NEW AGE RETRO GAMER #25
Sonic The Hedgehog 2 (Mega Drive, etc)
Sonic Team / Sega
1992
Quando eu analiso os jogos, tento fazer uma parada o mais imparcial o possível, mesmo sabendo que a imparcialidade plena é um conceito utópico. Ainda assim, acabou que o jogo desta semana é justamente o que eu menos poderia ser imparcial neste universo. Sonic The Hedgehog 2, um clássico que fez história na geração 16-bit, completou o seu vigésimo aniversário na semana passada. Sendo um jogo de tamanha importância gamística (e o primeiro jogo que eu me recordo ter jogado na vida, com uns 3 ou 4 anos) acho que uma homenagem é o mínimo que eu poderia fazer.
Lançado em 24 de Novembro de 1992, Sonic 2 foi o segundo passo da dominação do novo mascote da Sega em seu famoso Mega Drive. Deixando de lado o pobre mestre do Jô-Ken-Pô Alex Kidd, a empresa agora apostava no ouriço azulado e a sua supervelocidade para vender o peixe do seu poderoso hardware, com campanhas de marketing agressivas como o famoso “Genesis does what Nintendon’t“, e focando em um público mais adolescente, bem naquela pegada noventista. Pegando isso e somando à preferência das desenvolvedoras americanas pelo hardware do Mega Drive e àquela futura polêmica do sangue no Mortal Kombat, vieram daí as sementes que cultivaram aquele estigma de “companhia infantil” que a Nintendo carrega parcialmente até hoje (é que na cultura oriental isso é visto como um negócio “para toda a família”, enquanto o ocidente ainda carrega uma ideia pré-puberdade do que representa maturidade). Diferenças culturais e antropológicas de lado, fato é que ter o console da Sega naquela época era a parada dos moleques maneiros e pimposos.
O trabalho de Sonic 2 era continuar o legado do primeiro jogo, que já havia sido um puta sucesso e contribuiu pra Sega virar a mesa na guerra dos consoles. Mas como fazer algo que fosse uma continuação digna, e não apenas uma expansão? Expandido seu universo, oras: mais fases, mais segredos, mais personagens (eita D:), mais tensão, mais da porra toda. Desenvolver uma nova franquia não se resume apenas a criar um novo jogo após o outro, mas sim cultivar algo que vá fortalecendo o poder da marca em geral, principalmente quando estamos falando de um mascote. (tá certo que essa receita desandou pra caralho a franquia com o passar dos anos, mas olha, vamos ignorar isso pelo momento blz)
Não só o conteúdo do jogo em si, mas toda a estética que cercava o mundo de Sonic 2 era uma evolução. O primeiro jogo era um negócio mais “climão maneiro”, com tons mais claros e uns inimigos grandões e meio lerdos. A sua sequência tem todo o design visual é mais aguçado: cores mais fortes, fundos mais frenéticos e um leve redesign do personagem mostram um herói com mais audácia e cara de que veio botar pra fuder nessa porra (felizmente naquela época ele ainda sabia ficar de bico calado).
Enquanto o primeiro jogo tinha aquela cara mais felizinha e bacanuda, só ficando mais tenso lá pro finalzinho em Scrap Brain Zone, Sonic 2 é propositalmente bipolar. O ritmo mais constante é o de urgência (“Gotta go fast”!), mas vez ou outra vem uma fase completamente relax do nada. Já notou como Hill Top Zone, com suas rampas e ladeiras, quebra totalmente o ritmo das zonas anteriores? Ou como Sky Chase, com seu scrolling automático e velocidade de lesma, é a parada mais relaxante possível depois daquela escrotidão que é toda a Metropolis Zone? É proposital – essas fases funcionam mais ou menos como um anti-clímax narrativo.
Muito do que eu falei no parágrafo anterior também serve pra falar da música, que acompanha bem o clima das fases. A trilha sonora dos dois primeiros jogos foi composta por Masato Nakamura, membro da banda japonesa Dreams Come True. Como o primeiro jogo era mais relax, muito de música era ambiente. Algumas músicas do segundo jogo ainda possuem essa característica, como o jazz de Casino Night ou a melodia maconhada de Hill Top, mas a maior parte das composições tem um tom acelerado e frenético (a exemplo de Chemical Plant, Metropolis, e até Aquatic Ruin), que encaixam melhor no estilo mais dinâmico do segundo jogo.
E aí, tá achando que eu viajei demais nessas comparações? Se sim, só compara o tema do Special Stage dos dois games para você ver a diferença.
Eu acho que o grande mérito de Sonic 2 é que ele é o melhor uso da fórmula até hoje. O primeiro jogo era meio lerdo, com vários estágios estruturados a um modo que parava completamente o seu fluxo de jogo (lembra das plataformas móveis em Spring Yard, ou a lentidão de Labyrinth?). Já o Sonic 3+Knuckles tinha umas porras dumas fases que não terminavam nunca. Sonic 2 tem a velocidade, tem o platforming e tem o tal do momentum, todos bem delineados em sua extensão e dispostos de um modo que não enche o saco.
Dá pra dividir o jogo em três atos: o início, que vai de Emerald Hill até Casino Night, é fácil, veloz, e serve como introdução às mecânicas do jogo. O meio, seguindo de Hill Top até Metropolis, alterna o fluxo e aumenta bastante a dificuldade tendo mais inimigos e armadilhas – era nessas fases que você dava Game Over quando era moleque. O ato final, de Sky Chase até Death Egg e os créditos, é uma enorme preparação para a conclusão da história. Muitos jogos tem uma curva de dificuldade irregular, com picos inconstantes ou desafios finais irritantes, ou mesmo sendo fáceis do começo ao fim para minimizar frustrações. Olhando Sonic 2, você consegue ver um panorama completo de como a evolução do jogador era esperada em sua extensão, de um modo bem compacto e em uma aventura de menos de duas horas.
Voltando ao parágrafo anterior, vamos falar da memorável sequência final do jogo. O “endgame” de Sonic 2 envolve uma perseguição aérea, infiltrar uma nave inimiga, pegar carona em um fuckin’ foguete, ir pra uma base espacial, destruir um clone robótico e um robozão gigante e sair antes da base espacial explodir. Falando assim parece tosco, mas vamos lembrar de uma coisa aqui: isso era 1992. Dois anos antes, no Snes, o confronto final de Super Mario World era um encanador italiano jogando uns cadáveres de Koopalings no ar pra acertar o penico voador do Bowser. Pros padrões de 1992, o final de Sonic 2 era uma coisa épica pra caralho; e foram coisas desse estilo que cultivaram o status de “cool” da Sega. Pra mostrar como isso mudou as regras do jogo, pense que uns 2 ou 3 anos depois, você via a Nintendo contra-atacando com coisas incríveis como a conclusão de Super Metroid ou o último chefe de Yoshi’s Island. Entendeu agora por que concorrência é uma coisa maravilhosa?
É notável que a Sega queria que a sequência de Sonic The Hedgehog não fosse apenas uma sequência, mas uma completa evolução. Com a adição de Tails você tem o modo em 2 players, viabilizando o jogo cooperativo na mesma tela. Nasceu aqui também o Super Sonic, que é o über-extra dedicado aos que tiverem culhões de pegar todas as esmeraldas, mudando completamente a jogabilidade. E quando você lembra que ele é o jogo 2D com maior número de áreas que a série já teve até hoje (10 no total), tá na cara que o time tava tentando ao máximo fazer um jogo “definitivo” da série. Se o bicho já é massivo desse modo, imagina caso eles tivessem finalizado as quatro outras áreas que foram cortadas por restrições de tempo. É coisa pra caralho.
Hidden Palace Zone é certamente a área mais famosa das que foram cortadas. Ela é jogável em versões betas do jogo, mas por não ter sido finalizada, ela simplesmente “acaba” do nada em uma rampa gigantesca. Uma pena, pois o que há de jogável nela é bem divertido.
O que eu tenho a dizer é que, com toda sua maestria em design, Sonic The Hedgehog 2 hits the fucking sweet spot. É mais empolgante que o primeiro, é mais divertido que o terceiro (vsf Marble Garden) e Knuckles (você também, Sandopolis), e, bom… ele não é absolutamente esquizofrênico como o Sonic CD. Não vou dizer que ele é perfeito (as batalhas de chefe são meio chatinhas, vá), mas não vejo nele nenhum empecilho escroto que vá fazer alguém querer parar de jogá-lo antes do final.
Como bom (?) aspirante a psicólogo que sou, passei o resto da minha vida dizendo que a razão pela qual eu tenho pouca paciência pra jogos do Mario é por causa dessa porra. Vinte anos depois, Sonic 2 ainda é um jogo do caralho, e permanece como um clássico insuperável. Mas, convenhamos… não é como se você já não soubesse disso, né?
- Disponível pra Mega Drive e mais um bilhão de sistemas diferentes.
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