Qualé a desse tal de… Hack’n'Slash

Existe um tipo de jogo que eu gosto de chamar de “jogo de programador”. É, como o nome diz, aquele jogo que é feito inteiro por um programador. O código, a arte, o game-design, a música, tudo! É algo que se vê muito, principalmente em game jams e o resultado disso é quase sempre um jogo com um foco e um cuidado muito maior na programação e nas suas mecânicas do que no resto.

Hack’n'Slash acaba sendo um jogo de programador em vários sentidos. O foco dele está quase todo na sua mecânica peculiar, que é o fato de você poder interagir diretamente com o próprio código do jogo!

Resumidamente, Hack’n'Slash é uma aventura zeldaresca onde o jogador deve progredir hackeando o mundo pra superar os desafios que aparecem. Mas hackeando mesmo, mexendo nos arquivos do jogo e reprogramando a coisa toda, alterando variáveis e funções a torto e direito.

Ao acertar um inimigo com a sua espada-usb, você não machuca ele, mas ganha acesso às suas variáveis onde pode simplesmente setar “morto” para “verdadeiro”  e, voilà, ele estará morto. Você também pode alterar a variável “facção” de “mal” pra “bom” e ele passa a atacar os outros inimigos, ou ainda reprogramar o dano do seu ataque pra 0, tornando-o inofensivo. As possibilidades são bem grandes e dá pra passar um bom tempo brincando com isso.

E isso é só no começo do jogo. Aos poucos esse nível de controle vai aumentando, ao ponto de você conseguir acesso ao código do jogo mesmo e ter que alterá-lo pra conseguir passar de algumas partes. Claro que existem algumas restrições e o jogo dá uma facilitada em como você tem acesso ao código, mas tá tudo ali. Eu mesmo consegui travar o jogo algumas vezes tentando passar de um quebra-cabeça e vi relatos por aí de gente que conseguiu pular a luta com o último chefe só alterando os códigos.

Mas, como eu disse antes, jogos de programador costumam ter um foco muito maior nas suas mecânicas do que no resto. E infelizmente um jogo não é feito só de mecânicas.

Hack’n'Slash é uma ideia muito interessante, mas tudo parece meio limitado e mal acabado. Você não encontrará mais do que uns três tipos de inimigo, umas quatro áreas diferentes, bastante repetição, sprites se atravessando em um cenário confuso, vários itens com funções diferentes usando o mesmo ícone e umas três músicas só durante o jogo inteiro. A impressão que passa é que foi tudo feito meio na pressa.

O design também parece sofrer deste mal com itens mal utilizados e puzzles mal distribuídos. A curva de dificuldade dispara de uma hora pra outra te jogando de códigos simples feitos pra ensinar programação pros códigos reais do jogo lotados de funções dispensáveis pro jogador e que podem assustar quem não tem experiência programando.

Qualé a desse tal de... Hack'n'Slash

No entanto é bom destacar o design dos personagens e monstros do mundo, quase sempre inspirados em Zelda e bem detalhados com portinhas USB e coisinhas “computadorescas” que justificam a possibilidade de reprogramação. A história e o mundo do jogo encaixam toda a ideia de hacking de forma natural em um mundo de fantasia medieval, mostrando mais uma vez o que a Double Fine sabe fazer de melhor: criar mundos criativos e únicos.

Para o bem ou para o mal, no final do jogo eu realmente me senti como se estivesse procurando por bugs pra corrigir num código complexo de um jogo. Se o que a Double Fine queria era fazer você se sentir como um programador um hacker e mostrar como funciona um jogo, fizeram um bom trabalho aqui (inclusive me deu umas ideias e me ensinou umas coisas). Mas como jogo mesmo… erm… Hack’n'Slash é um experimento interessante, tem seu charme e um conceito legal, mas fica aquele sentimento de que ele poderia ser muito mais do que só um “jogo de programador”.

Hack’n'Slash está disponível para Windows, Mac e Linux por R$36.99 no Steam e na Humble Store.

PS: Tem jogos feitos só por programadores muito bons por aí, nada contra programadores, inclusive eu sou um.

Tuba

Sobre

Arthur “Tuba” Zeferino é co-criador do site, programador e brother indie.

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