Dos textos rimados à arte simpática que lembra ilustrações de um livro infantil, logo de cara fica claro que o objetivo de Child of Light é fazer você se sentir dentro de um conto de fadas. E assim como em muitos desses, o personagem principal é uma criança, um garotinha chamada Aurora, a tal “criança da luz”, que está perdida em um mundo mágico de fadas, criaturinhas e coisinhas bonitas.
Tentando voltar pra casa, Aurora viaja por todo o mundo/reino/continente de Lemuria, parando em vários lugares e juntando companheiros para sua viagem, cada um com um problema diferente pra ser resolvido.
Talvez você já tenha ouvido essa premissa antes em uma série sobre fantasias e finais ou em basicamente qualquer RPG vindo do Oriente. E isso é porque, apesar de ser produzido no Canadá, Child of Light é essencialmente um JRPG. Assim, sem vergonha nenhuma, inclusive chamaram o Yoshitaka Amano pra fazer uma arte especial pro jogo:
E te cuidem japoneses, porque é um JRPG bom. É sim um RPG simplificado, mas nem tanto. Child of Light é aquele tipo de jogo com poucas variáveis mas que sabe como explorar bem essas variáveis. Não é porque ele tem esse jeitinho delicado e suave que ele é fácil, inclusive é até estranho o contraste entre a historia de uma garotinha num mundo mágico e a dificuldade das batalhas, principalmente lá pro final.
Aurora é acompanhado o tempo inteiro de um vagalume (uma luzinha com olhos que flutua mas no texto tá “firefly”) que fora das batalhas abre portas e te ajuda a resolver puzzles (baseados em luzes e sombras) e dentro delas te ajuda restaurando a sua vida e deixando os inimigos mais lentos. Sabendo usar essas habilidades dele, as batalhas do inicio do jogo ficam ridiculamente fáceis. Isso porque o combate não é exatamente por turnos, mas sim por tempo. Como você pode ver na figura acima, a barra ali em baixo da tela mostra quanto tempo falta pra cada um poder usar uma ação. Quem está no “CAST” está executando uma ação (atacando, usando uma magia ou um item) e se ele for atacado enquanto estiver aí, a posição dele volta toda a não ser que você esteja se defendendo! Isso torna Child of Light um dos poucos RPGs que eu joguei onde o comando “defesa” é realmente importante (estão autorizados a fazer uma lista com um monte de RPGs obscuros onde isso também é verdade, não ligo).
O efeito colateral disso é que sabendo atrasar os inimigos nas horas certas (cada um tem uma velocidade diferente) e sabendo quais ataques usar (que também tem velocidades diferentes que variam pra caralho) as batalhas ficam bem mais fáceis. Dá pra ganhar algumas até sem deixar o inimigo atacar nenhuma vez. No final do jogo, saber usar isso é essencial ou quem pode ficar sem conseguir atacar nenhuma vez é você.
Também está em jogo um sisteminha de ataques de água, fogo e luz a la Chrono Trigger. Os monstros tem resistência e fraqueza a algum tipo de magia e você ainda pode equipar umas pedras pros seus ataques terem dano de fogo, água e luz (e inclusive só isso que você pode equipar).
Ou seja, é tudo bem basicão, mas dá pra fazer muita estratégia em cima desse basicão.
Bom, eu já enchi o post de imagens pra não precisar explicar porque o jogo é uma das coisas mais bonitas que eu já joguei. Então vamos para o próximo ponto.
A história não é aquela coisa épica cheio de reviravoltas de pirar o cabeção mas é bonitinha e com um final que me deixou satisfeito. O jogo já começa falando de um rei e de uma madrasta então os clichês são esperados, tanto de contos de fadas quanto de JRPGs. E aí vem minhas maiores queixas com o jogo.
Pra um titulo distribuído exclusivamente de forma digital da Ubisoft, ele é até bem grandinho, foram umas boas 9 horas aqui. Mas ainda sinto que ele poderia ter sido um pouco maior e o seu enredo melhor explorado, principalmente no que diz respeito aos personagens da sua party. Child of Light ainda é bem linear e a maioria dos problemas dos personagens se resolvem sozinhos, nessa linearidade. Até perto do final do jogo você ainda vai agregando gente e simplesmente não dá tempo de todos eles se tornarem interessantes e/ou uteis. O jogo tenta empurrar uns diálogos entre todo mundo sempre que entra alguém novo, mas não convence. Fora que dá pra passar tranquilamente o jogo inteiro usando o velhinho que solta magias dos 3 tipos e só… talvez nem seja uma queixa válida pra você que está pensando no sistema de batalhas mó legal que eu descrevi mas é uma coisa que eu valorizo, até porque são pouquíssimos os JRPGs que conseguem ter um leque grande de personagens relevantes tanto na questão de background/personalidade quanto na hora do quebra quebra mesmo.
Child of Light não é perfeito, não é o melhor RPG eu já joguei. Mas é sim um jogo muito bom, muito charmoso, com um combate excelente e puta que pariu como é bonito!
Definitivamente o melhor RPG japonês já feito em Montreal.
Child of Light está disponível para Xbox 360, XONE, PC, PS3, PS4 e Wii U.