazer alguma coisa que presta pra variar. Sabe no Starcraft II quando você leva todo seu exército pra atacar e aí descobre que tinha um Dark Templar escondido na sua base, te obrigando a voltar correndo pra defender? É nessa pegada que devemos sair em defesa dos jogos como eles são. Para isso, confira abaixo quais são as três dicas mais importantes do “Manifesto GAMESFODA em Defesa dos Jogos Brutais e Violentos“, by GAMESFODA:

1) Não negue que os jogos são brutais e sanguinários – DEFENDA ISSO

 


Nós gostamos de estourar cabeças, dilacerar monstros gigantes e atropelar inocentes >>NO JOGO<<. Não temos por que negar isso. Temos mais é que falar de boca cheia, com orgulho. Só falando da polêmica com naturalidade é que vão botar fé que dá pra separar bem uma coisa da outra.

Quando alguém pergunta como você consegue jogar essas coisas sanguinárias, não desvie do assunto e nem fique inventando desculpinhas. Não vem com essa de que joga “pela história”. Amigo, a Rússia invadir os Estados Unidos e desencadear uma guerra mundial em pleno século 21? O destino do mundo sendo decidido em um torneio de combates mortais envolvendo robôs, o deus do trovão e um lagarto ninja? Sério mesmo?

Mesmo quando a história é realmente boa, ninguém pergunta sua opinião sobre jogos violentos querendo ouvir com detalhes os motivos da construção de Rapture City. Vá direto ao ponto e não tenha vergonha disso.

2) Não ataque o gosto dos outros pra defender o seu

 

Lembra na quinta série quando alguém encerrava uma treta falando “eu posso ser feio, mas você é gordo”? Também não lembro, mas dá pra usar esse exemplo mesmo assim. O axé do momento é uma merda fútil e degradante? Sim, é. A novela das 9 é um lixo que só tem putaria e traição? Não sei, não vejo novela. O fato é que você não ganha pontos pro seu argumento atacando essas coisas. Só porque a televisão, o rádio e as revistas estão cheios de merda, não quer dizer que os games também podem estar. Violência e temas adultos NÃO rebaixam nossa mídia ao nível das outras, então não tem motivo pra comparar.

REFLITA: se defendemos que um adolescente pode jogar Manhunt 2 e sair intacto da experiência, não podemos sair dizendo que ouvir uma hora de funk carioca transforma a pessoa em traficante ou vagabunda (duas horas talvez sim).

3) Mostre que até o jogo mais infanfil pode ser interpretado de maneira imbecil

 

Qualquer jogo pode ser distorcido para ser usado como argumento nessa tese escrota de que entretenimento eletrônico corrompe os jovens e traz caos para a família brasileira. Duvida?

Pois bem, Mario é sobre um italiano cruel que sai assassinando loucamente as tartaruguinhas e destrói o amor proibido entre a princesa e uma quimera falante. Pokémon prega que crianças de 10 anos devem escravizar animais silvestres para usar em rinhas. Kamatari é sobre a viagem de misturar ácido com LSD. Isso porque não falei do tal “Come-Come”.

Em suma, atacam jogos violentos porque é escancarado, é alvo fácil. Sua missão é mostrar que isso acontece porque ninguém entende absolutamente nada do que está falando.

(Senadores moralistas, radicais religiosos e pais ausentes, favor não usar os exemplos da dica 3 para distorcer todos os gêneros e censurar todos os jogos do mundo. Grato.)

Mas afinal, por que raios jogos violentos são importantes e devem ser defendidos?

A resposta pra isso passa por outra pergunta: por que cismam de querer proibir essa merda o tempo todo? Primeiramente, porque o país é de primeiro mundo e não temos problemas maiores. Ou você acha que as pessoas que nós elegemos iam perder tempo vetando joguinho se tivesse gente sem escola ou comida por aí?

Segundo e não menos importante: eles vêem games como um brinquedo caro pra distrair a molecada, e não como meio de expressão artística, como uma mídia tão importante quanto música, cinema e literatura. Games podem e devem contar todo tipo de história, para todas as idades e gostos. Essa liberdade permitiu que surgissem jogos como Bioshock, Mass Effect e Heavy Rain (também permitiu que surgisse Duke Nukem Forever, mas faz parte).

Acho que a essa altura já deu pra sacar que a mensagem que quero passar com tudo isso é que defender a existência e a comercialização de jogos violentos é defender a liberdade de expressão dos videogames enquanto arte. Afinal, criar uma boa explosão onde cada órgão do inimigo voa em uma direção diferente é difícil, algo que poucos artistas conseguem. Tanto mimimi em cima disso é tão irritante que agora até bateu uma vontade de sair pelas ruas atirando em todo mundo que aparecer na minha frente…

…no beta de Battlefield 3.

Artigo originalmente publicado em 30/09/11 no portal Gameworld.

GAMESFODA

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Dono dessa merda e entidade transcendental de GAMESFODICE. Eventualmente assume forma humana como um programador barbudo ou um negão de dreads.
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  • https://www.facebook.com/leo150250 Leandro Gabriel

    Lendo o artigo de 20 anos do Doom, não pude deixar de dar uma passadinha aqui neste artigo que estava sendo referenciado nele, que se trata de uma situação que preocupa tanto eu quanto minha esposa (mais ela do que eu, obviamente! Eu jogo bioshock e não tô nem aí para a violência, apenas sei que ela está presente!).

    Sou um nostálgico jogador. Joguei bastante Wolfenstein, Doom e Quake e volta-e-meia jogo de novo só pra matar a saudade. Eu era uma criança quando jogava, e se for levar em consideração de que "os jogos violentos influenciam nossas crianças", então hoje eu seria um serial killer. Mas não sou!

    Ainda bem que tenho uma mente desenvolvida o suficiente para entender uma coisa que todo jogador deveria entender: REAL é REAL, VIRTUAL é VIRTUAL. A partir do momento que aperto o "Sair" do aplicativo, ou aperto Alt+F4 no teclado, eu tenho total ciência de que volto a ser quem eu sou: Um adulto, com minhas obrigações diárias, para viver e sobreviver neste mundo. Todo o "sangue espirrado" do jogo que estava sendo jogado naquele momento ficou lá, preso lá, porque sei que é apenas um conjunto de polígonos e vértices texturizados de vermelho, que fazem a referência a sangue, MAS NÃO É. E isso me alivia – e muito.

    Infelizmente, nessa nova geração, sabemos que tem muitas crianças severamente prejudicadas com os jogos eletrônicos, e é essa a desculpa que o governo dá, mas antes temos que levar em consideração uma coisa que todo mundo que faz psicologia entende: Quando algo é proibido, é mais prazeroso ainda.

    Lembro-me até hoje de minha esposa comentando uma vez, que quando ela queria fazer algo que ela sabia que não era lá muito certo, ela perguntava pra mãe. E, por incrível que pareça, a resposta de sua mãe não era "NÃO!", e sim "Ah, faz o que você quiser.", retirando toda aquela ansidade e adrenalina de "Oba! Vou fazer algo proibido!", fazendo tal ação perder o sentido. E não nego que pretendo fazer o mesmo com meus filhos.

    Não vou apresentar jogos violentos a eles, mas quando ver eles jogando esses jogos, não vou desesperadamente tirar o computador da tomada, dar umas palmadas e deixar de castigo por 5 meses por ter jogado um jogo violento, até porque isso vai implicar na formação mental deles. Simplesmente, se tiver como jogar de dois, ainda vou dizer "PÕE PRA DOIS AEW!", porque sei que ele vai se lembrar disso futuramente, assim como lembro todas as partidas que joguei (e jogo!) com meu pai!

    Quando novo, joguei muitos jogos absurdamente violentos só de se pensar, e nem por isso fui impedido de jogá-los. E nem por isso, sou um psicopata hoje. Muito pelo contrário. Gosto de jogos, independente de sua violência! Apenas avalio o seu enredo e, se não tiver um bom enredo, aí eu avalio a jogatina/diversão (Talvez seja por isso que não gosto de God of War!).

    Sei que o artigo é antigo, mas fiquei com dó dele porque não tinha nenhum comentário. HUEEEEE

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