Tretas de Hong Kong – Era uma vez, Shin Onigashima

  10/07/2012 - 16:01   Tretas de Hong Kong,  
 

Depois de uma pausa, a coluna volta a toda com mais um jogo japonês, bizarro e esquecido (ta, nem tanto) que ninguém se importa: Famicom Mukashibanashi: Shin Onigashima (Contos de Fada da Famicom: Nova Ilha dos Demônios), para, bom, Famicom.

Pra começar, acho que tenho que explicar rapidinho o que é exatamente uma Ilha dos Demônios e porque ela é nova. No folclore japonês existe a lenda de um garoto que nasceu de dentro de um pêssego, chamado Momotarou (Garoto Pessego), que depois sai por aí numa grande aventura para ser o mestre Pokémon para derrotar os demônios que aterrorizam uma caverna em uma ilha distante. Para isso, ele conta com a ajuda de um macaco, um cachorro e um faisão falantes.

A série Famicom Mukashibanashi é uma releitura dessas histórias antigas, com elementos um pouco mais modernos e um humor mais da época. A história começa seguindo o mesmo princípio, mas de maneira um pouco diferente: o garoto nasce de uma tigela de arroz que vinha flutuando pelo rio, e, além disso, ele tem uma irmã que nasceu do meio de um bambu (outra lenda japonesa, da Princesa Kaguya). Quando os irmãos completam 8 anos, um dragão aparece e transforma todas as pessoas de uma cidade próxima em demônios, chegando a afetar seus pais adotivos, um par de velhinhos, mas deixando as crianças ilesas. Após isso, a dupla sai em uma jornada para resgatar seus pais e derrotar o dragão.

Ao longo da jornada, personagens estranhos vão aparecendo. A maioria é uma versão alternativa de alguma figura de uma lenda antiga, como por exemplo Kintarou, que na lenda é um garoto forte e valente, mas no jogo é um garoto bizarro de óculos escuros, que por algum motivo fala inglês, acentuando um pouco mais o humor bizarro da narrativa.

Quanto ao gameplay, a parte interessante é que ele é um “text adventure” para NES, explicando de cara o motivo de nunca ter dado as caras pelo ocidente. Como todo bom “text adventure”, as opções normais de “falar, andar, interagir, etc” estão presentes, mas o diferencial aqui é a habilidade de trocar de personagem quando quiser (o garoto e a garota), o que pode levar a presenciar eventos ou falas diferentes dependendo do personagem que está usando.

Então, além de ser baseado em lendas especificamente japonesas, o jogo é um text adventure, tornando a compreensão plena praticamente impossível para qualquer ocidental que não estude bem a língua. Por que eu to falando dele então? Sei lá, deu na telha Porque, igual a Nazo no Murasamejou da última coluna, ele faz parte de um histórico interessante de jogos que a Nintendo mantém parados, mas que são homenageados sempre que possível. Fora que essa série tem algumas peculiaridades interessantes.

Por exemplo, ele foi um dos primeiros jogos no Famicom Disk System (aparelho pra ler disquete do Famicom) a usar a técnica de “Disco 1 e Disco 2″. Ou seja, quando você termina a primeira parte da história, tem que inserir o segundo disquete para continua-lá. O estranho é que os dois disquetes foram lançados em datas separadas, com quase 1 mês de diferença entre os eles e o disquete 2 só funciona com o termino do 1. Outro ponto interessante para o jogo é que ele foi um dos primeiros trabalhos de Koji Kondo, logo após Mario e Zelda, o que dá para notar na trilha sonora vibrante e diferente:


Som na caixa!

Além disso o jogo ganhou um “remake” para Super Famicom, também com divisão entre 2 cartuchos diferentes, com uma interface e gráficos melhorados, dando um charme diferente para o jogo. O que chama a atenção nessa versão é que agora a história é contada do ponto de vista dos animais que ajudaram o protagonista no jogo anterior. Além disso, a versão original está presente também.

Agora quanto aos protagonistas, Donbe e Hikari, eles vêm aparecendo faz algum tempo em outros jogos, com sua primeira participação especial sendo em Kirby’s Dreamland 3, em seus sprites originais de NES e tudo mais. Além disso, devem ser conhecidos por aparecerem como um troféu em Super Smash Bros Melee e por Hikari aparecer em Captain Rainbow, como um personagem importante para a trama. Ah sim, a série também é conhecida por ter a musica mais paulera em Super Smash Bros Brawl.


Som na caixa de novo!!1

Da mesma forma que Nazo no Murasamejo, Shin Onigashima é uma série que a Nintendo estima muito, mas não quer tirar daquele baú especial dela. Hoje em dia, com a internacionalização de tudo, não seria difícil um jogo desses vir para esses mares, mas não parece ter planos nem de uma nova versão Japonesa. O jogo até ganhou um “sucessor espiritual”, chamado Yuyuki, que é baseado na lenda de Son Goku (que pode virar tema de um Tretas futuro).

Infelizmente, nenhum fã doido teve a iniciativa de iniciar uma tradução para o jogo, então dificilmente essa série sairá do Japão. O que resta para nós é a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre os jogos e procurar entender o que representam para a história da Nintendo.

 

Sobre

Luiggi "Afro" Ligocky é um pseudo-artista que estuda a área de jogos digitais. É um adorador de jogos japoneses e bizarros desde a época em que ganhou seu Super Nintendo. Grande fã da Nintendo, Konami e Sega.

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