Embora seja meio triste em desvendar qual foi a minha visão ao escrever o review das duas primeiras partes de The Walking Dead: Season 2 (já que ao termina-lo acabei percebendo que poderia ter diversas interpretações e leituras), acho que é necessário para uma continuidade na análise dessa temporada.
Meu ponto é que a série toda, desde seu início, tem um enorme metáfora para uma vida normal. Os conflitos existentes na convivência em grupo e a vontade de sempre continuar seguindo em frente apesar dos pesares. Os zumbis são apenas uma desculpa para catalisar as emoções, para aflorar o pior que existe em cada resolução, trazendo a necessidade da remoção de máscaras e temperança.
Quando eu vi a prévia do terceiro episódio (que é mostrada após você terminar o segundo) não consegui me impedir de imaginar meu próprio caminho para a série com aquilo que me foi apresentado. Isso acontece com diversas séries e filmes, onde ao ver apenas alguns pedaços você acaba bolando suas próprias ideias de como aquilo deveria ser no final das contas.
Obviamente não posso (ou não quero) fazer uma análise em cima das minhas expectativas do jogo, e sim simplesmente do que o jogo é. Mas, sendo bem sincero, esse terceiro episódio seria bem melhor do jeito que estava na minha cabeça.
Eles tinham absolutamente tudo o que precisavam nas mãos para manter essa ideia básica de relacionamentos no mundo real versus ficção extrapolada pós-apocalíptica. Melhor: eles tinham a chance de dar um passo adiante e incrementar esse conceito de uma forma que não havia sido feita até agora nem mesmo nos quadrinhos. A decisão final foi deixar essas ferramentas de lado e abordar uma saída bem mais simplória e, de certa forma, até previsível após os primeiros momentos de tensão.
O foco desse terceiro episódio é ter que ceder a um antagonista por não haver outras opções. Nas cenas que antecipavam esse episódio víamos o vilão conversando com Clementine, passando a real pra ela sobre coisas da vida. Isso se encaixa no padrão: muitas vezes somos obrigados a conviver e manter contato com pessoas que não apreciamos, ou às vezes que nós nem mesmo toleramos. Explorar um pouco mais esse conflito seria fantástico, mas não foi a solução abordada.
Interessante notar que em uma série que aborda dualidade de uma maneira tão densa, eles decidiram, no único momento em que poderiam fazer esse cenário de convivência forçada soar natural, fazer o maior preto no branco mostrado até aqui. O antagonista apresentado não é um cara com uma atitude ruim por trás de uma impossibilidade de ser diferente, ou uma pessoa que se transformou ao conviver com a nova realidade fodida do mundo. Não, o cara é o puro Hitler.
Se você acompanhou a segunda temporada até aqui, consegue ver que, talvez, essa escolha não era bem o planejado de início e quem sabe a minha imaginação estava certa quanto ao rumo que eles gostariam de tomar. Mas o fato é que as decisões foram tomadas e, em uma franquia marcada por personagens absurdamente humanos e compreensíveis (até mesmo em seus momentos mais sombrios), a presença de um único antagonista sem propósito para suas crueldades acaba dinamitando a harmonia da história.
Lembram-se do cachorro no primeiro capítulo que Clementine encontrou após estar arrebentada por cagadas mil que faziam parecer a morte do seu pai parecer um sonho distante? Em meio à solidão aterradora e falta de prospectivas ela (e por tabela o jogador) decidiu acreditar que ele era um ser manso e calmo, quando na verdade era um cão ensandecido pela fome e o abandono.
Pois bem, aqui desde o começo você quer acreditar que Carver, o já mencionado antagonista, é pura maldade e escrotidão. E é isso ai mesmo, nada mais. O cara é aquela filha da putisse toda, e não existe nenhuma camada abaixo disso. Nada é revelado sobre motivos mais profundos para ele ser assim, nenhuma razão lhe é conferida aos seus atos. Nem mesmo psicopata o cara se mostra ser, é simplesmente um lafranhudo sem tamanho e sem motivo algum.
Carver acaba sugando boa parte do episódio com sua falta de tempero, que leva todo o resto dos personagens e da narrativa a recorrerem a outras ferramentas muito gastas de roteiro, e discussões acompanhadas de escolhas pouquíssimo interessantes.
Entretanto não é algo como em The Wolf Among Us, onde eu sinto que as coisas estão disparadas ladeira abaixo. Aqui, no finalzinho do episódio, você sente que o caminho ainda está lá e que ainda dá pra seguir a trilha rumo ao ouro. Mas independente disso praticamente noventa por cento desse capítulo soa como um desvio enorme, no bom e velho clichê: apenas pra encher linguiça.
Sem querer dar spoilers e estragar o episódio para alguém, posso dizer que pelo menos o vilão acaba por gerar uma das escolhas de moral mais interessantes da franquia até o presado momento. Não pela escolha em si (que na verdade nem faz muito sentido se você for analisar a fundo) mas pela maneira como ela é apresentada, e como ela diz muito mais sobre o jogador do que sobre a personagem que ele está controlando.
Sendo esse episódio um pequeno tropeço à parte, The Walking Dead da Telltale ainda é um prazer em ser jogado e, quem sabe, as reclamações e reflexões rígidas sejam pelo mau costume que a empresa nos deu ao criar um nível tão alto com seu material anterior. Vamos aguardar o próximo capítulo para ver se as coisas voltam nos trilhos, ou se eles vão embarcar no barco afundando do amigo Lobo Mau.
Pingback: ESTA SEMANA EM GAMESFODA – A Edição do Gugu’s Taxi | GAMESFODA