NEW AGE RETRO GAMER #35: Kirby’s Dream Land

  19/09/2013 - 18:15   kirby, NARG,  
 

 

Aqui vai uma coisa que você talvez não saiba sobre Kirby, a bolota rosada da Nintendo que copia poderes dos seus inimigos: no primeiro jogo da série, Kirby’s Dream Land, Kirby não era nem um pouco rosa. Ainda na época do lançamento do jogo, Kirby era branco, como pode ser visto na capa do próprio; reza a lenda que Miyamoto queria que o bichano fosse amarelo, enquanto o seu criador, Masahiro Sakurai (o de Smash Bros, sim), invocava que o rechonchudo ficasse com a cor rosa. Acabou que como isso era o Game Boy, ele ter ou não ter cor não mudaria porra nenhuma; e assim ele nasceu anêmico, e só foi ganhar o tom de rosa a partir do seu segundo jogo, Kirby’s Adventure, do NES.

Pode entrar, fica à vontade

Aqui vai uma segunda coisa que você talvez não saiba sobre Kirby: em seu primeiro jogo, ele nem ao menos podia copiar as habilidades de seus inimigos.


NEW AGE RETRO GAMER #35
Kirby’s Dream Land (Game Boy)
HAL Laboratories/Nintendo
1991

Aqui eu tenho um desafio; o de achar algo significativo para escrever sobre Kirby’s Dream Land, um dos jogos mais simples – no bom sentido – que eu já joguei. Ele é certamente um produto de sua era: direto ao ponto, compacto, descomplicado e assustadoramente curto. Isso era 1992. O gênero de portáteis como nós conhecemos mal estava engatinhando, e coisas como Tetris e Alleyway, cuja duração era de apenas minutos, era o que ditava a filosofia de design para jogos portáteis daquela época.

Inclusive, o Game Boy em seus primeiros anos sofria daquilo que chamo de “síndrome de PSP”: além de lar dos puzzles, quase todo o seu catálogo era formado por versões bem simplificadas de títulos famosões de console e jogos licenciados. Você não tinha jogos gigantescos para o portátil, tipo o Kirby Mass Attack, que tem conteúdo até dizer chega. Não foi até a época de Pokémon que jogos criados especificamente para ele, que duravam centenas de horas e faziam você trocar mil pilhas se tornaram “a thing”. Portanto, pra olhar Kirby’s Dream Land, é essencial manter em mente que jogos portáteis não faziam muita coisa naquela época – e isso era normal.

Quanta frufruzice meu deus

Simplicidade é uma palavra que já acompanha qualquer argumento sobre Kirby desde sempre; mas aqui, em Dream Land, ela alcança um novo nível. A bolota tem os poderes que você já bem conhece, como sugar os inimigos, flutuar feito um balão, etc etc – exceto a habilidade de copiar poderes dos inimigos. Ela simplesmente não existe aqui, e o jogo é feito de forma que não era pra ela existir mesmo. É incrivelmente confuso quando você percebe que a maioria dos inimigos conhecidos da série já estavam presentes aqui, eles com os seus poderes de sempre – o que quer dizer que os desenvolvedores não inicialmente pensaram em quais poderes seriam interessantes pra jogabilidade de Kirby, e sim o contrário – o que seria interessante eles pegarem emprestado dos inimigos que já tinham criado. Um paradoxo tão invertido no processo de criação que se eu não jogasse esse primeiro jogo, nunca passaria pela minha cabeça que foi essa a ordem que as coisas aconteceram.

Não vale fazer pergunta de duplo sentido

Em KDL, você vai avançando pelo cenário, sugando e engolindo e cuspindo os inimigos à sua própria vontade. Como o poder de copiar não existe, os inimigos constantes se tornam a sua própria munição; um esquema de jogabilidade quase opcional nos jogos posteriores é meio que a ordem por aqui. É legal também ver que aquele golpe onde Kirby exala ar ao “desestufar”, que atira uma rajada de vento que machuca os inimigos, já existia aqui e é um tanto quanto essencial, à medida que nos jogos posteriores a habilidade permanece mesmo que você não precise usá-la quase nunca.

BOMBA, para dançar isso aqui é: bom-ba

As poucas vezes que você pode executar um ataque contínuo é através de itens especiais, como um prato de curry que faz você cuspir fogo e um limão (?) que te faz flutuar continuamente. Estes itens marcam presença ao lado de outros conhecidos, como o microfone e o pirulito da invencibilidade (sério, quem pensou nisso?).

COMO UMA DEUSAAAA VOCÊ ME MANTÉÉÉM

A meta de KDL é que você trafegue os seus poucos e criativos níveis sobrevivendo para enfrentar o único real desafio no final da fase, um dos seus famosos chefes. Com isso, o level design é muito bacana, e apesar de simplérrimo, é um tanto mais interativo que a maioria dos jogos onde a mecânica da jogabilidade é chave e o cenário é meio “tanto faz”.

O jogo foi obviamente feito por um time muito pequeno, coisa de 10 pessoas, e o intuito deles foi fazer algo que fosse bem acabado para o portátil: se o jogo é curto de doer, ele ainda é bastante divertido, e excede nos níveis técnicos, com as composições clássicas da série ganhando primeira vida aqui (e em boa qualidade sonora, algo raro no portátil) e cenários cheios de expressividade, detalhes de fundo e bom uso da limitada escolha de cores do Game Boy original para criar um look característico. E o fato do Kirby só ter dois frames de animação pra quando tá cheio é certamente um dos meus toques de estupidez favoritos (rivaliza pau-a-pau com a talentosa família Belmont no quesito “parecer um completo imbecil enquanto caminha”).

HUE HUE HUE SEU GORDO

O único ponto que é passível de real crítica é, como já foi um tanto mencionado e contextualizado nesse texto, a sua curta duração. Kirby’s Dream Land é um jogo MUITO curto – coisa de uma hora pra se terminar. Compará-lo ao mundo de hoje, onde jogos Free to Play duram 723 horas e você compra um AAA pelo preço de coxinha no Steam, seria uma puta covardia.

São apenas cinco áreas principais, cada qual com um chefe no fim, e a maior parte dos cenários é incrivelmente fácil. O único real contraste vem no último chefe do jogo, que é bem complicadinho e até difícil, exigindo bons reflexos e muita atenção. O jogo foi claramente desenvolvido com crianças em mente – e com o Game Boy. É o tipo de jogo que um moleque jogaria no carro em uma curta viagem com os pais. Sendo um adulto, esse é o tipo de jogo que serve pra você matar o tempo em uma ou duas viagens de metrô – considerando que você não esteja nem aí para o que as pessoas ao seu redor possam pensar ao ver um brutamontes de seus vinte e tantos jogando um game com uma bolinha fofa que estufa. (DISCLAIMER: e que fique claro que eu joguei essa parada toda dentro de um ônibus lotado e sacolejando pra caralho)

Considerando que é Game Boy, isso tá bem bonitão

E ainda assim, mesmo com essa duração diminuta e simplicidade extrema, eu recomendaria Kirby’s Dream Land. Ele é sem dúvida um jogo de seu tempo, mas é um jogo agradável e bem divertido. Se algo, sua maior qualidade é mostrar como é possível fazer um plataformer decente e interessante com o mínimo de complicações possíveis – através de uma boa interação e design criativo. Vale pela curiosidade de conhecer como nasceu o famoso personagem, pra entender a força de um level design e atenção aos detalhes, ou simplesmente pra matar uma horinha ou duas de forma despreocupada.

CORTA A BEBIDA GARÇOM

E ah, antes que eu esqueça, aqui vai uma terceira coisa que você talvez não saiba sobre Kirby: é que você, de um modo ou de outro, provavelmente já jogou Kirby’s Dream Land, ou ao menos uma versão bem modificada dele. Ele é o primeiríssimo jogo que aparece na compilação Kirby Super Star, do SNES.

É, eu também me senti bem idiota de só ter percebido isso no final.

- Disponível pra Game Boy e pro Virtual Console do 3DS.

 

Sobre

Rodrigo "Rod" é de Salvador, Bahia. Estuda psicologia mas finge ser comunicador. Acha que entende alguma coisa sobre design de games.
  • https://www.facebook.com/cesardka César Hoffmann

    Esse jogo é maravilhoso e o Kirby é um mascote que deve ser muito mais do que respeitado! Amo de paixão desde pequeno os jogos dele e sempre que posso compro algo relacionado a ele.

    Recentemente comprei na eShop o Kirby's Dream Land 2 e estou louco para ver uma resenha desse jogo que é genuinamente fantástico!

    Uma franquia sem falhas, eu diria. Nunca joguei um jogo do Kirby e achei chato ou feio.

    Parabéns, GAMESFODA.

  • Anarcker

    Sim, Spring Breeze é meio que um "remake" desse jogo. E no remake do Super Star de SNES que saiu para Nintendo DS, tem um jogo chamado "The Revenge of the King" que pega alguns chefes do KDL que não foram usados no Spring Breeze, meio que "completando" o remake com um boss final bem pior que o do game boy ou do Spring Breeze mesmo. 😛

  • leandrobelmont

    Kirby é awesome, o mascote mais macho da Nintendo, praticamente "come" todo mundo. hehehehe

  • Pingback: Esta semana em GAMESFODA – A Edição dos Ratinhos! | GAMESFODA

  • https://www.facebook.com/pulsotwero Samir Montalvão Fraiha

    Eu tinha jogado o Super Star, mesmo sabendo que era um remake colorido do primeirão do GB.
    É um jogo de plataforma muito bom, moderadamente difícil (não muito), músicas muito marcantes, possibilidade de ter poderes foi muito bem utilizado.

    A última batalha em específico me deixou eufórico. Digo, a forma como o cenário corre pela tela, a movimentação única do Kirby, é tudo muito épico e frenético.

    Foi uma ótima experiência.

  • Pingback: Esta ano em GAMESFODA – O Ano do Luigi! | GAMESFODA

  • http://www.gamegenius.cjb.net Leonardo Soler

    fala leandro!

    cara to procurando contato contigo e não consigo! Se puder dar um sinal de vida me manda um e-mail leonardo-leoss@hotmail.com

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