Escolhi a capa japonesa pois a americana é tosca pra cacete

NEW AGE RETRO GAMER #23
Shadow Dancer: The Secret of Shinobi (Mega Drive)
Sega
1990

Em idos do milênio passado, quando eu ainda um mero pivete de oito anos, participei de uma excursão de classe ao PlayCenter do Shopping Iguatemi, em Salvador. Lá eu e meus colegas recebemos um cartão com créditos ilimitados para utilizar em qualquer máquina que não entregasse cupons de prêmio (lembra daquelas porcarias? Você passava três semanas juntando e mal conseguia trocar por um Kinder Ovo). Durante as duas horas em que tive posse do cartão, tenho lembrança de alguns fatos, tais como jogar um game MUITO bizarro onde você pedalava uma bicicleta de verdade para flutuar um dirigível e estourar balões, deixar algum zé mané ir um round na faixa em House of the Dead e procurar, em vão, por um gabinete com o jogo The Simpsons da Konami.

O nome dessa atrocidade é Prop Cycle, e é da Namco. Eu também só descobri isso agora.

De todas essas lembranças, teve uma que me marcou: minha pífia tentativa de jogar uma partida de Mortal Kombat 4. Escolhi o meu lutador/cosplayer e, assim que começou o primeiro round, fui absolutamente DESTROÇADO pela AI do CPU. Acho que eu não consegui nem mandar um golpe sequer. Pra terminar com chave de ouro, o CPU filho da puta concluiu com um Fatality que triturou meu personagem em um ventilador. Aquilo foi escroto pois me ficou claro que a dificuldade tinha sido mandada pra puta que o pariu só pra fazer o jogador gastar várias fichas. Era uma tática vil que eu saquei ali na hora. Lentamente, dei meia volta e me afastei do enorme gabinete tão cabisbaixo quando o Charlie Brown em uma tirinha do Snoopy.

Falando nisso, vocês souberam que Arrested Development vai voltar?

O que eu quero dizer com isso é o seguinte: na época de ouro dos arcades, a regra era fazer o jogador usar o máximo possível de fichas para que este ou gastasse um bom dinheiro para terminar o jogo, ou desse logo lugar ao próximo mané na fila. Como resultado, você tinha regras arbitrárias no desenvolvimento do jogo que ditavam quanto tempo a pessoa deveria passar em cada partida. Dificuldade absurda, mortes após um só dano, duração curta e limites de tempo estavam entre os artifícios preponderantes.

Quando vieram os consoles de mesa, muitos desses aspectos arbitrários foram carregados até eles, sem muito questionamento do porquê deles estarem ali (tá vendo algum slot de ficha no seu Master System, por acaso?). Neste NARG nós falaremos de Shadow Dancer: The Secret of Shinobi, uma adaptação de um jogo de arcade para o Mega Drive que utiliza a maioria dos artifícios previamente citados.

SENTE A PRESSÃO AQUI É NINJA V1D4 L0K4 MANO

Shadow Dancer (Dançarino Emsombrado) é uma pseudo-sequência do famoso jogo de arcade Shinobi, desenvolvido pela Sega. A trama é mais ou menos isso: um grupo de terroristas invade a cidade, sai botando bombas em tudo quanto é canto (algo que terroristas geralmente gostam de fazer), e sobra pra nosso herói das sombras e seu husky siberiano salvarem o dia. Pra você ver como a história é de suma importância, eu tenho quase certeza que nenhum dos personagens dessa bagaça tem ao menos tem um nome. Por motivos de praticidade, chamaremos o ninja de “Frederico” e seu cachorro de “Snoopy”. Alguém tem um problema com isso? Não? Ótimo, vamos prosseguir.

“Vamos, Snoopy! Eu fico com a loira, enquanto você dá uns pegas no puliça ali”

Não vá se achando o fodão só porque você sabe tudo de Shinobi III, porque a parada aqui é um tanto diferente. A jogabilidade tem uma puxada bem mais similar com o Shinobi original (o do Arcade) ou então a série Rolling Thunder, da Namco. Shadow Dancer é um jogo de ação 2D onde você alterna entre dois planos e deve ser bem rápido e preciso para dar cabo nos inimigos.

A proliferação de ninjas na Estátua da Liberdade é um dos grandes problemas que o mundo enfrenta atualmente

São quatro estágios com três segmentos cada, os dois primeiros sendo ação/plataforma e o último uma batalha de chefe. O controle do jogo é  bem “truncadão”, meio como o primeiro Castlevania - aqui você não pula e depois pensa, você pensa antes de pular. Reflexos rápidos e boa memorização são essenciais, visto que qualquer errinho é o suficiente pra te arrombar. Terminar uma fase desconhecida sem morrer é quase impossível visto que seu posicionamento e conhecimento prévio são essenciais para o seu sucesso – não adianta você sair avançando por aí mais louco que o Goku que você vai terminar fatiado.

CHUTE NO SACO!

Frederico tem à sua disposição shurikens (aquelas estrelinhas japonesas, tá ligado), uma espada, chutes na mandíbula e um poder especial fuderoso que detona todos os inimigos da tela, mas só pode ser usado uma vez. Salvando os reféns espalhados pela fase você pode conseguir poderes mais fortes que ajudam um pouco a tarefa de dar cabo nos inimigos. Alguns capangas usam escudos e podem atirar por cima ou por baixo, cabendo a você saber a hora de fugir e atacar.

Não seria um jogo de ninja 16-bit se não tivesse a obrigatória CERCA QUE DIVIDE O BACKGROUND

Durante toda a fase você está na companhia deu cão Snoopy, que felizmente não está ali só de enfeite. Segurando o botão de ataque você carrega uma barrinha no canto inferior da tela, e largando na hora certa você pode mandar o Snoopy avançar no inimigo e paralisá-lo por uns instantes. Utilize essa habilidade no momento errado e Snoopy vai inexplicavemente encolher e se transformar em um shiatsu, lembrando você sobre como lógica de videogame não tem que fazer a menor porra de sentido.

“Quem é o Naruto aqui, hein? Toma shuriken, fidamãe!”

Se você já jogou qualquer um dos Shinobi que saíram mais tarde para o Mega Drive, talvez se decepcione ao ver como o design de Shadow Dancer é simplista. Shinobi representa uma evolução natural do que a jogabilidade da série apresentaria com o passar dos anos, principalmente no que se trata da utilização do cenário e ambiente como elementos constituintes do desafio. Shadow Dancer se mantém mais “preso ao passado” pois não evolui muito além do Shinobi original – é mais ou menos como a versão japonesa de Super Mario Bros 2, uma versão “tunada” do jogo anterior ao invés de um jogo totalmente novo e repensado.

Não existe muita liberdade para interagir com o cenário, por exemplo: ele é apenas uma planta excessivamente designada para as armadilhas e inimigos que você vai encontrar. Jogar Shadow Dancer é reconhecer e seguir um padrão. É um negócio menos fluido e mais exato, o que não quer dizer exatamente que seja algo ruim – é apenas diferente e, tecnicamente dizendo, mais arcaico.

“Maldito horário de verão! Acende a luz aí!

Shadow Dancer é um jogo de ação old-school pra caramba, o que, ironicamente, pode ser o que torna ele interessante para alguns. Ele não é dinâmico como Shinobi III. Deixando pouco espaço para erros, seu enorme ênfase em posicionamento, estratégia e precisão torna ele um jogo de ação quase mesclado com um puzzle, onde saber como agir em determinado momento é a chave para chegar em qualquer lugar (se for pra comparar com um esforço mais recente, ele parece um pouco aquelas fases mais escrotas de Donkey Kong Country Returns que não te permitem errar um pulinho).

Esse panaca é o último chefe. Não sabia que é falta de educação ficar sentado quando tem visita?

O jogo é curtinho e o desafio é alto, mas tá bem longe de ser um masoquismo ao nível de um Ghouls ‘n’ Ghosts da vida. A aventura de Frederico e Snoopy é uma boa pedida para quem ainda tiver a paciência de se aventurar na época em que a filosofia de design de arcades ainda era preponderante, mas sem precisar ter que gastar toneladas e toneladas de fichas para conseguir chegar até o final.

 - Shadow Dancer: The Secret of Shinobi está disponível para Mega Drive e Wii Virtual Console.

Tá faltando uma mulher aí, hein Frederico? rsrsrsrs calma cara era brincadeira guarda essa espada pfvr